Com o agravamento da situação jurídica, aumentou o movimento para que Bolsonaro desista publicamente de se apresentar como candidato à Presidência em 2026, ainda que inelegível, e declare apoio a um nome como Tarcísio.
Há um sentimento majoritário, entre dirigentes partidários que discutem com Bolsonaro uma candidatura de oposição a Lula, de que o ex-presidente erra ao insistir em se colocar como candidato. Segundo essa interpretação, ele deveria abrir mão da pretensão e se apresentar como fiador de um grupo unificado à direita.
Com o enfraquecimento de sua posição política em decorrência da série de investigações, no entanto, representantes do Centrão se veem com mais capacidade de ditar os rumos do debate, o que pode beneficiar o governador de São Paulo.
Uma avaliação no União Brasil e no PP, além da ala do MDB próxima da direita, é que posturas como a do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — que tem feito defesa das tarifas anunciadas por Trump — só atrapalham os planos eleitorais da direita.
Governador de SP
É por esse caminho delicado que Tarcísio vem se movimentando. Em um primeiro momento pós-tarifaço, ele atribuiu a culpa a Lula, mas com a ampla rejeição à medida, promoveu um ajuste no discurso e tentou se mobilizar como alguém disposto a resolver. Teve reuniões com empresários e com o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, o que gerou um atrito com Eduardo. Anteontem, num gesto em direção ao bolsonarismo, defendeu o ex-presidente em publicação nas redes sociais.
— A candidatura desse campo vai partir do centro para a direita. Defendemos uma candidatura única, e Bolsonaro é o principal nome deste campo. Mas é claro que colocaremos nomes, debateremos um consenso com o ex-presidente — diz o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, cobrando uma escolha em comum acordo e reforçando o papel dos partidos de centro na decisão.
Antes mesmo da operação, Bolsonaro vinha tentando se descolar do desgaste do tarifaço. Setores próximos ao bolsonarismo, como o agronegócio, fizeram manifestações contra a medida do líder americano, que citou supostas “perseguições jurídicas” ao ex-presidente. Bolsonaro reuniu nesta semana alguns dos seus principais aliados em Brasília, com o desafio de fazer com que as bancadas não o associassem à taxação. O presidente nacional do Progressistas, Ciro Nogueira (PI), e Rueda, do União Brasil, estiveram com ele a portas fechadas.
Ainda em um esforço para não perder apoio dos partidos de centro e de olho em uma candidatura de centro-direita em 2026, Bolsonaro estendeu as conversas ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, a quem pediu para reforçar o discurso de que não é responsável pelas atitudes de Trump durante conversas com aliados. Aos presidentes de partidos, Bolsonaro externou preocupação ao ver parlamentares o associando às falas de Eduardo.
Ciro Nogueira reconhece o cenário ruim hoje, mas diz que, mais que um nome, é preciso garantir que os partidos estejam unidos nas eleições presidenciais do ano que vem.
— (Quem vai ser candidato) é uma coisa imprevisível. Posso dizer que vamos trabalhar para unificar o campo do centro e da direita. Essa é a menor das preocupações agora, com essa confusão que está no país — declarou o presidente do PP.
Em sinalizações de desalinho, O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicamos-PB), e líderes da Casa também não se comprometeram a tentar achar uma solução para Eduardo, que está nos Estados Unidos e afirma temer ser preso se voltar ao Brasil, para exercer o mandato de forma remota. A licença dele termina hoje. Após esse período, o filho do ex-presidente começará a tomar faltas não justificadas, caso não volte ao Brasil.
Projeto de anistia
Outra pauta bolsonarista, a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, não tem perspectiva de avançar no Congresso. Mesmo assim, o plano por ora dos partidos de centro e de centro-direita não é lançar um candidato à revelia do ex-presidente. Há um trabalho entre essas legendas de construção para que Bolsonaro apoie o governador de São Paulo, algo que ele ainda não demonstrou fazer, o que pode comprometer seu mandato a partir de agosto — quando as sessões da Casa retornam.
O ex-presidente teve mandados de busca e apreensão expedidos na sede do PL e em sua casa, em Brasília. Por determinação da Suprema Corte, terá que usar tornozeleira eletrônica e se afastar das redes sociais.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) disse que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro vai ser uma espécie de porta-voz do marido.
— Ela é a mulher que vai nos conduzir. Ela é a líder da oposição, a nossa líder. Enquanto ele (Bolsonaro) estiver em silêncio, ela fala — disse.
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