Do Jornal do Commercio
O empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM, concedeu entrevista exclusiva ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta segunda-feira (27), na qual falou sobre a trajetória de 90 anos do grupo empresarial, detalhou as necessidades estruturais para impulsionar o crescimento do Nordeste e analisou o atual cenário político, tanto em Pernambuco quanto no âmbito federal.
90 anos: o sucesso do grupo JCPM
O empresário, de 87 anos, afirmou que a longevidade do grupo JCPM no Nordeste, resistindo a diferentes cenários políticos e econômicos, se baseia fundamentalmente no trabalho e em um rígido código de conduta. “O segredo é trabalho. Você tem que ter um comportamento ético muito forte para atingir os objetivos”, afirmou Paes Mendonça, ressaltando o valor da conduta nos negócios.
Leia maisA trajetória do grupo, que hoje se destaca em diversos segmentos, começou de forma humilde em 1935. “Começamos no povoado da Serra do Machado, numa pequena mercearia. Fomos saindo da Serra do Machado para Ribeirão, de lá para Aracaju, depois Recife”, detalhou.
A chegada à capital pernambucana, um marco na história da companhia, ocorreu em 1966 com a inauguração da primeira unidade de supermercados do grupo na cidade.
A história pessoal de João Carlos Paes Mendonça é intrinsecamente ligada à construção do conglomerado. “Comecei a trabalhar muito novo, com 9 anos de idade junto com meu pai. Com 13 anos eu já era metido a comprador, e com 18 anos eu já era gerente geral da empresa e meu pai era o Big Boss, o chefão”, contou, complementando que, “com 20 anos já fui sócio do meu pai, daí nós fomos crescendo e chegamos no Recife.”
Questionado sobre como a empresa conseguiu se manter forte e sólida no Nordeste, enfrentando presidentes dos vários tipos, Paes Mendonça voltou a enfatizar a dedicação contínua e a importância dos relacionamentos. “Tenho 87 anos de idade, não é brincadeira, é um trabalho muito grande que a gente realizou, sempre foi muito trabalho, ética, relacionamento com as pessoas, comunidade, com os clientes”, salientou, frisando os elementos que considera cruciais.

Desenvolvimento do Nordeste
Paes Mendonça expressou otimismo cauteloso com o cenário econômico atual, e manifestou preocupações com a perspectiva fiscal e a falta de planejamento de longo prazo no país. O empresário reconheceu o cenário positivo para a economia e geração de empregos em 2025, mas alertou para as incertezas futuras.
“Não sei se 2026 como vamos crescer, porque esse ano já está com um problema fiscal muito forte, o governo gasta muito porque está toda hora apresentando projetos para angariar mais simpatia,” afirmou.
Outro obstáculo apontado por ele foi a burocracia. “É uma má vontade para aprovar um projeto, é um negócio que passa anos e anos, é um atraso”, lamentou o empresário, comparando o desenvolvimento de diferentes regiões do país, citando São Paulo como exemplo.
“São Paulo é uma maravilha, você vibra com São Paulo, tem estradas em todo lugar, tem 8 ou 10 vias importantíssimas. Pernambuco não tem nada. A última estrada foi feita por Jarbas Vasconcelos, a BR-232… Agora é que estão saindo algumas estradas depois de tantos e tantos anos, mas a própria 232 não tinha nem manutenção”, pontuou.
Paes Mendonça defendeu que a região priorize investimentos estruturais para o crescimento sustentável. “A gente precisa repensar o Nordeste. Aqui ficamos felizes da vida quando recebemos qualquer coisa do governo, mas não temos infraestrutura. Precisamos no Nordeste de infraestrutura e não tanto incentivo para atrair as indústrias. Precisamos de mercado de consumo para que empresas tenham condição de se instalar e que as pessoas tenham poder de compra”, analisou.
Necessidade de infraestrutura
Ao discutir o futuro econômico da região, o empresário abordou a necessidade de direcionar os recursos federais e da Reforma Tributária prioritariamente para a infraestrutura, um fator crucial para a retomada da liderança de Pernambuco.
O foco dos investimentos, segundo ele, deve ser claro: “O que é que se tem que fazer com esse dinheiro? Estradas, água, portos, aeroportos, criar polos industriais”, exemplificou. “O que não pode é dar a mamata que todo mundo quer. Se não tiver infraestrutura, que nós não temos, outros estados têm… Precisamos realmente cuidar fortemente da infraestrutura.”
O empresário novamente citou a burocracia como grande entrave para o desenvolvimento de projetos essenciais, mencionando como exemplo o Arco Metropolitano. Em contraste com a lentidão dos projetos públicos, Paes Mendonça destacou iniciativas privadas que conseguiram transformar o cenário urbano. “Precisamos de pragmatismo para Pernambuco sair do estado em que está, voltar a ser Leão do Norte, Recife voltar a ser a capital do Nordeste. Precisamos trabalhar para isso”, defendeu.
Política precisa atrair novos nomes
O presidente do Grupo JCPM manifestou esperança nos novos rostos da política, mas fez um alerta sobre a dificuldade de atrair talentos para a vida pública. Ele, que acompanhou a trajetória de muitos políticos famosos ao longo de sua vida, disse que atualmente existe uma nova geração promissora. “Temos esses jovens muito bons, temos esperança que eles realmente cresçam”, observou.
No entanto, o problema central, segundo ele, é a dificuldade de trazer ainda mais novas lideranças para o sistema. Sobre isso, ele criticou o modelo de sucessão política vigente.
“O problema é que as pessoas não querem entrar na política, o que hoje se vê é de pai para filho, de mãe para filho. Precisamos criar uma nova frente de jovens que saiam da universidade, do meio empresarial, para se tornar políticos de maneira diferente. Queremos que Pernambuco assuma papel de liderança”, analisou.
Questionado sobre como observa o trabalho de duas lideranças pernambucanas atuais, a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), ele disse torcer pelo sucesso dos gestores.
“Essas duas pessoas estão trabalhando para crescer na política, torcemos para que eles façam um bom trabalho, que resolvam os problemas das pessoas, e não dos políticos”, declarou.
Compromisso social
Ainda na entrevista, João Carlos Paes Mendonça também destacou os projetos sociais desenvolvidos e mantidos pelo Grupo JCPM. Um dos projetos do grupo, a Fundação Pedro Paes Mendonça, beneficia cerca de 2 mil pessoas com ações contínuas nas áreas de educação, saúde, cultura, juventude, cidadania e sustentabilidade para moradores da Serra do Machado, cidade natal do fundador, e de povoados vizinhos.
Segundo Paes Mendonça, a estrutura possui recursos aplicados e garantidos até 2035, assegurando que o trabalho não pare e que a próxima geração da família continue a missão.
Outro projeto do grupo, o Instituto JCPM, sediado no Recife, foca no apoio a jovens de 14 a 24 anos da rede pública, visando o desenvolvimento para a universidade ou empreendedorismo. Atende a cerca de 9 mil jovens por ano em quatro capitais do Nordeste, com foco na preparação para o mercado de trabalho.
Em 2024, o projeto recebeu investimento de R$ 18 milhões. “Não temos incentivo fiscal, não aproveitamos lei nenhuma para esse trabalho. Tiramos do nosso, com muito prazer”, explicou João Carlos.
Ao explicar os trabalhos, o empresário fez questão de traçar uma distinção entre os termos “responsabilidade social” e “compromisso social”. Segundo ele, a responsabilidade social é algo que o empresário “tem que cumprir, é o dever”, um patamar de obrigação. Já o compromisso social transcende o dever legal ou moral, sendo uma ação voluntária. “Compromisso social você faz se você quiser”.
Para o presidente do Grupo JCPM, os projetos se enquadram como um genuíno compromisso, impulsionado por valores pessoais: “É gostar de gente, respeitar as pessoas e ter coração”.
Futuro do grupo
O presidente do Grupo JCPM encerrou a entrevista projetando o futuro da organização. O empresário reafirmou o compromisso de conduzir o grupo rumo ao centenário sem abrir mão dos princípios éticos que marcaram sua trajetória.
Segundo ele, o foco não está apenas no crescimento financeiro, mas na solidez moral e na qualidade do trabalho desenvolvido. “O objetivo não é ganhar dinheiro de qualquer maneira. Queremos ser bons, e não grandes — mas se pudermos ser grandes e bons, melhor ainda”, declarou.
Segundo ele, a sustentação do Grupo JCPM para a próxima década passa pela conscientização interna. O presidente afirmou que o quadro de colaboradores está alinhado com o padrão ético, os valores, a responsabilidade e o compromisso social defendidos pela organização.
Visivelmente emocionado, o empresário expressou seu profundo vínculo com a região. Paes Mendonça recordou os títulos de cidadania que possui em diversos estados, mas resumiu sua identidade: “Sou pernambucano, sergipano, sou Nordeste. Nós precisamos cuidar do Nordeste, nos unir”.
A entrevista foi finalizada com uma declaração de gratidão: “Um profundo agradecimento ao povo pernambucano”, disse João Carlos Paes Mendonça.



























