Se existe amor à primeira vista, paixão arrebatadora, este mesmo fenômeno pode se dar também com uma cidade. Por que não? Se há dúvida, visite Triunfo e volte de lá impregnado de ternura, com uma declaração de amor eterno, para o resto da sua vida. O amor não se explica. Amor é estado de graça. Como a rosa que floresce porque floresce, ama-se porque ama-se, como diz Rubem Alves.
Amo tanto Triunfo, com seus casarios coloniais, que sou suspeito de dizer que é a cidade mais bonita do interior de Pernambuco. Constate o insuspeito Google e comprove! À primeira vista, o amor é o clima, porque a cidade está a mais de mil metros acima do nível do mar, no Planalto da Borborema. Mesmo em pleno semiárido, a temperatura máxima da cidade é de 33 graus. No frio, entre junho e julho, a média é de 18 graus, tendo já registrado 8 graus.
Só na Europa! Em Triunfo, o amor florescerá também com um bom vinho degustado num cenário ao ar livre, de lareira acesa, para matar o frio das noites que nem as corujas temem em dar o ar da sua graça. Não conheço um só turista que não tenha se apaixonado pelas belezas naturais de Triunfo.
Tem o Pico do Papagaio, o ponto mais alto do Estado, com 1.260 metros acima do nível do mar, a Cachoeira do Pinga, uma das mais altas do Nordeste, formada por um conjunto de três quedas d’água, com 80m de altura. Tem também a Cacimba de João Neco, um poço com cerca de 25 metros de profundidade em meio a uma caverna.
Conta-se que Neco sofria com a falta de água no seu sítio, na zona rural de Triunfo, no início do século XX. Para amenizar o seu drama, que é de todo sertanejo, ele mesmo cavou, entre 1932 e 1935, seu poço para matar a sua sede e dos seus animais. Tem também engenhos. O mais famoso é o São Pedro, conhecido como o Palácio da Cachaça, onde é possível degustar uma caninha destilada em alambique e envelhecida em barris de carvalho, com aroma e sabor inigualáveis.
Triunfo é tão charmosa e apaixonante que tem até um teleférico. Com 600 metros de extensão e 16 metros de altura, liga o centro ao hotel do Sesc, instituição responsável pela criação e manutenção do equipamento. O passeio dura apenas 20 minutos, com cabo de aço, extremamente seguro. Lá de cima, a visão da cidade é fantástica.
Para se apaixonar ainda mais por Triunfo há até um ponto turístico com nome de assombração: Casa Grande das Almas, com uma curiosidade intrigante. Metade da casa é território pernambucano, a outra metade paraibano. Na sala, você estará em Pernambuco e na cozinha na Paraíba. Era lá que Lampião se escondia das forças volantes que o perseguiam.
Triunfo é como Olinda, com suas ladeiras e casarios deslumbrantes. No carnaval, um dos mais tradicionais e animados do Sertão, quem domina a folia de momo são os Caretas, personagens mascarados que fazem parte da festa há mais de 100 anos. O desfile é em torno do açude João Barbosa Sitônio, envolto na lenda serpente.
Reza a lenda que, após uma gravidez indesejada, uma mulher jogou o bebê recém-nascido nas águas geladas do açude, localizado no centro da cidade. Acontece que o ato de crueldade foi transformado pela magia das águas. De maneira misteriosa, o bebê não morreu e acabou se transformando em uma cobra gigante, ficando por muito tempo escondida no fundo do açude.
O sítio histórico de Triunfo enche seu povo de orgulho. Tem como cartão postal o Theatro Cinema Guarany, ícone do audiovisual e das artes cênicas no interior do Estado. Construído em 1922, o prédio fica às margens do açude, está todo reformado, e é aberto à visitação. É a mais bela paisagem noturna da cidade. Foi lá que fiz, ao lado da minha Nayla, esta imagem que ilustra a crônica.
Na paixão à primeira vista por Triunfo, a Olinda sertaneja, inclua um passeio a pé pelos seus casarões antigos, mais que centenários, que mantém a arquitetura de quando foram construídos. Portas, janelas grandes de madeira, quartos com passagens entre eles e pisos com mosaicos são características daquela época que permanecem.
Na rua Padre Ibiapina, por exemplo, onde hoje funciona o Centro de Cultura, já foi uma residência. O prédio foi construído por Manoel de Siqueira Campos, ex-prefeito e comerciante do município. Ele foi o responsável por trazer energia elétrica em 1920. Na mesma rua, há um conjunto arquitetônico, que inclui uma capela e uma casa, construído em 1871 pelo padre José Antônio de Maria Ibiapina. As fachadas dos casarios são diferentes com diversos símbolos. Algumas têm iniciais do primeiro dono, outras são decoradas com vasos e ramos de flores.
“Naquela época, as plantações de cana e café rendiam muito dinheiro para os moradores, que começaram a adquirir um gosto pelas construções. Havia até uma competição para ver quem fazia a casa com a fachada mais bonita”, lembra a historiadora Diana Rodrigues, que escreveu livros sobre a história da cidade e de seus personagens.
O nome da cidade tem tudo a ver com a disposição de luta e heroísmo do seu povo. Originou-se de uma luta entre os habitantes da Baixa Verde, primeiro nome do município, com os da cidade de Flores, principalmente a família dos Campos Velhos, que não eram favoráveis ao desenvolvimento do povoado da Baixa Verde e chegaram, por diversas vezes, a atacar a feira local, na tentativa de acabar.
Algumas pessoas chegaram a morrer nos ataques, sem estes terem êxito em conterem o progresso do povoado nem a realização das feiras. A esse triunfo, o batismo da cidade. Seus primeiros habitantes foram os índios Cariri da nação Tapuia. Conta-se que no início do século XIX, provavelmente no ano de 1802, chegou ao local um missionário italiano, o capuchinho frei Vital de Frescarolo, ou frei Vital da Penha, acompanhado de alguns índios e carregando imagens de alguns santos, entre eles, a imagem de Nossa Senhora das Dores, que viria a tornar-se padroeira do local.
Se tudo isso não fosse suficiente para você, caro leitor, declarar seu amor por Triunfo, acrescento uma pitada a mais: a riqueza cultural revelada por músicos, artistas plásticos, poetas e, principalmente, pelo principal personagem do folclore local, o Careta, famoso no Carnaval da cidade por roupas coloridas, tabuleta com chocalhos e chicote nas mãos.
A gastronomia também se destaca com pratos inusitados como o famoso arroz vermelho e a carne de bode. Os licores de frutas feitos artesanalmente também são outra iguaria e os derivados da cana-de-açúcar se revelam inclusive como doces finos. Por todos esses atrativos, Triunfo é uma cidade encantadora, com um charme interiorano especial.
Se ficou convencido, está provado que existe amor à primeira vista por uma cidade!