Um pedido de vista formulado pelo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Nunes Marques interrompeu, nesta terça-feira (5), o julgamento de um recurso que envolve questão polêmica sobre a aplicabilidade ou não da chamada janela partidária como justa causa para a desfiliação de suplentes em ação de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária. O caso, relatado pelo ministro Ramos Tavares, deve voltar a ser analisado em conjunto com outros três processos sobre o tema.
A controvérsia central é definir se a justa causa para desfiliação partidária prevista no inciso III do artigo 22-A da Lei nº 9.096/1995 – ou seja, a janela partidária de 30 dias antes do prazo legal de filiação no último ano da legislatura – se aplica também a candidato suplente que era vinculado a partido que adquiriu uma cadeira no Legislativo após a anulação de votos atribuídos a outras agremiações.
O caso analisado nesta terça trata de ação cautelar contra decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) que cassou o mandato do vereador do município de Castanhal (PA) Orisnei Silva do Nascimento – conhecido como Nei da Saudade – por infidelidade partidária. Ele foi eleito suplente em 2020 pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e, em março de 2024, migrou para o União Brasil, no período da janela partidária.
Entretanto, em maio deste ano, após a cassação de três vereadores de outro partido condenados por fraude à cota de gênero, Orisnei tomou posse como titular no Legislativo municipal pelo PDT. Diante disso, a Executiva Estadual da agremiação ajuizou ação de perda de mandato eletivo contra o parlamentar.
O TRE paraense entendeu que a desfiliação partidária pelo suplente antes da posse, mesmo que no período da janela partidária, enseja a perda do mandato nos termos do artigo 22-A da Lei nº 9.096/1995, não se aplicando a hipótese de justa causa do inciso III do mesmo dispositivo.
Voto do relator
No TSE, o relator, ministro Ramos Tavares, argumentou, em seu voto, que são aplicáveis ao suplente a regra da fidelidade partidária que impõe a perda do mandato ao parlamentar que migrou para outra sigla sem justa causa, bem como as exceções que permitem a mudança de agremiação sem a perda do cargo.
Segundo o ministro, no entanto, não se pode restringir o direito de ação da agremiação para questionar a alteração de partido, tampouco o direito de defesa do suplente titularizado para suscitar eventuais justas causas a fim de sustentar seu ato de desfiliação.
Para o relator, o dispositivo não afasta a compreensão de que essa regra tem incidência em relação aos suplentes, ainda que condicionada a evento futuro e incerto consistente na assunção do mandato. Portanto, em seu entendimento, o acórdão do TRE merece reparo, uma vez que defende que essa disposição não se aplicaria ao suplente pelo fato de não ser ele detentor de um mandato vigente.
Assim, o relator votou pelo deferimento da liminar para conceder efeito suspensivo à decisão do tribunal regional.
Em seguida, o ministro Nunes Marques pediu vista para análise mais detalhada do caso.
Petrolina está linda. O palco é monumental. As luzes, impecáveis. A cenografia, de encher os olhos. O investimento, digno de nota. A multidão, viva, alegre, vibrante. Mas falta algo. Falta o que não se compra com edital, com patrocínio ou com produção de marketing. Falta o dono da festa.
Na abertura do São João de Petrolina, em 13 de junho, o que se viu foi uma sucessão de estrelas — mas nenhuma delas brilhou com a luz da sanfona. Nenhuma nasceu do chão quente do sertão. Nenhuma cantou o xote, o baião, a história de um povo que aprendeu a transformar dor em dança, escassez em celebração, saudade em canção.
Não vimos um só sanfoneiro. Nenhum fole, nenhum triângulo, nenhuma zabumba. Nenhuma alma nordestina no centro do palco.
E o que mais assusta não é a ausência em si — é o silêncio cúmplice de quem assiste e aplaude, como se tudo estivesse bem. Como se forró fosse acessório, e não essência. Como se a raiz fosse descartável, e não sagrada.
A pergunta que não quer calar é: desde quando o dono da casa precisa de convite para entrar em sua própria festa?
Enquanto Flávio Leandro canta verdades sobre o sertão nos bastidores, artistas de fora, com cardápio musical comercial, ocupam os holofotes com hits que não dizem nada sobre nós. Enquanto Dorgival Dantas emociona multidões com seu xote sincero, é ignorado em festas que se dizem “juninas”. Enquanto Elba Ramalho segue sendo altar de brasilidade e ancestralidade, preferem-se nomes do momento que sequer sabem diferenciar um arrasta-pé de um axé.
Não se trata de bairrismo. Trata-se de respeito. O São João não é apenas uma grade de atrações. É um rito. É um código de memória coletiva. Desfigurá-lo não é modernizar. É profanar. Trazer artistas de fora, sem espaço para os mestres do forró, é como montar um presépio sem o menino Jesus. É encenar uma ópera sem músicos. É organizar um velório da nossa cultura com palmas e fogos.
E, veja bem: não é proibição que se pede — é equilíbrio. Não é fechar as portas à diversidade — é não expulsar o que é nosso do centro da festa.
Estamos confundindo modernidade com amnésia. Estamos embalando o esquecimento com som de caixa eletrônica. Estamos permitindo que o São João, nossa celebração mais simbólica, se torne um produto genérico, embalado a vácuo, pronto para exportação — sem cheiro de milho assado, sem cheiro de fogueira, sem sotaque.
A cultura não é um detalhe. É a alma de um povo.
E aqui é necessário fazer uma ressalva justa e honesta: este artigo não tem qualquer cunho político-partidário. Pelo contrário, reconhece e parabeniza a atual administração e os gestores públicos de Petrolina pela estrutura monumental da festa — que, sem dúvida, reflete a pujança e o crescimento da cidade.
O que aqui se expressa é apenas um apelo — sereno, mas firme — para que essa mesma grandeza se estenda também à preservação da nossa cultura. Que a beleza da festa abrace também a beleza da nossa identidade. Nada mais. Nada menos.
E, quando se tira a alma de uma festa, o que resta é só o barulho. Petrolina tem o maior palco do São João, mas está deixando vazio o seu coração.
Ainda há tempo de reconduzir o protagonista ao centro da cena. Ainda há tempo de ouvir a sanfona. Ainda há tempo de ensinar às novas gerações que forró não é passado — é permanência. Que Flávio Leandro, Elba, Maciel Melo, Dorgival, Petrúcio, Targino, Flávio José não são relicários. São vivos, urgentes, necessários. Nordeste que esquece sua raiz está pronto para ser podado. E pior: aplaude o corte.
Que essa festa tão linda não se transforme em um espetáculo de ausências. Que o maior palco volte a ser sagrado. E que o povo volte a dançar — não por vaidade, mas por identidade.
Mais de 19 mil crianças e adolescentes foram afastados do trabalho infantil em Pernambuco ao longo de 2023, resultado de ações conjuntas entre o Governo do Estado, prefeituras e o governo federal. A conquista foi consolidada por dados do IBGE, que apontam uma redução de 28,2% nos casos em comparação com o ano anterior — queda de 68.349 para 49.103 casos. “Uma infância digna e feliz para todas as crianças de Pernambuco é um compromisso do nosso governo”, afirmou a governadora Raquel Lyra. “Os resultados que estamos colhendo mostram que esse compromisso se traduz em ações concretas.”
O avanço se apoia em uma série de iniciativas estaduais e municipais articuladas com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social. O Sistema de Monitoramento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (SIMPETI/MDS) contabilizou, apenas em 2024, 740 ações do Estado e mais de cinco mil nos municípios. O secretário Carlos Braga, da SAS, destacou que “cada criança afastada do trabalho precoce é uma vitória para Pernambuco e uma reafirmação do nosso compromisso inegociável com um futuro mais justo”.
Entre as ações recentes da Secretaria de Assistência Social estão campanhas como o Bloco do Cuidado e Proteção, realizadas durante o Carnaval, além do Projeto Praia Legal e da qualificação contínua da rede de proteção. Leônidas Leal, coordenador estadual do PETI, reforça que o reconhecimento nacional é sustentado por uma estratégia constante de prevenção e resposta. “Nosso trabalho é permanente, com foco na identificação e acompanhamento das situações de risco.”
A política de proteção à infância inclui ainda medidas estruturantes como a expansão da rede de creches. Até 2026, o governo pretende construir 250 novas unidades, com investimento de R$ 2,1 bilhões. Só no terceiro bloco de licitações, lançado neste mês, foram autorizadas 54 creches em 53 municípios. Outra frente de apoio é o programa Mães de Pernambuco, que beneficia gestantes e mães com crianças de até 6 anos por meio de um auxílio mensal de R$ 300. A iniciativa já atendeu mais de 115 mil mulheres.
A rede de acolhimento também foi ampliada com a inauguração do Lar Girassol, no Recife, que substitui o antigo Lar Esperança e oferece estrutura moderna para crianças afastadas do convívio familiar. A Secretaria da Criança e Juventude, criada pela atual gestão, coordena as políticas intersetoriais e atua para garantir os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Com essas ações, o Estado reforça sua posição de destaque na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
A comitiva de prefeitos brasileiros em Israel passou mais uma madrugada sob alertas de bombas e avisos de ataques em diferentes regiões do país. Enquanto aguardam um momento seguro para retornar ao Brasil, os políticos se revezam entre o bunker e os quartos do hotel, ao mesmo tempo em que assistem a aulas sobre segurança e ordem pública.
No quarto dia da nova escalada de confrontos, Irã e Israel voltaram a trocar ataques. A imprensa iraniana noticiou uma explosão em Teerã, enquanto o governo israelense emitiu novos alertas à população após disparos de mísseis do Irã.
Desde o início da ofensiva, 13 pessoas morreram em Israel e mais de 390 ficaram feridas. Do lado iraniano, os ataques registrados entre sexta-feira e sábado deixaram ao menos 128 mortos e centenas de feridos.
Durante a madrugada, o vice-prefeito de Uberlândia (MG), Vanderlei Pelizer Pereira (PL), publicou em suas redes sociais vídeos dos alertas recebidos no celular e imagens do deslocamento da comitiva para o abrigo subterrâneo. Na manhã deste domingo (15), no horário de Brasília, ele compartilhou o tema da palestra do dia: “Sensação de segurança e ordem pública”.
A vice-prefeita de Goiânia, Cláudia da Silva Lira (Avante), também publicou imagens da aula, ministrada em espanhol. Em um dos slides projetados, a palestrante aborda temas como violência urbana e instabilidade política. — O treinamento continua — disse.
Já o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião Vieira da Paz (União Brasil), relatou a tensão da madrugada. — É assim que se madruga por aqui — escreveu, ao mostrar um dos alertas de emergência. Em outro vídeo, publicado às 3h15 no horário local, ele aparece deixando o bunker. — Parece que vencemos mais uma noite aqui em Israel. Já é madrugada de domingo. Acredito que agora a gente possa dormir com mais tranquilidade — afirmou.
No sábado (14), o Itamaraty informou que avalia retirar a comitiva de autoridades municipais e estaduais brasileiras em Israel por terra até a Jordânia, de onde seguiriam para o Brasil.
A ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, conversou por telefone com os prefeitos Álvaro Damião, de Belo Horizonte, e Cícero Lucena, de João Pessoa, que estão em Israel.
“A ministra transmitiu ao prefeito Damião, que coordena o grupo de brasileiros no local, as tratativas, desde ontem, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil com autoridades de Israel para providenciar o retorno em segurança da delegação e de um grupo de representantes do Consórcio Brasil Central, que também se encontram em território israelense”, afirma o ministério em nota.
Novo contato foi feito na manhã de hoje entre a delegação, autoridades brasileiras e israelenses, para atualizar a situação e avaliar as alternativas para o retorno seguro do grupo ao nosso país.
Delegação de 19 pessoas
A delegação brasileira é formada por 19 autoridades de municípios distribuídos por 11 estados, incluindo os prefeitos de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil); de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), de Macaé, Welberth Rezende (Cidadania), e de Nova Friburgo, Johnny Maycon (PL). Vice-prefeitos e secretários de municípios de todas as regiões do país também participam da visita.
A comitiva inclui também o vereador carioca Flávio Valle (PSD) e o secretário de Ordem Pública de Niterói, Gilson Chagas e Silva Filho. O grupo está impossibilitado de deixar o país por conta do agravamento dos ataques aéreos em Israel, que acontecem como resposta a um ataque israelense a instalações militares iranianas. O espaço aéreo foi fechado, inclusive para voos comerciais. As autoridades brasileiras precisam se proteger em abrigos antiaéreos.
Em nota, o Itamaraty afirmou que “tomou conhecimento da presença de duas comitivas de autoridades estaduais e municipais do País em Israel, a convite do governo local, no momento do início das hostilidades em curso, com o ataque israelense ao Irã, na noite de quinta-feira, 12/6”.
“A embaixada do Brasil em Tel Aviv está em contato com as delegações brasileiras e o Ministério das Relações Exteriores fez gestão junto ao Ministério de Relações Exteriores de Israel para que ambos os grupos tenham garantias de segurança e possam retornar ao Brasil assim que as condições naquele país permitirem”, diz o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
“O secretário de África e Oriente Médio manteve contato telefônico com seu homólogo da chancelaria israelense, ocasião em que pediu tratamento prioritário à saída em segurança das delegações brasileiras. Até o momento, autoridades israelenses têm aconselhado as comitivas estrangeiras a permanecerem no país, até que as condições permitam qualquer deslocamento desses grupos por via aérea ou terrestre”, segue o documento.
O ministro Mauro Vieria, das Relações Exteriores, contatou hoje com seu homólogo da Jordânia, Ayman Safadi, “com o objetivo de abrir uma alternativa de evacuação por aquele país, quando as condições de segurança em Israel permitam um deslocamento por terra até a fronteira”.
Meu agora amigo Luiz Wilson, forrozeiro, poeta e cordelista, que já conhecia há muito tempo de fama e hoje pessoalmente, me convidou e aceitei almoçar no restaurante Sabor do Campo, do meu amigo Kelsen Ferreira, em Arcoverde. Ele acabou fazendo uma forrozada de improviso na companhia do sanfoneiro Zé do Peba, com o seu trio Catingueira.
São João autêntico é assim! Por isso, contaminou todos no restaurante.
O deputado estadual Henrique Filho, líder do Partido Progressista na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), convoca a população para uma Audiência Pública amanhã (16), às 9h, no auditório Sérgio Guerra, com o objetivo de discutir e propor soluções para o grave cenário da doação de sangue em Pernambuco. A iniciativa do parlamentar ocorre dentro da campanha Junho Vermelho, que promove a conscientização sobre a doação voluntária de sangue, e faz alusão ao Dia Mundial do Doador de Sangue, comemorado em 14 de junho.
“Estamos diante de uma situação alarmante. Os estoques do Hemope estão em queda contínua, e isso compromete vidas todos os dias. Precisamos mobilizar o estado para reverter esse quadro. A audiência será um momento de união entre sociedade civil, especialistas e governo para buscar soluções reais”, declarou o deputado Henrique Filho.
Segundo dados mais recentes da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), o estoque de sangue do estado encontra-se em nível crítico, com redução média de até 30% em alguns tipos sanguíneos, especialmente O- e A-, considerados universais para transfusões de emergência. Apenas no mês de maio, o Hemope registrou uma queda de cerca de 1.800 bolsas em relação à média histórica mensal, acendendo um alerta para o risco de desabastecimento.
A situação se agrava com a chegada do período chuvoso, quando a mobilização de doadores costuma cair. Hoje, menos de 1,8% da população pernambucana doa sangue com regularidade, número abaixo da média recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de pelo menos 3% da população.
A audiência pública pretende promover o debate sobre campanhas permanentes de incentivo à doação, além de ampliar a divulgação dos postos de coleta e facilitar o acesso da população ao Hemope. O evento contará com a participação de representantes do Hemope, especialistas em saúde pública, lideranças comunitárias, doadores regulares e entidades da sociedade civil.
“Doar sangue é um ato silencioso de coragem. Precisamos romper com a cultura da espera e transformar a solidariedade em hábito. Essa luta é de todos nós, e começa agora”, reforça o deputado.
Por Jorge Henrique Cartaxo e Lenora Barbo Especial para o Correio Braziliense
“Às três da madrugada de domingo (17/11/1889), enquanto a cidade dormia tranquilizada pela vigilância tremenda do governo provisório, foi o Largo do Paço teatro de uma cena extraordinária, presenciada por poucos, tão grandiosa no seu sentido e tão pungente, quanto foi simples e breve. Obedecendo à dolorosa imposição das circunstâncias… o governo teve necessidade de isolar o paço da cidade, vedando qualquer comunicação do interior com a vida da capital… Quando anoiteceu, foi fechado o trânsito pelas ruas que rodeiam… Um boato oficial… espalhara a notícia de que o Sr. D. Pedro de Alcântara (que se sabia dever embarcar para a Europa em consequência da revolução do dia 15) só iria para bordo no domingo pela manhã…
Às três horas da madrugada, menos alguns minutos entrou pela praça um rumor de carruagem. Para as bandas do paço, houve um ruidoso tumultuo de armas e cavalos. As patrulhas que passeavam de ronda reiteravam-se todas a ocupar as entradas do largo, pelo meio do qual, através de árvores, iluminando sinistramente a solidão, perfilavam-se os postes melancólicos dos lampiões de gás. Apareceu, então, o préstito dos exilados.
Nada mais triste. Um coche negro, puxado a passo por dois cavalos, que se adiantavam de cabeça baixa, como se dormissem andando. À frente, duas senhoras de negro, a pé, cobertas de véus, como a buscar caminho para o triste veículo. Fechando a marcha um grupo de cavaleiros, que a perspectiva noturna detalhava um negro perfil… Quase na extremidade do molhe, o carro parou e o Sr. Pedro de Alcântara apeou-se — um vulto indistinto entre outros vultos — para pisar pela última vez a terra pátria…”
O texto de Raul Pompeia — abolicionista e republicano —, testemunha daqueles tempos, descreve, com excelência, como os monarquistas da véspera — Deodoro e Rui, republicanos de bica — trataram de enxotar Dom Pedro do Brasil. Temiam a liderança pessoal do imperador. Sabiam que os brasileiros — os cariocas em particular — não tinham exatamente um apreço pela República, assim como não aplaudiam o império ou qualquer outra forma de organização institucional da ordem. Mas tinham uma particular deferência e admiração por Pedro II, assim como tinham pela música, a religião e as celebrações.
Daí o golpe do dia 15 de novembro, o isolamento da família Real e o seu embarque, naquela madrugada, empurrando Dom Pedro, mar adentro, para nunca mais! Antecipava-se assim, no Brasil, a frase famosa de Tomasi de Lampedusa no seu clássico O Leopardo, de 1958: “As vezes, é preciso que tudo mude para que as coisas permaneçam como estão”.
Instituído o governo republicando provisório, fechados a Cadeia Velha e o Palácio Conde dos Arcos — onde se reuniam, respectivamente, os deputados e senadores do império —, dissolvidas as assembleias legislativas provinciais; transformadas as antigas províncias em estados que formariam, em seu conjunto, os Estados Unidos do Brasil, o novo governo se organiza, excepcionalmente, com uma nova Constituição e prepara as primeiras eleições para o Congresso Constituinte.
Em dezembro de 1889, foi nomeada a Comissão de Petrópolis — ou Comissão dos 5, como ficaria conhecida — para elaborar a Constituição Provisória da República, composta por Saldanha Marinho, Américo Brasiliense de Almeida, Luiz dos Santos Werneck, Rangel Pestana e Antônio Pedreira de Magalhães. A proposta da Comissão seria revisada e analisada por Rui Barbosa que deu forma ao Decreto nº 510, do dia 22 de junho de 1890. Um mês depois, esse mesmo texto seria revisado pelo governo provisório que o substituiu por um novo, o Decreto nº 914-A, de 23 de outubro de 1890. O anteprojeto Constitucional que seria encaminhado à Assembleia Constituinte.
O Decreto nº 78 B, de 21 de dezembro de 1889, determinou as eleições do novo Parlamento a realizar-se no dia 15 de setembro de 1890. A Assembleia Nacional Constituinte deveria iniciar seus trabalhos em 15 de novembro do mesmo ano, primeiro aniversário da República. Eleitos, os senadores e deputados, entretanto, iniciaram seus trabalhos, separadamente, no dia 4 de novembro de 1890, no prédio do Cassino Fluminense — palco dos grandes bailes da monarquia —, inaugurado em 1860 com a presença de Dom Pedro II, posteriormente sede do Automóvel Club.
A Assembleia Constituinte, entretanto, seria instalada no Palácio São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, sede da família real. Naquela ocasião o percurso entre o centro do Rio e a Quinta da Boa Vista, de charrete, demorava duas horas e meia. Algo em torno de seis quilômetros. A mudança incômoda tinha suas razões e apreensões políticas. O governo provisório havia restabelecido a censura à imprensa.
Não raro, milícias — eventualmente com o apoio direto do próprio governo — empastelavam jornais e destruíam redações. As eleições parlamentares haviam sido completamente fraudadas. Havia uma determinação direta do governo para que não fossem eleitos constituintes monarquistas. Nesse clima político, os parlamentares deviam ficar longe dos ouvidos e dos olhos do “povo”. A nova Constituição, assim como a República, nesses termos, foi oferecida para “os bestializados!”
Nem longos ou complexos os debates na Assembleia Constituinte de 1891. A pressão do governo provisório para a celeridade do processo era demasiada. A modelagem da federação, a autonomia politica, jurídica e financeira dos Estados era o ponto de tensão. As representações de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande Sul — então os estados mais ricos do país — arguindo a antiga centralização monárquica queriam a descentralização absoluta, o predomínio dos estados sobre o governo da União.
Nesse sentido, não havia nenhuma discordância sobre a necessidade política e administrativa da mudança da capital. A bancada do Rio de Janeiro era unânime na defesa da proposta. O deputado Thomaz Delfino, o mais entusiasta e ativo defensor da tese, em longos pronunciamentos, resumia bem o consenso que prevaleceu: “A capital da União Brasileira, creio que, isto na opinião geral, não deve estar colocada nem ao Norte, nem ao Sul, mas de modo a receber a influência de ambas as grandes divisões territoriais, num ponto central, traduzindo, assim, a nossa harmonia, a nossa confraternização e a nossa força… Lucramos nós, capital atual, com a mudança, política-administrativa e mesmo, comercialmente, porque na luta por nós próprios empenharemos mais atividades e mais esforço. Lucra a União, porque o seu governo estará firme, sem vacilação alguma, o seu Congresso livre e sem qualquer peia”.
Nesse tom, e com leves nuances, debateram o tema os parlamentares Oliveira Pinto, Clovis Bevilaqua, Virgílio Damásio, Elyseu Martins, Costa Machado, Pedro Américo, Urbano Marcondes, Lopes Trovão e Américo Lobo. O ponto mais sensível era o destino do Município Neutro, onde ficava a capital no Rio de Janeiro: seria incorporado pelo estado do Rio ou viraria um novo estado? A questão era mais uma apreensão do que uma ameaça política real.
Coube ao deputado Lauro Muller apresentar em plenário uma emenda, subscrita por 88 constituintes, que seria acolhida pela Assembleia: “Fica pertencendo à União uma zona de 400 léguas quadradas, situadas no planalto central da República, a qual será demarcada para nela estabelecer-se a futura capital da República”. Como justificativa da proposta ele anexou, por suficiente, a histórica Carta de Formosa, de 28 de julho de 1877, de Adolfo Varhagen, dirigida ao então ministro da Agricultura do Império, José Coelho de Almeida, descrevendo o lugar onde deveria ser edificada a nova capital. Essa emenda foi aprovada na sessão de 22 de dezembro de 1890.
Na tradição do processo parlamentar não teria sido Muller o autor da proposta, uma vez que a primeira assinatura era do deputado Tenente-Coronel Joaquim de Souza Martins (SP). A última sessão da Constituinte, por sua vez, em 23 de fevereiro de 1891, na redação final, faria duas pequenas mudanças. A primeira, de autoria do deputado Antônio Euzébio, altera o Art. 2.: “Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.000 quilômetros quadrados, a qual…”. A Comissão dos 21, que fazia a redação final do texto constitucional, mudou o termo “designar” do Art. 34 para “mudar”: Art.34. Compete privativamente ao Congresso Nacional: 13 – Mudar a capital da União.
Na mensagem ao Congresso, de 15 de junho de 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca solicita os meios para que, cumprindo a Constituição, fosse demarcado o terreno onde seria edificada a nova capital.
O Blog do Magno publica a segunda reportagem do especial São João das Multidões, da Revista Mais Nordeste. Depois de Gravatá, é a vez de Caruaru mostrar por que é chamada de capital do forró, com uma festa que combina memória, identidade e projeção internacional da cultura nordestina.
Caruaru (PE), a cidade que nasceu da feira e se transformou na capital do forró, celebra em 2025 mais do que uma festa: presta uma homenagem às suas origens. Com o tema “De fazenda à Capital do São João”, o “Maior e Melhor São João do Mundo” abre as portas para a memória e a expansão da cultura nordestina. A programação teve início em 28 de abril e se estende até 1º de julho, com atividades culturais e artísticas distribuídas por diversos polos.
Antes da cidade, vieram a terra, o povo e a feira — cenário de inspiração para a letra da música “A Feira de Caruaru”, composta pelo caruaruense Onildo Almeida e eternizada desde 1957 na voz de Luiz Gonzaga. Com ela, o Rei do Baião ganhou seu primeiro disco de ouro ao vender mais de 100 mil cópias.
“A feira de Caruaru / Faz gosto a gente ver / De tudo que há aí no mundo / Nela tem pra vender…”. Quem conhece o espaço sabe que não há exagero na letra, tamanha a quantidade e diversidade de produtos que atraem pessoas de todo canto. Sucesso enraizado na alma caruaruense, a feira tornou-se Patrimônio Imaterial do Brasil em 2006, reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Foi ali, no centro das trocas e dos encontros, que Caruaru nasceu. A escolha do tema deste ano é uma homenagem ao que muitos já esqueceram: que o forró brotou do chão batido da roça. “Queremos que as pessoas entendam por que Caruaru começou com uma fazenda e hoje é a capital do forró”, diz o presidente da Fundação de Cultura, Hérlon Cavalcanti.
A Princesinha do Agreste, como também é conhecida a capital do forró, transformou a terra das compras e trocas em um dos maiores palcos juninos do país, convidando o Brasil inteiro a lembrar de onde vêm o xote, o xaxado, o baião e, claro, o forró. Caruaru tem memória, festa e futuro — e talvez tanto sucesso não seja por acaso: já estava anunciado no próprio nome. Derivada do dialeto dos índios cariris, Caru significa “alimento, coisa boa”, e aru aru, em repetição, expressa “abundância”. Caruaru, portanto, é a terra da fartura.
Foto: Elvis Edson/Secom/PMC
Uma festa viva, pulsante, e em expansão — a expectativa é que mais de 4 milhões de pessoas circulem por Caruaru, impulsionando a economia local e projetando a cultura nordestina para o mundo. Com a rede hoteleira superlotada, a cidade também celebra o fortalecimento econômico. São 1.413 atrações, das quais 83% apresentam repertório de forró. No coração da cidade, o Pátio Luiz Gonzaga se transforma em uma megaestrutura — uma verdadeira vitrine de sons que atravessam gerações.
Elba Ramalho, Wesley Safadão, João Gomes, Xand Avião, Leonardo, Daniel, Márcia Fellipe, Barões da Pisadinha, Juliana e Bonde do Forró estão entre os nomes que alimentam a economia afetiva e turística do Nordeste. A abertura, no dia 31 de maio, contou com apresentações da Orquestra de Pífanos de Caruaru, Matheus Vini, Ivete Sangalo e Solange Almeida. Para o dia 23, estão programados shows de Daniel, Mari Fernandes e Felipe Amorim. Já a noite de 24 de junho será embalada por Klever Lemos, João Gomes e Jonas Esticado.
“Em 2024, recebemos 3,2 milhões de pessoas com quase R$700 milhões injetados na economia. Colocamos 24 polos de animação e 658 atrações artísticas durante 29 dias. Este ano, a expectativa é de pelo menos 10% de aumento com 65 dias de programação porque começamos a festejar em abril. Tudo isso é resultado de um modelo que une tradição, inovação e responsabilidade social”, completa Hérlon.
De acordo com Cavalcanti, o sucesso da festa é fruto de um planejamento contínuo: “Assim que acaba um São João, a gente já começa o outro. Reunimos todos os envolvidos no Comitê do São João para fazer um balanço. No ano passado, por exemplo, 97% do público aprovou o modelo da festa, incluindo a programação, a segurança com câmeras espalhadas e os serviços de acolhimento.”
Apesar da grandiosidade, o São João de Caruaru mantém viva a tradição. O segredo? Um diálogo constante com os artistas, incentivo ao repertório gonzagueano, valorização das roupas típicas e orientação durante reuniões com bandas e grupos populares. “Todos os polos começam com forró e, aos fins de semana, a Casa Rosa, na Feira de Caruaru, também se enche de música”, detalha.
A diversidade cultural é uma marca registrada. O município conta com 16 bandas de pífanos, 14 grupos de bacamarteiros, 96 trios de forró e 64 comidas gigantes. Toda essa força artística faz do São João uma festa multicultural e descentralizada, valorizando tanto a zona urbana quanto a rural. “Mais de 80% da programação é composta por artistas de Caruaru. Isso acontece porque temos um calendário cultural contínuo que garante espaço para todos. Estamos falando de mais de 26 mil artistas envolvidos este ano”, afirma Hérlon.
Foto: Elvis Edson/Secom/PMC
Acessibilidade, segurança e cuidado com todos
O evento também se destaca por seu compromisso social e acessibilidade. Todos os polos contam com rampas, e o Pátio de Eventos oferece um camarote exclusivo para pessoas com deficiência. Além disso, há uma estrutura integrada para segurança e atendimento de emergências. “Montamos um esquema com o Centro de Operações Integradas (COE), que fica no Espaço Cultural e reúne as forças de saúde, segurança e assistência social. A Fundação não está sozinha. Toda a prefeitura está envolvida, desde o Juizado do Forró até as equipes de limpeza urbana, com um modelo que funciona em tempo real”, explicou.
A ornamentação dialoga com o tema e com a tecnologia: palcos com painéis de LED, transmissão via internet e cobertura da PrevTV tornam o São João uma vitrine global. “Temos caravanas de turistas internacionais e mais de 100 mil pessoas conectadas por noite, em lugares como Coréia, Europa e América Central. São 27 polos — 13 na zona rural e 14 na urbana — com atrações que vão do forró ao rock, do cordel ao cinema. É uma forma de cada pessoa se identificar com a festa”, destaca.
Foto: Elvis Edson/Secom/PMC
Do barro ao palco: a pluralidade sonora do São João 2025
A valorização da zona rural também é levada a sério. A caravana do São João na Roça começou no dia 25 de abril e deu início à temporada de forró, percorrendo 13 comunidades até chegar à área central do município. A iniciativa promove cultura e gera renda local, como no Sítio Lajes. “Não trazemos comerciantes de fora. São os próprios moradores que organizam tudo: decoram as casas, acendem as fogueiras e recebem os shows nas portas. Só este ano, são 900 artistas e 65 apresentações apenas na zona rural, completa.
Não apenas pelas luzes no Pátio Luiz Gonzaga ou pelos grandes nomes no palco principal — a festa se espalha como cheiro de milho cozido. No Polo Azulão, espaço dedicado às vozes alternativas, a abertura com Cassiane apresentou o tom plural da festa. Tribo de Jah, Quinteto Violado, Almério, Filhos de Gandhy e Silvério Pessoa mantém viva a proposta de um São João que dialoga com o presente sem trair suas raízes. Já no Alto do Moura — berço do barro e do forró — nomes como Amazan, Trio Nordestino e Santanna dão corpo à tradição.
Em meio ao xote e ao baião, Caruaru reverencia seus homenageados: Lamartine Duarte (o Coroné Cornélio), o cantor Jota Lima e a artista plástica Luisa Maciel (in memoriam). Com ruas enfeitadas, bandeirinhas tremulando e o forró ecoando por todos os cantos, Caruaru vive intensamente mais uma edição do seu São João — celebrado com alma, identidade e paixão.
Reconhecido como o “Maior e Melhor São João do Mundo”, o evento segue até o fim de junho com uma programação vibrante, que mistura tradição e inovação, fé e festa, memória e futuro. “No encerramento, vamos fazer um forró gigante com 50 artistas locais no palco do Pátio. Teremos nomes como Klever Lemos, PV Calado e outros grandes talentos da nossa cidade ao lado de atrações nacionais. Com a emoção do público e a entrega dos artistas, Caruaru não apenas celebra: encanta, acolhe e reafirma com orgulho o que o coração do Nordeste já sabe — São João de verdade, só aqui”, conclui Hérlon Cavalcanti.
Poeta maravilhoso Magno, noivo com tesão a mil por hora, oh santa inveja. Sua crônica domingueira e sua disposição para o São João, a melhor festa do Brasil, que mexe e remexe com a gente, faz lembrar o grande modernista Mário de Andrade, que diz:
“Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta, mas um dia afinal eu toparei comigo… Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa”.
Esse misterioso poema de Mário me fez lembrar misteriosamente você, um dos raros amigos que posso chamar de gênio.
O outro amigo que assim vejo e atesto em qualquer cartório ou tribunal é o seu padrinho de casamento Eduardo.
Chame ele para ser seu compadre na fogueira e já batizem antecipadamente o menino, que essa noiva já casou grávida.
Cuidado, irmão de noiva sertaneja ofendida é bicho perigoso.
O legado de vocês dois — cada um nas suas maravilhosas, trabalhosas e lendárias lidas —, passeará pelos séculos e ecoará no Olimpo e tocará seus deuses, afinal vocês dois enfrentaram e mataram o Minotauro, vocês são filhos de Zeus, o chefe dos deuses.
Quando o trovão sertanejo estrondar, e o relâmpago cortar o firmamento, lembrem-se, jamais duvidem, você e Eduardo: é o vosso Pai fazendo carinhos e mandando beijinhos para vocês. Ele sempre foi assim.
Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal, morreu aos 88 anos na noite de ontem, no Rio de Janeiro. Ele estava em tratamento de um câncer de próstata e tinha Alzheimer.
Além de fundar o Cacique, um dos blocos de carnaval e centro cultural mais importantes do Rio, Bira, que era percussionista, cantor e compositor, ajudou a transformar as rodas de samba do subúrbio carioca em um movimento musical que revolucionou o samba tradicional. As informações são do portal G1.
Ubirajara Félix do Nascimento nasceu no dia 23 de março de 1937, no Rio de Janeiro, e em sua carreira ficou marcado como uma das grandes personalidades do samba no Brasil.
Filho de Domingos Félix do Nascimento e Conceição de Souza Nascimento, Bira cresceu no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio. Desde cedo, foi envolvido pelo universo do samba e do choro, frequentando rodas com figuras lendárias como Pixinguinha, João da Baiana e Donga.
Sua mãe, uma mãe de santo da Umbanda, também influenciou a espiritualidade e a musicalidade das festas familiares, que misturavam rituais e samba.
Aos sete anos, teve seu “batismo no samba” na Estação Primeira de Mangueira, escola que sempre considerou sua de coração.
Cacique de Ramos
Em 20 de janeiro de 1961, Bira fundou, junto com amigos e familiares, o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, bloco carnavalesco que se tornaria um dos maiores centros culturais do samba no Brasil.
O Cacique nasceu da fusão de pequenos blocos do bairro de Ramos e rapidamente se destacou pelas rodas de samba que promovia em sua sede, apelidada de “Doce Refúgio”.
Com desfiles no próprio bairro de Ramos e no Centro do Rio de Janeiro, o grupo, que incluía Bira e seu irmão Ubirany, se tornou um dos blocos de carnaval mais importantes da cidade.
Bira foi o primeiro e único presidente da agremiação até sua morte, sendo conhecido como “o próprio Cacique”.
Fundo de Quintal
No final dos anos 1970, das rodas do Cacique de Ramos surgiu o grupo Fundo de Quintal, com Bira como um dos fundadores. O grupo inovou ao incorporar instrumentos como tantã, repique de mão e banjo, criando uma nova sonoridade que revolucionou o samba de raiz. Entre os sucessos do Fundo de Quintal com Bira estão:
“O Show Tem Que Continuar”
“A Amizade”
“Do Fundo do Nosso Quintal”
“Lucidez”
“Nosso Grito”
Bira era conhecido por seu carisma, seu pandeiro inconfundível e sua presença marcante nos palcos e nas rodas de samba.
Bira tocou pandeiro em gravações históricas, como no álbum De Pé No Chão de Beth Carvalho, e acompanhou diversos artistas renomados da MPB. Sua versatilidade e domínio do instrumento o tornaram requisitado em estúdios e shows, consolidando sua reputação como um dos maiores pandeiristas do samba.
Além da música, Bira trabalhou por décadas como servidor público antes de se dedicar exclusivamente à carreira artística. Era pai de duas filhas, avô de dois netos e bisavô de uma menina chamada Lua.
Torcedor do Flamengo e apaixonado pela dança de salão, Bira era uma figura querida e respeitada em todo o Brasil.
Bira Presidente deixa um legado imenso para o samba e a cultura popular brasileira. Sua atuação como líder comunitário, músico e símbolo do Cacique de Ramos o eterniza como uma das figuras mais importantes da história do samba.
Prática que já vem chamando a atenção de órgãos fiscalizadores desde as últimas eleições, os conteúdos gerados por inteligência artificial ganharam um nível de sofisticação que promete elevar a preocupação a outro patamar em 2026.
Especialistas reforçam que vídeos ultrarrealistas, produzidos com imagens manipuladas — como os que circularam recentemente sobre o papel do presidente Lula e de integrantes do governo no escândalo dos descontos indevidos do INSS, ou de anúncio de impostos que nunca existiram e até de uma proposta de Bolsa Família para mães de bebês reborn — têm alto potencial de alterar o resultado de uma eleição.
Na Justiça Eleitoral, os processos que mencionam as deepfakes, nos quais se encaixam os conteúdos de desinformação de IA, deram um salto de 2022 para 2024, anos eleitorais — foram três ações no primeiro contra 109 no segundo, de acordo com o Diário Eletrônico da Justiça. Neste ano, já são 51 processos, e a tendência é que esses números se multipliquem até o ano que vem, explica a professora da USP e pesquisadora sobre IA generativa Pollyana Ferreira:
— Desde o lançamento do ChatGPT em 2022, vimos um salto na quantidade dessas ferramentas, que também têm ficado mais baratas, transformando o uso desses recursos mais acessível a qualquer cidadão comum. Antes, para produzir um conteúdo falso, era preciso o investimento de muito mais dinheiro, o envolvimento do trabalho de uma pessoa especializada para editar, por exemplo, uma foto em uma capa de uma revista ou jornal. Hoje, nada mais disso é necessário.
Presidente como alvo
Outro diferencial, ela explica, é a facilidade com que voz e imagem são geradas e sincronizadas, tornando os conteúdos falsos ainda mais realistas e com maiores chances de viralização. Esse combo está em vídeos que circulam pelo TikTok, como os que usam trechos da fala da jornalista Renata Vasconcellos, âncora do “Jornal Nacional”, para anunciar a falsa descoberta de um quarto secreto do presidente Lula para “guardar o dinheiro roubado dos aposentados”.
Nas últimas semanas, também têm sido veiculadas deepfakes de Lula anunciando a criação de uma categoria do Bolsa Família para atender “mães de bebês reborn”. O vídeo foi criado a partir da manipulação de trechos da entrevista que o presidente deu ao podcast Podpah, em 2021. A informação precisou ser desmentida pelo Ministério do Desenvolvimento Social, pasta responsável pelo programa, em um post nas redes sociais que dizia que o benefício estaria disponível “só para (mães de) bebês de carne e osso”.
Ainda no início deste ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também precisou vir a público desmentir um vídeo em que ele, após a alteração do conteúdo pela IA, fazia o anúncio de impostos sobre “cachorrinhos de estimação e grávidas”. O conteúdo chegou a ser compartilhado pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que foi ministro da gestão de Jair Bolsonaro, e circulou em meio à crise do Pix, que derrubou a aprovação do governo na época.
Em resposta, a Advocacia-Geral da União (AGU) exigiu retirada, em 24 horas, do conteúdo de circulação das redes sociais da Meta. A solicitação foi um dos 12 pedidos extrajudiciais feitos pelo órgão, desde 2023, para remoção de conteúdos falsos e que foram deferidos. No mesmo período, três foram negados e outros três estão sob análise das plataformas; quatro viraram processos que serão analisados pelo Judiciário.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria a favor da responsabilização das redes sociais por conteúdos ilegais publicados em suas plataformas, durante o julgamento do Marco Civil da Internet. Isso significa que as big techs não precisarão aguardar uma decisão judicial para remover conteúdos falsos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se manifestou pela primeira vez sobre uso de inteligência artificial no ano passado. A Corte determinou que o uso da ferramenta é liberado desde que haja um aviso na publicação de que aquele conteúdo foi gerado por IA; as deepfakes são terminantemente proibidas. Desde então, denúncias de adulterações de imagens e áudios foram investigadas pela polícia e chegaram ao Judiciário em estados como São Paulo, Amazonas, Rio Grande do Sul, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Tocantis.
— Observamos que, em disputas eleitorais mais acirradas ou com candidatos maiores, a Justiça Eleitoral se via despreparada e sem instrumentos para fazer uma análise mais técnica sobre essas ocorrências de deepfake — diz Stefani Vogel, advogada e uma das autoras do estudo Ethics 4IA, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) sobre o tema. — Isso nos preocupa porque a tendência é que esses casos aumentem no ano que vem, e nós devemos ficar novamente nas mãos do TSE, que deve aperfeiçoar a solução pensada para essas ocorrências.
Procurado, o TSE afirmou que prevê a aprovação de novas resoluções, que orientam o andamento das eleições, no início do ano que vem, assim como em pleitos anteriores.
O levantamento Ethics 4IA analisou no ano passado 56 processos sobre deepfakes que chegaram aos Tribunais Regionais Eleitorais: 34 (60%) permaneceram na Justiça Eleitoral e 14 ocorrências (25%) foram encaminhadas para análise da Justiça comum. Para Stefani, isso reflete “o despreparo de operadores de Direito” para lidarem com esses casos.
Cientista político pela Universidade de Brasília (UnB), Murilo Medeiros teme que o uso irresponsável de IA mine a confiança nas urnas e “macule o processo eleitoral”, alimentando narrativas conspiratórias contra a democracia:
— Simular falas, comportamentos e os posicionamentos dos candidatos pode induzir o eleitor ao erro. Uma saturação informacional no ambiente digital, com conteúdos manipulados, influencia e enfraquece a confiança da população no sistema eleitoral.
Uma das ferramentas que passaram a preocupar analistas e especialistas em cybersegurança é a Veo3, lançada pelo Google em maio e capaz de produzir vídeos realistas a partir de pequenos comandos de texto. A plataforma explica, contudo, que a ferramenta não permite a geração de pessoas identificáveis e que “qualquer conteúdo gerado com a IA do Google possui uma marca d’água SynthID incorporada e uma marca d’água visível”.
No Congresso, projetos para tentar regular o uso de IA no país estão em tramitação. No Senado, Chico Rodrigues (PSB-PR) propôs um que prevê o aumento de crimes contra a honra cometidos com o uso de deepfake e outro que regula o uso publicitário de tecnologias de IA, ambos travados em comissões da Casa. Já na Câmara, está em pauta uma proposição mais generalista, que trata da regulamentação da IA, ainda em fase de audiência pública.
Reflexos no mundo
O impacto eleitoral pelo uso irresponsável de IA foi verificado há três semanas na Argentina, durante as eleições da Câmara dos Vereadores de Buenos Aires, quando um vídeo manipulado mostrou o ex-presidente Mauricio Macri reconhecendo de antemão a derrota da chapa de seu partido e pedindo votos para a legenda de Javier Milei, que levou a maioria na Casa. Um episódio parecido aconteceu durante as eleições presidenciais no país há dois anos, quando também circularam imagens adulteradas que mostravam o principal adversário de Milei, o ex-ministro da Economia Sergio Massa, cheirando cocaína.
Uma situação similar aconteceu no ano passado nos Estados Unidos, no estado de New Hampshire. Na véspera das primárias democratas, circularam áudios falsos do ex-presidente Joe Biden pedindo para a população “ficar em casa” e “guardar o voto para novembro”, quando aconteceram as eleições principais. Apesar disso, ele venceu como candidato democrata no estado.
Outro caso ocorreu na França, quando foram criadas nas últimas eleições contas falsas no TikTok para personalidades de IA que fingiam ser “sobrinhas” de Marine Le Pen. Na época, o caso foi noticiado pela imprensa local como uma tentativa de aproximar a candidata a grupos de eleitores mais jovens, segmento no qual o presidente reeleito, Emmanuel Macron, era mais popular.
Curtindo o fim de semana em Arcoverde, dei um pulinho, há pouco, nos estúdios da Itapuama 92,7 FM, emissora que retransmite meu programa Frente a Frente, pela Rede Nordeste de Rádio, para conhecer o poeta, compositor e forrozeiro Luiz Wilson.
Sertanejo de Sertânia, terra de minha Nayla, Luiz Wilson mantém de São Paulo, onde mora, um programa dominical pela manhã na Itapuama. Nele, o enfoque é a cultura nordestina, a preservação dos seus valores, especialmente o forró pé de serra, autor ele próprio de mais de 120 composições. Hoje, o seu programa foi apresentado de Arcoverde, onde recebeu o título de cidadão, sexta-feira passada.
Nos estúdios, o encontrei com os artistas Genésio e Mazinho, como ele defensores e divulgadores do bom forró. Recentemente, Luiz lançou o CD “Luiz Wilson, o forrozeiro poeta”, com 14 sucessos de sua autoria, entre eles “O queijo e a goiabada”, “Entrei no seu canal”, “Baião para dois”, “Querendo te querer” e “A tampa e a panela”.
Já o conhecia pelo rádio e a mídia paulista. E também um pouco das duas canções, entre as quais duas em homenagem a Sertânia. A Paulo Afonso, na Bahia, numa parceria com o poeta Duval Brito, fez “Paulo Afonso, cidade ilha”. Luiz Wilson é orgulho nordestino.
Seu programa na Itapuama é uma viagem nos valores mais elevados do Sertão e de sua gente. Também poeta-repentista, escreveu, recentemente, um cordel para Silvio Santos, contando em versos a história do “Homem do baú”, um dos maiores comunicadores de massa do País, que Deus levou em agosto do ano passado aos 93 anos.
Israel e Irã trocaram ataques durante a madrugada deste domingo (15), causando mortes de civis e destruição em áreas residenciais nos dois países. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), advertiu Teerã contra possíveis ataques ao seu país, ao mesmo tempo em que disse que poderia mediar um acordo para encerrar o conflito.
“Se formos atacados de qualquer forma pelo Irã, toda a força e o poder das Forças Armadas dos EUA cairão sobre ele em níveis nunca vistos antes”, escreveu Trump em uma mensagem na plataforma Truth Social, acrescentando, em seguida: “No entanto, podemos facilmente fazer um acordo entre Irã e Israel e acabar com esse conflito sangrento”. As informações são do Poder360.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, classificou os ataques como “bárbaros” e afirmou que tinham como objetivo sabotar as negociações nucleares com os EUA, que estavam previstas para serem retomadas neste domingo (15) em Omã – negociações que foram canceladas.
Principais alvos
Os bombardeios israelenses atingiram instalações de armas e a infraestrutura energética iraniana, incluindo a refinaria de petróleo Sharan, em Teerã, segundo a agência de notícias Reuters.
Além disso, Israel atacou o edifício do Ministério da Defesa iraniano e o campo de gás South Pars, na província de Bushehr, no sul do país.
A escalada militar começou depois que Israel lançou bombardeios contra instalações nucleares do Irã na última sexta-feira (13). Autoridades israelenses afirmam que a operação visa a impedir o avanço do programa nuclear iraniano e eliminar capacidades de mísseis balísticos do país.
Em resposta, o Irã disparou mísseis contra áreas residenciais nas regiões Norte e Centro de Israel. De acordo com a Associated Press, seis pessoas – incluindo duas crianças – morreram em um ataque em Bat Yam, perto de Tel Aviv, onde um míssil atingiu um edifício de oito andares. A mídia israelense, citada pela Reuters, informou que pelo menos 35 pessoas estão desaparecidas.
Assista a vídeo de ataque iraniano contra Israel (41s):
Outras quatro pessoas morreram quando um míssil atingiu um prédio em Tamra, no Norte do país. Ao todo, portanto, são ao menos 13 mortos em Israel desde sexta-feira (13) e cerca de 300 feridos.
No Irã, 78 pessoas foram mortas só no primeiro dia da campanha israelense. No segundo dia de ataques, um míssil de Israel derrubou um prédio de 14 andares em Teerã, deixando pelo menos 60 mortos, incluindo 29 crianças.
A onda mais recente de ataques iranianos contra Israel teve início pouco depois das 23h (horário local) de ontem, quando sirenes de ataque aéreo soaram em Jerusalém e Haifa, levando cerca de 1 milhão de pessoas a buscar abrigo.
Por volta das 2h30 (horário local) de hoje, o Exército israelense alertou sobre uma nova barragem de mísseis.
Houthis
Os Houthis, do Iêmen, aliados ao Irã, disseram neste domingo (15) que atacaram o centro de Israel, em Jaffa, com vários mísseis balísticos nas últimas 24 horas. Esta é a primeira vez que um aliado do Irã se junta ao conflito.