Por Tales Faria
Colunista do UOL
O ex-presidente Donald Trump venceu as eleições para retornar à Casa Branca em condições bem superiores àquelas do seu primeiro governo. Além do poder Executivo, terá uma maioria tão sólida quanto nunca teve na Suprema Corte e o domínio já garantido no Senado e, muito provável, na Câmara dos deputados.
O controle do Executivo, do Legislativo e do Judiciário neste momento dá o que se pode chamar de superpoderes ao futuro presidente para executar tudo aquilo que prometeu a seus eleitores. Em sua primeira eleição, em 2016, embora tivesse maioria no Congresso, ele não detinha controle algum sobre seu partido. Sofria oposição interna de grupos poderosos no Partido Republicano.
O próprio vice-presidente de seu primeiro mandato, Mike Pence, resistia a seu comando. Enquanto Trump impulsionava seus apoiadores a invadirem o Capitólio, em 7 de janeiro de 2022 após a derrota nas urnas, Pence reconhecia a vitória do democrata Joe Biden.
Leia maisAgora o vice-presidente eleito, James David Vance, é considerado como absolutamente afinado com o chefe da Casa Branca.
Na Suprema Corte, durante quase todo seu primeiro governo, Trump contava com uma frágil maioria de ministros conservadores: 5 a 4. Somente no último ano de seu mandato, em 2022, conseguiu ampliar para 6 a 3 o número de ministros aliados.
Essa maioria sólida com que governará é muito importante. Permite a tomada decisões polêmicas, que antes não ocorreriam. Desde 1973, quando foi aprovado o direito ao aborto, por exemplo, os republicanos buscavam derrubar a decisão, mas não ousavam tentar objetivamente, com uma maioria frágil. Após Trump formar a maioria de 6 a 3, a Suprema Corte reverteu a decisão.
A candidata democrata à Presidência, Kamala Harris, pretendia retomar o direito ao aborto caso fosse eleita. Mas agora, com a vitória de Trump, o desejo dos progressistas terá que ser adiado.
No Senado, hoje o Partido Democrata detém a maioria. Contava com os votos de seus 47 senadores e o apoio de independentes para superar os 49 representantes dos republicanos. Mas agora, com a vitória de Trump, o partido Republicano elegerá no mínimo os 51 senadores que lhe garantem maioria.
Na Câmara, o resultado da apuração deve demorar mais a sair. Em 2022, os republicanos asseguraram a maioria na Casa com 220 deputados contra 212 democratas. Até a manhã desta quarta-feira, 8, o placar estava em 193 representantes para o partido de Trump contra 173 para os democratas.
Ou seja, o futuro presidente deve ficar com o controle das duas Casas legislativas, de uma Suprema Corte de sólida maioria conservadora e dos indicados pelo Partido Republicano, agora sob seu total controle, para cargos no poder Executivo.
O superpoderoso novo presidente poderá então cumprir o que prometeu durante a campanha. Ele disse que irá fazer “tudo aquilo” que não teria podido em seu primeiro governo devido à “oposição interna”.
Disse, por exemplo, que irá terminar de construir o muro entre os Estados Unidos e o México que prometeu na campanha eleitoral de 2016. Também havia prometido fazer a “maior deportação em massa da história dos EUA, expulsando “todos os indivíduos ilegais”, o que não conseguiu naquela época.
Ameaçador, o candidato defendeu diversas vezes nesta nova campanha eleitoral uma retaliação, caso saísse vitorioso das urnas, contra os sistemas, instituições e pessoas que ele acredita que o injustiçaram nos últimos tempos.
Seus aliados sugerem que Trump irá usar o Departamento de Justiça contra seus inimigos políticos, expurgar o que chamam de “burocratas desleais” e consolidar seu poder.
Também acreditam que ele concederá indulto a si próprio pela condenações que já sofreu na Justiça comum e a paralisação de todos os processos contra si e contra seus principais aliados. A expectativa é de que conceda perdão até mesmo aos invasores do Capitólio.
A outra retaliação se volta para o resto do mundo. Líderes da Europa, como Emanuel Macron, da França, que o confrontaram, e na América Latina, como o presidente Lula, do Brasil, que anunciou apoio a Kamala, não perdem por esperar. Especialmente a organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU). que ele sempre odiou.
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