Por Claudemir Gomes
Apesar da tentação — e do esforço —, não consegui ir à Ilha do Retiro na quarta-feira (16) para assistir ao jogo do Sport contra o Operário, no qual o rubro-negro pernambucano, por falta de foco, amargou uma derrota (2×1), que não foi bem digerida por sua torcida. Coisa do futebol!
Mas a noite foi marcada por um momento divino: a orquestração do já tradicional “cazá, cazá”, desta feita puxado pela torcedora Sandra Bertini.
Estou próximo a levantar a bandeira do cinquentenário como cronista esportivo. Nesta longa estrada, testemunhei momentos de grandes emoções de diversas tribos. Mas poucos foram tão profundos e significativos quanto aquele grito de amor, tendo a senhora Bertini como grande protagonista.
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Na época de efervescência dos clubes sociais recifenses, vi o “cazá, cazá” ser entoado com arranjos dos maestros Nelson Ferreira, Duda, Fernando Borges e até do paulista Érlon Chaves.
Testemunhei as homenagens feitas pela torcida rubro-negro ao Mestre de Apipucos, Gilberto Freyre, e ao grande Ariano Suassuna, gritando seus nomes junto com o “cazá, cazá”.
O rubro-negro Severino Victor foi um dos fundadores da orquestra Treme Terra. Ele fazia questão de ressaltar que foi o primeiro a levar o frevo para as arquibancadas dos estádios pernambucanos.
Certa vez, Victor me revelou, na redação do Diario de Pernambuco, que era indescritível a emoção que sentia quando adentrava na Ilha do Retiro, à frente da Treme Terra, e a torcida leonina gritava o “cazá, cazá”.
Dona Sandra Bertini!
Fecho os olhos, exijo o máximo da memória, mas é impossível lembrar todas as vozes, formas e lugares onde testemunhei rubro-negros entoando o grito do “cazá, cazá”. Todos, sem exceção, ao seu modo, ao seu jeito, procuravam, através da marca registrada da tribo leonina, expressar alegria e emoção.
Entretanto, confesso que nenhum alcançou o estágio de sublimação como aquele momento, minutos antes de a bola rolar na Ilha do Retiro, quando fostes protagonista ao reger um coro de mais de vinte e seis mil torcedores, no mais inesquecível e emocionante de todos os “cazá, cazá” já entoados no estádio rubro-negro.
Não foi um grito de guerra!
Foi um brado que descortinou o mais puro amor. A paixão de uma mulher que já esteve na iminência de ser a primeira-dama do clube. Um grito que quebrou paradigmas, enterrou preconceitos.
Não estava presente ao estádio. Vi as imagens daquele momento sublime, pela primeira vez, através do smartphone. Emocionante!
Transferi o vídeo para o computador. Por fim, cheguei à conclusão de que, aquelas imagens eram coisas de cinema, e as transportei para a televisão.
Enganam-se os que pensam que não se pode orquestrar uma explosão de emoção coletiva. Sandra Bertini provou que é possível sim. A maestrina utilizou o corpo e a alma para interagir com os 26.345 leoninos presentes no estádio. E todos atenderam o seu chamado. Assisti ao vídeo inúmeras vezes. A cada visão, uma nova descoberta.
Aquele silêncio sepulcral, em fração de segundos, num estádio com mais de vinte e seis mil torcedores, dava para ouvir o bater de asas dos pirilampos encandeados pelos novos refletores da Ilha do Retiro. E veio a explosão com a voz forte e imperativa da maestrina Sandra Bertini: “E para sempre será!”.
Naquele momento todos entenderam porque o “Sport estremece a terra”.
Sandra!
Você colocou efeitos especiais num presente dos céus: seu amor pelo Sport.
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