A Polícia Federal indiciou quatro ex-integrantes do alto escalão da Polícia Rodoviária Federal pela tentativa de impedir o deslocamento de eleitores no segundo turno da eleição de 2022 no Nordeste, região onde o então candidato Lula havia vencido Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição, por larga vantagem na primeira etapa do pleito. O indiciamento ocorreu em fevereiro do ano passado.
As informações foram divulgadas pelo UOL e confirmadas pelo GLOBO. Foram indiciados Luis Carlos Reischak Júnior, ex-diretor de Inteligência da PRF; Rodrigo Cardozo Hoppe, ex-coordenador de Integração de Inteligência; Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de Operações da PRF; Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de Análise de Inteligência; e Bruno Nonato dos Santos Pereira, ex-coordenador de Inteligência e Contrainteligência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
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A polícia apontou, em seu relatório final, que houve indícios de desobediência, prevaricação, restrição ao exercício do direito de voto e participação por omissão no crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito por meio da restrição do exercício dos poderes constitucionais.
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques foram indiciados pelo mesmo caso meses depois, em agosto.
No relatório final, a PF apontou que ao analisar um documento interno sobre a operação voltada ao segundo turno das eleições, houve uma alteração no planejamento da PRF entre o 1° e o 2° turno. A investigação identificou que o referido documento foi assinado por Luis Carlos, Djairlon e Silvinei na noite do dia 26 de outubro, quatro dias antes do 2º turno.
Além disso, a partir do celular de Adiel, a PF identificou trocas de mensagens no dia 19 de outubro que mostraram orientações de Silvinei a Luis Carlos sobre a necessidade de uma operação de segurança viária para abordagens dos transportes clandestinos de passageiros próximo ao 2° turno das eleições.
Já no dia 28, diálogos mostram que eles observaram a redução do número de abordagens a veículos, mas o aumento dos índices quanto às abordagens a ônibus, como seria “a diretriz da operação”.
Em nota, a defesa de Djairlon Henrique Moura, Luis Carlos Reischak Junior e Rodrigo Cardozo afirmou que afirma que “não há qualquer informação sobre eventual indiciamento” e que “na eventualidade do ato ter sido praticado em autos diversos, até então desconhecidos, a defesa reitera que somente poderá se manifestar, de maneira assertiva, após o acesso completo aos autos”. O GLOBO busca contato com a defesa dos outros indiciados.
Ação da PRF
Como mostrou O GLOBO, um em cada três veículos parados em fiscalizações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia do segundo turno da eleição de 2022 foi abordado no Nordeste. Apesar de concentrar um terço das ações, a região reunia em outubro do ano passado, quando o pleito ocorreu, 17,6% da frota de veículos do país, segundo informações do Ministério dos Transportes.
Os números da PRF mostram que 2.887 veículos foram parados no Nordeste em fiscalizações de equipamentos obrigatórios e de identificação veicular, tipo de blitz que provocou reclamações de moradores da região. O volume representa 31,6% do total das abordagens no país (9.133). Já no Sudeste, onde circulam 47,8% da frota brasileira, a corporação parou menos veículos no segundo turno, 2.543, o que representou 27,8% das abordagens.
Na primeira fase do pleito, Lula alcançou 66,76% dos votos válidos no Nordeste, contra 26,97% de seu principal adversário. No Sudeste, diferentemente, Bolsonaro saiu na frente, por 47,56% dos votos a 42,63%.
Nas demais regiões, houve um equilíbrio entre o número de veículos parados e o tamanho da frota de cada lugar. Entram na conta todos os tipos de veículos — carros, motos, ônibus e táxis.
Do Jornal O Globo.
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