Por Dirac Cordeiro*
As desigualdades oriundas do rendimento de cada indivíduo induzem a divisão do espaço urbano em camadas de população, onde as menos favorecidas habitarão cada vez mais longe dos grandes polos de vida urbana, onde há mais oferta de empregos, serviços, comércio e diversões. Essas regiões habitacionais são mal equipadas em infraestruturas de transporte, onde as desigualdades de grau de motorização conduzem a um claro e evidente desnível de possibilidades de deslocamentos.
Os serviços oferecidos pelo sistema e mostrados em diversas mídias e reportagens de jornais estão longe de ser atraentes para o usuário do transporte individual, com índices de ocupação nas horas de pico acima de qualquer expectativa, chegando em muitas cidades brasileiras a cerca de 150% da capacidade ofertada. O índice de acessibilidade atual do sistema situa-se muito aquém ao do veículo particular, significando em média viagens com os tempos de duração sempre muito superiores ao tempo gasto pelo automóvel.
Leia maisDecisão ímpar foram os vultosos investimentos alocados pelo Governo do Estado na infraestrutura de transporte da RMR, através de novos corredores exclusivos, estações de transferências de primeiro mundo, terminais de integração e novas tecnologias (nunca se investiu tanto em infraestrutura de transporte como nos últimos 20 anos).
As contradições citadas só poderão ser atenuadas a médio e longo prazos, por meio de uma nova política de uso e ocupação do solo, onde haja um rigoroso compromisso para a utilização dos transportes coletivos. O déficit cada vez maior de vagas de estacionamento conduz a uma ampla ocupação das vias, restringindo a superfície viária, com nítido prejuízo para o transporte coletivo.
Lembramos que os ônibus são menos poluidores que os veículos individuais e a sua taxa de ocupação é significativamente superior à do automóvel. A continuar a tendência que vem sendo observada de transferência residencial urbana para a periferia, sem que haja uma aproximação correspondente das zonas de empregos, de serviços, comércio e diversões, os alongamentos e criações de novas linhas serão obrigatórios, aumentando, assim, os deslocamentos motorizados, o que contribuirá para o aumento dos fluxos nas vias que, no centro urbano, já atingiram a total saturação.
A impossibilidade de modificação da superfície viária nos centros, não só pelo elevadíssimo custo do solo, como também pela preservação das características arquitetônicas da cidade, faz ressaltar de forma imperativa a necessidade de priorizar o transporte coletivo. Sendo assim, impõe-se estabelecer uma maior dinâmica ocupacional dos prédios atualmente abandonados no centro das cidades; que hoje funcionam como “verdadeiras sucatas prediais” para drogas e viciados.
Doutor em Engenharia de Transporte*
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