Por José Adalbertovsky Ribeiro, periodista, escritor e quase poeta
Dedico este artigo ao meu colega, o gênio Luís de Camões, que anunciou no século 16 o advento do Novo Mundo
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Os poetas Fernando Pessoa e Camões são irmãos dos rios e dos mares. Camões anunciou: “Cesse tudo que a musa antiga canta que um valor mais alto se alevanta”. Referia-se à era das navegações e o advento do Novo Mundo. Fernando Pessoa pegou na palavra: “Ensinam estas Quinas que aqui vês/ que o mar com fim será grego ou romano: o mar sem fim é português”.
Imortal da Academia Brasileira de Letras, José Paulo Cavalcanti Filho possui um fardão ornamentado com ramos de ouro e tecido com fios do bicho da seda. Os súditos perguntam: Vós sois rei? Doutor, me empresta este fardão para eu dar uma voltinha.
Leia maisCom um escafandro à moda do fardão, ele mergulhou nos mares em busca das pérolas e dos tesouros do poeta da tabacaria e do Rio Tejo. Zé Paulo é um argonauta, na trilha dos gregos da Antiguidade. Assim, produziu o livro “Fernando Pessoa – Uma quase autobiografia”. Somos todos argonautas nos mares da vida.
Eis um inventário existencial do poeta, desde o primeiro gemido da criação, os gemidos da alma, os poemas, os amores, os desamores, sossegos e desassossegos, a infância, juventude, maturidade. Sua pátria Portugal, a família, a morte. “Um raio hoje deslumbrou-se de lucidez. Nasci. 13 de junho de 1888”. “Se, depois de eu morrer, quiserem escrever minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas — a da minha nascença e da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus”. Novembro de 1935: o último suspiro.
Num desses dias, Fernando Pessoa recitou, diante do mar, de homem para homem, um dos mais belos poemas da língua portuguesa: “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal. /Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/ quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena/ se a alma não é pequena”.
O bípede Zé Paulo hoje tem dois corações. O coração número zero 1 habita em sua tenda nesta cidade lendária de Recife, contempla o Capibaribe e abraça os caranguejos do mangue. O coração zero 2 atravessa a nado o Oceano Atlântico e vai conversar com os golfinhos do Rio Tejo.
Zé Paulo hoje é um recifense quase lusitano. Em sendo um José, é também um quase paraibano da terra de Zé Pereira, da República de Princesa, de Zé Lins do Rego, Zé Américo de Almeida, Zé Limeira e Zé Gomes-Jackson do Pandeiro. Eu sou um Zé pequenininho do tamanho de um pé de coentro da Serra da Borborema.
Se eu fosse um intelectual de muitos saberes; escreveria um tratado sobre o magistral Inventário do argonauta José Paulo. Mas, meu fôlego é curto e o espaço é exíguo. Registro apenas estas singelas notas. E recomendo a admirável biografia. Arriba, galera!
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