Dedico este artigo ao meu colega o maxi poeta Fernando Pessoa, por ter dito que todas as cartas de amor enviadas às nossas musas pela Internet são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas
Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Todas as crônicas de Natal e Ano Novo são piegas, não seriam crônicas de Natal e Ano Novo se não fossem piegas, assim falou o poeta Fernando Pessoa aos seus discípulos. Aliás, se não falou poderia ter falado, pois ele já disse que todos os torpedos apaixonados enviados às enamoradas via WhatsApp, Facebook e Instagram são ridículos, não seriam torpedos de amor se não fossem ridículos.
Leia maisO poeta era um fingidor, fingia tão completamente que fingia acreditar deveras na frase gloriosa dos antigos navegadores de que “navegar é preciso, viver não é preciso”. E tudo valia a pena, porque a alma dele não era pequena. A alma do poeta era do tamanho do mar, pois desde a era das navegações “ensinam essas Quinas que o mar com fim será grego ou romano, e o mar sem fim é português”.
O Natal e o Réveillon estão sendo revogados este ano na Faixa de Gaza, nas penitenciárias da Papuda e da Colmeia, na Palestina, na Cracolândia, na Ucrânia, nas fronteiras da Venezuela, na Guiana Essequibo, nas bocas de fumo do Complexo do Alemão, nas prisões da Nicarágua, no Cotel, na Ilha presídio de Cuba, nas filas de benefícios do INSS, na cidade submersa de Maceió, no Mar Vermelho.
O poeta conclama em linha reta: “Ó príncipes, meus irmãos!” “Toda gente que eu conheço e que fala comigo/ nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho/ nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida”.
Os príncipes decretam e revogam os Natais e Réveillons. São os príncipes dos palácios, das catedrais do poder e dos Diários Oficiais. Eles ditam as leis e os silêncios. E a gente da plebe ignara obedecemos às ordens de Vossas Mercês.
Se eu fosse um cronista piegas escreveria uma mensagem ridícula tipo assim “Natal, o velhote gorducho Noel ho-ho-ho … lero-lero”. Tô fora!
Minha mensagem é o poema “Sêmen celeste”, do poeta e filósofo romano Tito Lucrécio (99.aC – 55.aC):
“Nascemos todos do sêmen celeste; temos todos o mesmo pai/ de quem a terra/ a mãe que nos alimenta/ recebe límpidas gotas de chuva/ e produz o luminoso trigo/ e as árvores viçosas/ e a raça humana/ e as estirpes das feras/ oferecendo os alimentos com os quais todos nutrem os corpos/ para levar uma vida doce/ e gerar a prole”.
PLANETA PALAVRA – Este é o título do meu quarto livro. Edição primorosa da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, deverá ser impresso até o próximo mês. Reúne crônicas da época da Anistia/Diretas, crônicas atuais, quase poesias e digressões talvez filosóficas. Este foi um livro emprenhado com amor e carinho, paixão e compaixão e tesão.
*Periodista, escritor e quase poeta
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