Definida a escalação de ministros do novo governo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tenta agora aplacar o descontentamento de aliados que ficaram fora do time principal com a sinalização de que podem ocupar postos no segundo escalão. Cargos na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e Banco do Nordeste estão no topo da lista dos mais cobiçados.
Um dos que podem ser contemplados é o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA), preterido no Ministério da Integração Nacional após ter o nome vetado por petistas da Bahia. Interlocutores de Lula afirmam que uma das possibilidade é que ele mantenha a influência sobre a Codevasf. A estatal, criada para tocar obras nas regiões dos vales dos rios São Francisco e do Parnaíba, teve a sua atuação expandida no governo de Jair Bolsonaro e é comandada desde 2019 por Marcelo Andrade Andrade Moreira Pinto, apadrinhado por Elmar.
Antes de o martelo ser batido, porém, haverá uma conversa de Lula com o novo ministro da Integração, Waldez Góes, e com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que bancou a indicação na pasta.
Leia maisA cobiça pelos cargos de segundo escalão atinge também quadros do PT que foram preteridos no Ministério. O líder do partido na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), que chegou a ser convidada a assumir o Desenvolvimento Agrário, mas foi rifado na última hora, quer influenciar nas indicações da pasta da Educação. O parlamentar se reuniu ontem com Gleisi para tratar do assunto.
No dia anterior, a presidente do PT já havia recebido os presidentes do Solidariedade, Paulinho da Força, e da Força Sindical, Miguel Torres, e pediu que eles apresentassem seus pedidos. Torres ficou descontente após a segunda central sindical do país e o Solidariedade, partido a qual é ligada, não terem participado da indicação de nenhum nome do primeiro escalão. O presidente da entidade disse que não deve comparecer à posse de Lula, no domingo, apesar de ter sido convidado.
— Estou descontente porque trabalhamos pela frente ampla e no fechamento das cortinas ficamos de fora — afirmou Torres ao GLOBO.
Apesar de dizerem que não será possível apagar a insatisfação, líderes do Solidariedade afirmam que gostariam de assumir o comando do INSS e do Ceagesp, o entreposto de abastecimento de São Paulo que pertence à União. Estão de olho, ainda, em diretorias de bancos públicos e da Petrobras.
Além do Solidariedade, Lula sinalizou que pretende contemplar outras siglas que o apoiaram na disputa eleitoral e ficaram sem ministérios com cargos no segundo escalão, casos de PV, Avante e Agir.
Dirigentes do PV, inclusive, já estiveram com Gleisi. O partido, que chegou a ser cogitado para o Ministério da Pesca, mas foi descartado para garantir mais uma pasta para o PSD, almeja assumir o comando da Funasa, fundação responsável por promover o saneamento básico no país. O órgão é vinculado ao Ministério da Saúde, mas pode ser transferido para a pasta das Cidades.
Lula quer usar os cargos no segundo escalão para abrigar aliados fiéis, que tiveram papel relevante na campanha, mas que não conseguiu acomodar na Esplanada. É o caso, por exemplo, do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, que deixará o cargo neste domingo. Ele foi a primeira liderança do PSB a defender uma aliança de seu partido com o petista. Na época, o prefeito do Recife, João Campos, por exemplo, se opunha à aproximação.
De acordo com petistas, Lula já revelou que pretende contemplá-lo com um posto. São cogitadas para ele tanto a presidência do Banco do Nordeste como uma diretoria da Codevasf.
Espaço no meio ambiente
Um nome que já foi contemplado com uma vaga foi o ex-governador do Acre e ex-senador Jorge Viana (PT). O vice-presidente eleito e futuro ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, anunciou Viana para a presidência da Agência Nacional Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex).
Cogitada para o novo Ministério dos Povos Indígenas, a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) revelou ontem que assumirá a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). O órgão ficará subordinado à nova pasta, que terá como titular a deputada eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP).
No Ministério do Meio Ambiente, onde há uma disputa por postos de segundo escalão, interlocutores próximos à nova ministra, Marina Silva (Rede), dão como certas as indicações da ex-presidente do Ibama Suely Araújo e do deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP). Ambos integraram o grupo técnico responsável pelos temas ligados ao meio ambiente e às mudanças climáticas durante a transição.
O nome de Agostinho surgiu como primeiro indicado para comandar o Ibama. A futura ministra não definiu, ainda, que posição Araújo vai ocupar dentro do ministério.
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