Esse é um fato fato cristalino. Entretanto, assiste-se, com perplexidade, à insistência do Executivo estadual em recorrer ao Poder Judiciário para tolher o legítimo direito político dessas agremiações partidárias.
Acompanho, desde minha juventude, a cena política pernambucana e nacional. Ao longo de décadas, testemunhei embates memoráveis, disputas acirradas e reviravoltas históricas. No entanto, jamais presenciei um governo que, valendo-se de expedientes judiciais, intentasse subtrair de partidos políticos a prerrogativa elementar de exercer a oposição. Trata-se de algo inédito e profundamente preocupante para a saúde democrática.
Leia maisO MDB, recentemente, viveu uma disputa vigorosa pela condução de seu Diretório Estadual. A ala simpática à governadora foi derrotada, e o comando partidário coube à chapa liderada por Raul Henry, cuja trajetória tem sido marcada por firme postura oposicionista. A vontade majoritária do MDB é clara: oposição ao governo vigente.
O PRD, sob a presidência estadual do prefeito Josafá, há muito consolidou sua identidade como força contrária à atual administração. Em deliberações recentes, com ampla maioria, o Diretório Estadual reafirmou, de forma categórica, seu compromisso oposicionista. Não há margem para ambiguidades: o PRD é oposição.
Já o PSDB, legenda outrora vinculada à própria trajetória política de Raquel, foi surpreendido com seu afastamento sem qualquer comunicação ao antigo Diretório Estadual ou mesmo à direção nacional. Em resposta, a instância nacional nomeou uma Comissão Interventora que, desde sua gênese, declarou-se abertamente contrária ao governo estadual. Tanto em deliberações locais quanto em manifestações formais da Executiva Nacional, a posição se mantém inalterada: o PSDB é oposição.
O que causa estranheza e inquietação é a obstinação do Governo Raquel em tentar, pela via judicial, constranger a liberdade de partidos de se colocarem onde a política, e não a toga, lhes confere lugar. É a história da democracia que nos ensina: são os partidos, em consonância com seus líderes e suas bases, que decidem de que lado da arena estarão. Nunca coube ao governo de ocasião, por meio de litígios artificiais, determinar a natureza da oposição.
O que se assiste, portanto, não é apenas um litígio circunstancial, mas uma tentativa perigosa de subversão da lógica democrática. É como se o Executivo buscasse transformar a pluralidade em submissão, e o dissenso em silêncio imposto. Uma afronta não apenas a esses três partidos, mas à própria essência do jogo político em Pernambuco.
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