Lula e Trump estão com o mesmo problema, embora isso às vezes não seja percebido. Precisam recuperar a popularidade para seguir em frente. Trump foi eleito depois de aplicar uma surra nos democratas, ganhando a Presidência e a maioria no Congresso. Sua política tarifária trouxe inflação. Qualquer um que ande pelas ruas de Nova York ou qualquer grande cidade dos Estados Unidos e converse com as pessoas perceberá que a maioria reclama dos preços.
Em São Paulo, ou qualquer outra metrópole brasileira, o sentimento é igual. Os preços sobem, o poder aquisitivo cai. A culpa é sempre de quem está no poder. Lula e Trump não conseguiram sucesso até agora. O norte-americano acredita que o aumento de tarifas trará o dinheiro de volta e que seu país será grande novamente. O brasileiro também é um crente do aumento de impostos e taxa o cidadão comum, empresas, nada escapa.
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Ambos viveram maus momentos, encurralados pela Justiça. Lula foi condenado e preso, Trump escapou por pouco de ir para a cadeia. Os dois voltaram ao poder. Mas parece que ambos não tiraram lições de tudo o que passaram. São homens movidos pela vingança. Perdem a oportunidade de unir e pacificar seu país fazendo uma guerra do “nós contra eles”.
Lula voltou ao poder depois de ir ao inferno. Encontrou um país dividido e polarizado. Fará 80 anos em outubro. Poderia escolher um legado de união e paz, mas preferiu investir no confronto. Imagina que assim será reeleito presidente, mas, se isso acontecer, o único beneficiado será o próprio Lula. O PT, sem renovação, acabou entrando no labirinto da decadência, cujo maior símbolo é a volta ao passado com a ressurreição de símbolos do atraso como o imposto sindical e o abandono das agências reguladoras, cujo maior exemplo é o orçamento minguado da ANP, que mal consegue operar com o básico.
Trump completou 79 anos em junho. Deixará o governo com 82 anos em janeiro de 2029. Abriu uma guerra comercial com o mundo. Em vez de escolher o adversário principal e batê-lo, preferiu brigar com todos ao mesmo tempo. Isso tem mais chances de dar errado do que certo. Anunciou punições ao Brasil com tarifas de 50% por causa do julgamento de Jair Bolsonaro e acabou dando um tiro no pé, favorecendo os adversários do ex-presidente, abrindo caminho para uma condenação mais dura ainda.
A menos que os Estados Unidos invadam o Brasil, nada disso prosperará. É terrível para nossa economia qualquer tipo de sanção dessa natureza, especialmente vindo de um dos nossos maiores parceiros comerciais. Mas nada impede que o Brasil busque mercados alternativos para seus produtos, embora isso não se dará no curto prazo. Trump cometeu uma trapalhada e ela terá consequências ruins para Bolsonaro e todos os envolvidos no julgamento do STF.
Em vez de prejudicar Lula, ajudou a resgatar parte da popularidade perdida, assim como ajuda a esquerda norte-americana, prestes a eleger prefeito de Nova York, o imigrante muçulmano Zohgan Mamdani, socialista de 33 anos. Caso eleito, será uma pedra no sapato do presidente, governando sua terra natal.
No Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, embalado pelo embate com Trump, decidiu a favor do governo e abriu caminho para mais um aumento de impostos, anulando os votos de 384 deputados e da maioria do Senado. A decisão de Moraes castrou o Congresso e não haverá reação. Foi um recado para que não votem mais nada que incomode Executivo ou Judiciário. Se vier anistia, será declarada inconstitucional, se vier uma PEC acabando com decisões monocráticas, também.
Trump e Lula irão perseguir até o último minuto a hegemonia sobre a oposição, custe o que custar. Trump abriu guerra interna contra universidades e a acusa de aparelhamento no setor de educação pública. Cortou verbas, quer desmontar tudo e recomeçar do zero. É uma briga dura, porque envolve muita gente e muita capilaridade. Ele conta com a Suprema Corte, que até agora o favoreceu.
Lula também tem o Supremo como aliado e parte para cima de quem ousar confrontar, como acaba de acontecer com o Congresso, onde a maioria não é de esquerda.
O problema é que tanto Lula quanto Trump, cada um do seu jeito, apostam no confronto – e só nele – como meio de sobrevivência política. O confronto e a polarização marcaram o início das guerras no século 20. Foi assim antes da primeira e da segunda guerras mundiais. Antes da Guerra Fria e da guerra contra os muçulmanos radicais liderados por Bin Laden e o Irã, que derrubaram as Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.
Se o século 20 foi definido por Eric Hobsbawn como a Era dos Extremos, este século 21 pode ser chamado de era dos confrontos entre extremos. O risco diante de tanta insensatez é sairmos disso muito pior do que quando entramos.
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