Por Romualda Mirdes de Figueiroa Vieira
A inclusão escolar, na teoria, é um dos pilares de uma educação justa, democrática e equitativa. Está garantida em leis, diretrizes e discursos políticos. Mas, para quem está dentro da sala de aula, a realidade é muito diferente. E é sobre esse abismo entre teoria e prática que precisamos urgentemente falar.
Colocar crianças com e sem deficiência na mesma sala de aula por quatro horas diárias não significa, por si só, inclusão. A convivência, embora importante, não é suficiente para garantir aprendizagem, desenvolvimento e equidade. O modelo atual, na forma como vem sendo implantado, está fadado ao fracasso – e, mais grave, está condenando crianças e professores a experiências educativas frustrantes e dolorosas.
Leia maisAs salas estão superlotadas: 35, 40, às vezes até 45 alunos. Em meio a esse número, encontramos pelo menos quatro crianças com laudos diagnósticos que exigiriam um acompanhamento individualizado. Mas o que temos? Falta de planejamento dos municípios, ausência de recursos pedagógicos, escassez de profissionais de apoio, inexistência de formações continuadas e currículos adaptados. O que temos é um professor exausto, tentando se desdobrar para atender uma diversidade de necessidades para as quais não foi preparado e não tem suporte.
A consequência disso? Crianças com deficiência vagando pelos corredores, pois não suportam permanecer em uma sala superlotada, barulhenta, inadequada. Algumas choram, gritam, chutam, agridem. Outras simplesmente se isolam, tornam-se invisíveis. E a escola, que deveria acolher, acaba reforçando a exclusão.
É doloroso ver que, apesar de estarem dentro da escola, essas crianças continuam fora do processo de ensino-aprendizagem. E, enquanto isso, os demais alunos também são afetados por uma dinâmica que sobrecarrega o professor e impede que todos recebam atenção pedagógica adequada. A exclusão, portanto, atinge a todos.
Garantir o acesso à escola não basta. É preciso garantir permanência com qualidade, respeito às singularidades, estrutura física e humana adequada e metodologias específicas que permitam o real aprendizado. Caso contrário, continuaremos mascarando uma inclusão que, na verdade, é apenas mais uma forma de abandono institucionalizado.
A inclusão precisa deixar de ser uma bandeira vazia de políticas públicas e se tornar um compromisso real, construído com escuta, investimento e responsabilidade. Do contrário, continuaremos assistindo ao adoecimento dos professores e à estagnação de milhares de crianças – aquelas que mais precisam da escola como espaço de pertencimento e transformação.
Leia menos