Por Evaldo Costa*
A desfaçatez da extrema direita é do tamanho de dez Everests. Impressiona a falta de vergonha com que defendem o indefensável. E como rangem os dentes de ódio diante de qualquer ação ou ideia que ameace, ainda que minimamente, atacar a desigualdade social extrema que marca o Brasil, país paradigma global de injustiça e de crueldade com os empobrecidos.
A extrema direita tem ódio everéstico à democracia e trama sem descanso para destruí-la e se colocar acima da lei para, nesta condição, poder suprimir direitos da maioria e acumular privilégios indecorosos. A extrema direita é corrupta por definição. Porque todo aquele que anseia por ditadura planeja roubar sem riscos, sem ser vigiado por instituições sólidas e independentes como polícia, ministério público e Judiciário, a exemplo do STF. Sem mencionar uma imprensa livre. A extrema direita diz que não houve corrupção durante a ditadura. Mentira! O que não houve – nem podia haver – foi apuração dos incontáveis escândalos, abafados pelo poder armado.
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Todos aqueles que, integrando o governo Bolsonaro e fora dele, fizeram ou apoiaram as tentativas de golpe de estado de 7 de setembro de 2022 e de 8 de janeiro de 2024 são criminosos pois “tentativa de golpe de estado” é crime previsto no nosso ordenamento jurídico. Os do segundo episódio estão sendo processados e a democracia brasileira acumulou força suficiente pra fazê-los pagar pela agressão ao regime democrático. E não escaparão.
Outra característica nefasta da extrema direita é a disposição e a capacidade para mentir. Esta aptidão ganhou escala industrial depois das redes sociais, e as mentiras que circulam nesses ambientes digitais – as chamadas fake News – são a arma política mais usada pela extrema direita. Fato: todo extremista de direita é um mentiroso profissional.
Já vi muita infâmia espalhada por extremistas de direita. Até que a terra é plana e que eles são cristãos. Leio essas coisas e não me importo.
Mas, confesso, perdi a serenidade ao ler uma das coisas mais ofensivas que já foram escritas desde que os povos da Mesopotâmia inventaram a escrita. Antônio Magalhães publicou, neste blog, um artigo infamante que compara Dom Helder Câmara a Eduardo Bolsonaro. Diz ele que têm tudo a ver Dom Helder – vítima e advogado das vítimas da ditadura – e o fugitivo da justiça que integra um bando que queria restabelecer a ditadura para voltar a prender inocentes, torturá-los e matá-los.
Eu sei que o artigo de Magalhaes é uma provocação. E as provocações sempre foram usadas pela extrema direita. O cabo Anselmo, de quem Antônio Magalhães deve ser admirador, era um infiltrado e um provocador. Houve muitos outros atuando nos porões a serviço da ditadura.
Conheço há muitos anos Antônio Magalhaes.
Lembro dele, com a barba que os homens de esquerda usavam na época, presente em reuniões de jornalistas e outras lideranças democráticas que buscavam formas de sobreviver sob a ditadura. Reuniões que aconteciam na sucursal do Estadão, chefiada por Carlos Garcia, um democrata que foi sequestrado e torturado por agentes da ditadura somente por ser jornalista. Sempre digo: Garcia é o Vladimir Herzog que, por milagre, não morreu nos porões da ditadura.
Pois ė, lembro desse Antônio Magalhaes por lá. Lembro que ele procurava, como um camaleão, se assemelhar aos presentes, rindo de alguma coisa espirituosa que era dita, ou fazendo cara compungida por algo que todos em volta lamentavam. O incrível é que não consigo, por mais que me esforce, lembrar de nenhuma frase, sequer uma palavra, pronunciada por ele a título de sugestão ou de estímulo aos que, correndo risco de vida, ousavam se organizar para resistir.
Faço força, instigo a memória, tentando descobrir qual teria sido a participação de Antônio Magalhães na reunião para articular a chapa de oposição do sindicato dos jornalistas de 1983. Ou para eleição da AIP de 1984. Sei que ele estava lá, vejo ele lá, presente, mas, estranhamente, ausente.
Do começo ao fim das reuniões ele não abre a boca, mas, com certeza, tem ouvidos muito atentos.
*Jornalista
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