O que os políticos aliados fazem há algum tempo. Pesquisa Atlas recente apontou um empate estatístico na opinião pública a respeito: 47,1% acham que Bolsonaro deve indicar outro nome, enquanto 45,9% querem que mantenha sua candidatura.
Entretanto, as coisas não são simples assim. O segundo gráfico do Ipespe mostra que 40% do total esperam que Bolsonaro venha a ser beneficiado por anistia ou revisão do processo, adquirindo, portanto, condições de estar presente na urna. Entre os bolsonaristas, chega a 70%.
Esses números sugerem as consequências da decisão do STF. Bolsonaro, réu e com ampla expectativa de condenação, assistirá insatisfeito uma maior movimentação dos pré-candidatos do seu campo para ocupar o espaço legalmente vago.
Em seu favor, ele pode contar com a garantia de um comparecimento expressivo dos seus seguidores às ruas, animados pela expectativa de que poderá concorrer. A partir das manifestações que começaram no Rio e chegarão a São Paulo, combinadas com a campanha da anistia no Congresso, ele constrangerá os nomes da direita que se arvoram em disputar seu espaço.
O governador Tarcísio, ciente disso, fez-se presente em Copacabana, e certamente não faltará aos próximos eventos, a despeito dos desgastes a que se expõe nas redes, buscando assumir a posição de sucessor “natural”, absolutamente “leal”, e melhor posicionado nas pesquisas que os familiares do ex-presidente.
No ranking de presidenciabilidade, Lula sai na frente, mas Tarcísio ganha no saldo
No pelotão da frente, na resposta à indagação se, independente do seu voto, o eleitor acha que “seria um bom presidente”, Lula marca 40%, seguido por Tarcísio, com 35%, Haddad com 33%, e Eduardo Bolsonaro, com 30%.
O presidente fica cinco pontos acima do governador de São Paulo, mas na resposta contrária (“não seria”) Tarcisio tem vantagem de dez pontos: é apontado por 47%, ao passo que Lula por 57%.
Ou seja, considerando-se os saldos (“seria” menos “não seria”) o governador obtém o menor saldo negativo do ranking (-12 pontos), enquanto o presidente viria em segundo com -17 pontos. Ele tem ainda um grau de desconhecimento de 15 pontos, maior como se vê na tabela (16% versus 1% de Lula).
Esse ranking é resultado de uma mesma pergunta (que pode ser vista abaixo do gráfico) repetida para cada um dos dez nomes testados. Simples, compreensível e direta.
Como variável, a “presidenciabilidade” tem um grande poder preditivo, sendo reconhecida na literatura de ciência politica como um forte indicador do apelo do candidato, porque consegue sintetizar variadas percepções de atributos dos nomes testados (competência, preparo, integridade, capacidade de articulação, entre outras), além do grau de conhecimento dos mesmos.
Nessa etapa, para projetar a força futura de uma eventual candidatura, é muito mais eficaz que as perguntas de intenção de voto necessariamente baseadas em listas arbitrárias.
Índice CNN: Lula aprovado por 41%; para o incumbente, o que vale mesmo é sua aprovação
Como comentei no artigo anterior, para o candidato em cargo executivo que concorre sentado na cadeira que estará em jogo, a variável chave é a “aprovação” do seu trabalho, do seu governo, mais que qualquer outro indicador, incluindo a “presidenciabilidade” ou “intenção de voto”, que nesse caso específico (incumbente) sempre estarão estreitamente relacionadas a ela.
O Índice CNN de março — média de todas as pesquisas realizadas — mostra a “aprovação” caindo dois pontos em relação a fevereiro, chegando a 41%, e a “desaprovação” oscilando um ponto para cima, atingindo 54%.
Com esses números, seria impossível ao presidente se reeleger, caso a eleição fosse disputada em breve, independente da força eleitoral que os possíveis adversários tenham no momento. Para ele se mostrar competitivo precisará reconquistar 45% de aprovação. E aproximar-se dos 50% para voltar a ser visto como favorito.
Abordei no programa de fevereiro as causas do mergulho da popularidade do presidente. Agora, cabe um exame atento da evolução dos “saldos”. Ele nos mostra que a queda vem tendo sua intensidade reduzida. Janeiro foi o momento da grande inflexão, quando ele passou de +1 para -6, ou seja, um movimento negativo de 7 pontos. Em fevereiro, a queda foi menor, de 4 pontos (-6 para -10); e em março o novo recuo do saldo é de 3 pontos (-10 para -13).
Agregando-se outras informações, é plausível supor que a imagem do governo esteja no momento “deixando de piorar” e que possa vir a recuperar adiante pelo menos alguns pontos dos que teve na primeira metade do governo.
Por que digo isso? Independente das pesquisas, minha longa experiência anterior como consultor de opinião pública e de comunicação de governos aconselha a não se desprezar a “vantagem do incumbente”, onde se inclui o controle da agenda, a iniciativa das políticas públicas, a capacidade de se articular com os outros poderes, e a propaganda governamental. Assim, embora a inflação dos alimentos continue a fustigá-lo, o governo começou a reagir.
Melhorou para o Planalto o volume de notícias positivas no confronto com as negativas. O farto noticiário sobre iniciativas como a isenção do Imposto de Renda para até R$ 5.000, a divulgação do consignado para os celetistas, a intensa movimentação na mídia do novo Ministro da Saúde preenchendo o vazio anterior nessa área, a abertura de mercados na viagem do presidente ao Japão e Vietnã em companhia dos chefes do Congresso, são alguns exemplos nítidos.
Some-se a isso o início de forte publicidade online e off-line das ações do Lula 3.
IDP: Ratinho, Caiado e Lula se destacam na batalha das redes
Dois governadores chegaram ao topo do Índice Datrix dos Presidenciáveis em março, e pelos mesmos motivos: Ratinho Jr., do Paraná (IDP +14,71), e Ronaldo Caiado, de Goiás (IDP +13,61).
Segundo João Paulo Castro, cientista de dados da Datrix, eles são muito bem avaliados em seus estados e ainda pouco presentes nas discussões sobre política nacional — o que significa menor exposição a críticas e ataques. Ao contrário do incumbente, que segue sendo, disparado, o nome mais comentado nas redes entre os concorrentes de 2026 (cerca de 80% do volume total analisado). Lula já esboçou reação no ambiente das redes, e agora aparece na terceira colocação, com +10,53.
Popularidade digital tem dinâmicas diferentes das avaliações de governo, porque os “defensores” conseguem gerar mais volume de postagens e amplificar os elementos positivos nos algoritmos das redes sociais. Os movimentos do presidente têm deixado o jogo menos negativo para ele, mas é preciso entender como — e se — isso pode virar capital eleitoral no ano que vem.
Ratinho Jr., Caiado e Lula assumiram as primeiras colocações também porque dois nomes de destaque saíram do IDP em março. O cantor Gusttavo Lima anunciou que não vai concorrer a nenhum cargo em 2026 e, ainda no fim de fevereiro, a Justiça Eleitoral determinou a inelegibilidade de Pablo Marçal por oito anos.
Por fim, como ressalta João Paulo Castro, Tarcísio, que vinha se destacando no ranking nos dois primeiros meses do ano, quando sua popularidade parecia imune aos ataques direcionados ao principal aliado, Jair Bolsonaro, viu nesse momento seu índice sofrer forte inflexão, recuando de +28,97 em fevereiro para -1,6 em março.
João Paulo Castro aponta que isso ocorreu muito por conta da maior visibilidade de sua aproximação com o ex-presidente, e também pelo grande volume de críticas nas redes às ações da Polícia Militar paulista.
A Datrix lembra que a performance digital dos potenciais candidatos é medida de forma original nesse Índice com notas que vão de -100 a + 100, combinando três grandes dimensões: engajamento nas redes próprias dos presidenciáveis, comentários em páginas da mídia, de influenciadores e de outros políticos, e a tonalidade das postagens numa escala de muito positiva a muito negativa.
Milhões de dados das mais importantes plataformas (X, Facebook, Instagram, Threads, Bluesky, YouTube, entre outras) são extraídos e analisados com Inteligência Artificial).
Você pode assistir a esse programa e ao anterior no site da CNN.
Falta um ano e seis meses para a eleição de 2026.
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