Gleisi, que tinha divergências com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando estava na direção do PT, elogiou as propostas defendidas pelo colega na área econômica. “Estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas desse governo. As pautas que você conduz e que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego, do crescimento e da renda”, declarou. Os presentes aplaudiram a declaração da ministra.
A nova chefe da Secretaria de Relações Institucionais afirmou, ainda, que terá como objetivo nas primeiras semanas de trabalho trabalhar pela “consolidação de uma base de apoio estável (ao governo no Congresso), já a partir da votação do Orçamento de 2025, para avançarmos na agenda legislativa, essencial e urgente este ano para o povo brasileiro”.
“Dessa agenda, eu quero destacar, por seu sentido transformador, a isenção do imposto de renda para os que recebem até R$ 5 mil por mês. Uma questão de justiça. Hoje, presidente, uma professora que ganha R$ 5 mil paga 27,5% de imposto de renda, enquanto cerca de 150 mil pessoas que ganham muito pagam menos de 10% de imposto”, afirmou.
Ela ainda ressaltou que a política deve ser feita para “para somar, reconhecendo as diferenças, respeitando adversários, construindo alianças, cumprindo acordos legitimados no interesse maior do País e da população”.
“Ninguém faz nada sozinho. Esta é uma das distinções fundamentais entre o exercício democrático da política e os projetos autoritários de poder”, disse Gleisi. A nova ministra agradeceu aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pela presença na cerimônia de sua posse e disse que quer manter uma “relação respeitosa, franca, solidária e direta” com os dois. “Nós vamos ter uma atuação conjunta em defesa do povo e do País”, disse a ministra, que era presidente do PT e é conhecida por sua postura combativa.
“Não tenham dúvidas, estarei sempre aqui para conversar, ouvir críticas e apoiar sugestões”, disse Gleisi. A ministra se dirigiu às lideranças dos partidos que integram a base do governo no Congresso e disse que vai “ser companheira para a gente resolver problemas e construir soluções”.
Ela entra no lugar de Alexandre Padilha, que nesta segunda-feira, assumiu o Ministério da Saúde. A mudança faz parte da reforma ministerial que o chefe do Executivo realiza com foco em frear sua queda de popularidade e preparar a gestão para a reeleição petista em 2026.
Integrantes do governo avaliam que a nova ministra adotará uma postura de governo mais combativa e defensiva em relação à gestão federal, que será caminho considerado essencial para o governo trilhar para 2026. Outro ponto que seu perfil agregará, segundo aliados petistas, é em relação à negociação das emendas parlamentares, pivô da atual crise política entre os Poderes. O impasse das emendas é avaliado como o principal tópico que o ministério terá que enfrentar neste ano.
A ida de Gleisi para a SRI enfrentou resistências tanto da oposição como de integrantes da base do governo. Para parlamentares, a postura aguerrida da deputada pode ser um empecilho para o governo ampliar sua base e conquistar votos no Congresso. Na opinião de deputados do Centrão, o ministério das Relações Institucionais deveria ser ocupado por um nome com mais trânsito entre as diferentes forças políticas, o que já não era visto com Padilha, muito menos se daria com Gleisi.
Porém, para interlocutores do Palácio do Planalto, Gleisi deverá amenizar seu perfil, uma vez que estará submetida agora ao chefe do Executivo, e não mais será a presidente do PT. A expectativa de aliados é que a parlamentar passe a evitar críticas que possam prejudicar o governo, mas não deve abandonar sua atividade nas redes sociais em defesa da gestão federal.
Uma das principais preocupações com sua nomeação foi a situação do ministro da Fazenda. A nova titular da articulação política é crítica da agenda econômica liderada pelo ministro. Sob o comando da deputada, o PT aprovou em dezembro de 2023 uma resolução que chamou a proposta de contenção de gastos do ministro de “austericídio fiscal”. O documento representou a posição institucional do partido, mas teve o conteúdo endossado por Gleisi.
Apesar disso, integrantes da gestão afirmam que Haddad não está enfraquecido nos olhos de Lula, mas que permanece com força na gestão federal. Com as rusgas entre os dois, interlocutores acreditam que Gleisi deverá obediência ao presidente e, por conta disso, evitará críticas ao ministro. Para o governo, isso seria visto como uma deslealdade.
Natural de Curitiba, Paraná, Gleisi é formada em Direito e iniciou sua trajetória política como militante no movimento estudantil. Em 1989, filiou-se ao PT. Foi eleita senadora em 2010 pelo Paraná e foi ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff. De 2017 a 2025, foi presidente nacional do PT e consolidou-se como uma das figuras mais influentes da legenda.
Antes de presidir o partido, atuou como secretária nos governos petistas de Zeca (PT), no Mato Grosso do Sul, e de Nedson Micheleti (PT), em Londrina. Também integrou a equipe de transição do primeiro governo Lula e assumiu uma diretoria da Itaipu Binacional.
Leia menos