Loba solitária
A governadora Raquel Lyra celebra, hoje, em ato no Recife, a sua transferência do PSDB para o PSD sem levar um único prefeito para a sua nova legenda, uma espécie de loba solitária. Se o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que estará presente ao ato, alimenta expectativas de crescimento da legenda no Estado, deve voltar para São Paulo, seu Estado natal, desapontado.
Na política, dificilmente lobos solitários obtêm sucesso, porque é um jogo pesado, que se baseia e se sustenta na premissa básica em torno de grupos sólidos e estruturados, liderados por alguém com forte poder de decisão e influência. Ninguém governa sozinho! Raquel está mudando de partido no meio do seu mandato porque, teoricamente, o PSDB virou uma legenda nanica, tende a ser fundida ao Podemos. E, mais do que isso, faz oposição a Lula.
A quem, diga-se de passagem, a governadora quer ficar mais próxima. Mas não é estranho ela chegar a um novo partido sem a solidariedade de um único prefeito? Na história republicana, desconheço um só governador que, ao optar por uma nova militância partidária, não tenha levado o seu exército de aliados para tentar vencer a batalha.
Leia maisDiferente de deputado e vereador, prefeito não depende de janela partidária para mudar de legenda. Pode trocar de partido a hora que quiser, que achar mais conveniente. Em Pernambuco, o PSD é um partido nanico. Embora tenha saído de 14 para 20 prefeitos eleitos no pleito passado, não tem representação na Câmara dos Deputados tampouco na Assembleia Legislativa.
O que Kassab espera de Raquel? Que o PSD, sob o seu comando a partir de agora, ganhe musculatura, receba prefeitos e possa formar chapas competitivas para a Alepe e Câmara Federal. Do jeito que o partido está hoje em Pernambuco, corre o risco de não conseguir sequer eleger um só deputado, seja estadual ou federal, pelas dificuldades de formação de chapas.
Kassab quer eleger uma bancada federal expressiva nas eleições de 2026. Seu partido saiu das urnas municipais na liderança do ranking em número de prefeitos eleitos, mas o que interessa e estará em jogo é a garantia da eleição de muitos deputados federais no País inteiro, para que o PSD cante de galo no Congresso e possa ser forte ator no futuro governo, seja com o PT ou um candidato que derrote o Governo.
Em Pernambuco, Raquel vai conseguir a façanha de eleger uma expressiva bancada federal? Difícil! Hoje, no partido, só existe um candidato a federal conhecido no meio político, o ministro da Pesca, André de Paula, que precisa de uma chapa robusta, com gente que tenha votos para fazer a chamada cauda eleitoral. Do contrário, nem ele se elege.
POÇO DE MÁGOA – O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, é um poço de mágoa com a governadora Raquel Lyra. Na última conversa que tiveram, ela garantiu que não iria deixar o partido agora e que se houvesse uma mudança de estratégia ele seria consultado. Aos aliados mais próximos em Brasília, Perillo diz que a direção nacional do PSDB fez uma aposta errada em Pernambuco. Só do fundo eleitoral, como candidata tucana em 2022, Raquel foi contemplada ao longo da campanha com R$ 30 milhões. Já nas últimas eleições municipais, o partido no Estado recebeu mais de R$ 7 milhões.

Controle tucano – Se o PSDB não serve mais para Raquel, por que forçou a vice-governadora Priscila Krause a fazer o caminho inverso, ou seja, sair do Cidadania para a legenda tucana, vista pela governadora como o retrato da decadência? O que se ouve nos bastidores é que ela quer manter o controle do agora ex-partido, que poderia cair nas mãos do presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, hoje muito mais próximo ao projeto majoritário de João Campos em 2026.
A espera de um sinal – Único prefeito citado no noticiário que poderia seguir para o PSD, hoje, com Raquel, Severino Ramos, de Paulista, disse ao blog que isso ainda dependerá de uma conversa com a governadora. “Não conversei nada sobre isso, mas sigo com a governadora se ela precisar de mim no novo partido”, afirmou. Ele acha que a governadora só vai tratar da transferência de prefeitos e aliados para o PSD numa outra etapa. “Há muito tempo para isso”, raciocina.
Virou nanico – Com a saída de Raquel Lyra, o PSDB passa a ter dois governadores, Eduardo Riedel e Eduardo Leite, do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul, respectivamente. Já o PSD chega a três, com Ratinho Júnior, do Paraná, e Fábio Mitidieri, do Sergipe, além da futura ex-tucana. Eleita em 2022, Raquel era cortejada pelo PSD desde meados do ano seguinte, conforme admitiram dirigentes da legenda. Além do enfraquecimento dos tucanos, que tiveram seu pior desempenho da história nas eleições de 2022, um dos argumentos era o objetivo da governadora de se aproximar do governo Lula (PT), que tem apoio expressivo no Estado — o PSDB faz oposição ao petista, enquanto o partido de Gilberto Kassab chefia três ministérios.

Reverter popularidade – Após ser aclamado presidente interino do PT, o senador Humberto Costa disse que o principal desafio do partido é reverter a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e construir a unidade interna. “Vamos contribuir para ultrapassar esse momento de dificuldade que estamos vivendo em termos de popularidade do governo e unir o PT para o processo de eleição direta, com voto dos filiados, em julho”, afirmou. “Será um grande processo de renovação para chegarmos às eleições de 2026 com nosso presidente candidato a novo mandato”, acrescentou.
CURTAS
ELEIÇÃO – Na condição de presidente interino do PT, Humberto convocará o Diretório Nacional em até 60 dias. É uma exigência do estatuto, em caso de renúncia ou licença do presidente, para oficializar o nome do substituto. No dia 6 de julho, o PT promoverá eleições diretas para renovar sua direção em todo o País.
CRISE – A exemplo de Lula, que enfrenta o pior período de todos os seus mandatos, o PT vive uma crise, dividido em várias alas que não se entendem sobre os rumos do partido e do governo. Há os que pregam uma guinada à esquerda e outros que defendem a necessidade de diálogo com todos os setores para pôr fim à polarização no País.
DUELO – O ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, é o favorito de Lula para comandar o PT a partir de julho, mas sua candidatura tem enfrentado resistências em seu próprio grupo político justamente por ele propor mais diálogo e menos enfrentamento. Com o racha, uma ala do PT quer agora que Humberto entre na disputa com Edinho, em julho, mas, até o momento, ele não manifestou interesse nesse duelo.
Perguntar não ofende: Raquel vai cuidar de recuperar a imagem do seu governo ou se dedicar a uma nova missão partidária no PSD?
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