Por Milton Coelho*
Sob grande expectativa, o Governo Raquel Lyra reuniu o Secretariado para avaliar os 100 primeiros dias de gestão. Apresentou um documento com 700 páginas que servirá de base para a construção das ações de governo a partir de agora.
Não me surpreende, mas muito preocupa, que só agora a governadora comece a pensar no que fazer no Estado que tem o segundo maior PIB do Nordeste e a décima economia do Brasil.
Leia maisO fenômeno do crescimento econômico de Pernambuco nos últimos 15 anos não foi obra do acaso, nem do improviso, tampouco de queixumes de ninguém. Sem querer trazer lance biográfico, presenciei o então ministro Eduardo Campos, quase dois anos antes das eleições de 2006, arregimentar um grupo de estudiosos que se debruçaram sobre os principais problemas de Pernambuco, especialmente econômicos, com graves consequências sociais, para identificar as soluções possíveis e, assim, elaborar seu programa de governo.
Nesse contexto, nasceram o Pacto Pela Vida, a construção de três grandes hospitais na RMR, hospitais regionais e UPAS, grande aporte de investimentos em infraestrutura, especialmente rodovias, aeroporto, Porto de Suape, interiorização das universidades públicas e a revolução na educação, que saiu dos piores índices de avaliação do País para a posição de liderança.
Como consequência da implantação de uma gestão inovadora, com visão de futuro, que planejava para realizar, o Pernambuco de hoje é irrefutavelmente diferente do que era em 2007, cujos conquistas o governador Paulo Câmara soube manter até o final do seu governo.
Para ilustrar, em 2007 o PIB de Pernambuco era de 62.459.000,00 (sessenta e dois bilhões, quatrocentos e cinquenta e nove milhões de reais) e em 2022 chegou a 193.307,000,00 (cento e noventa e três bilhões, trezentos e sete milhões de reais), segundo o IBGE. No Nordeste, é menor apenas do que a Bahia.
A pauta das exportações de Pernambuco, que foi essencialmente agrícola em 500 anos, sustentada na cana-de-açúcar, acabou superada pela exportação de derivados de petróleo, por conta da refinaria e veículos automotores.
Ao contrário do restante do País, o peso da indústria aumentou em Pernambuco nos últimos 16 anos. Não se atinge resultados tão expressivos sem planejamento, trabalho, e à base de muito diálogo com as instituições e com as forças vivas da sociedade.
As 700 páginas ocas do Governo do Estado trazem preocupante sinal. É um rosário de queixas que não aponta para o futuro, não indica rumos para novas conquistas, não usa a palavra diálogo uma única vez. O documento traduz, a meu ver, adesão à cartilha bolsonarista, que vai além das nomeações para cargos de segundo e terceiro escalões, por repetir o comportamento apofático do ex-presidente.
Até aqui parece sem importância para o atual Governo do Estado a negação de projetos consolidados ou em andamento, mesmo que prejudique milhões de pernambucanos. A prioridade é ignorar avanços e instalar o caos. A continuar nessa marcha, quem viver verá o desmantelo na área de segurança e a debacle na educação, progressos duramente conquistados.
Na assistência social, por exemplo, o governo ignorou a lei e se recusou a pagar o 13º do Bolsa Família para 1.190.000 famílias em extrema pobreza, que deveria ter sido pago em 20 de fevereiro.
Para quem passou por cima de uma lei ou de contratos legais, como os convênios com os municípios para financiar obras essenciais, negar os acordos para a construção de uma ferrovia alternativa à Transnordestina (solução construída pelo governo Paulo Câmara e a empresa Bemisa) e a vinda da Escola de Sargentos do Exército para Pernambuco não custou nada à governadora.
Ela não se inteirou dos processos e tem agido como se os temas estivessem na estaca zero. Essa é a cartilha que Bolsonaro utilizou em seus quatro anos de desgoverno. O resultado, todos conhecemos: desmonte das políticas públicas, embalado em um falso moralismo para, na verdade, esconder sua sanha autoritária.
*secretário nacional da Micro e Pequena Empresa
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