Impacto
Segundo Edvania Torres, as diretrizes dos novos Planos Diretores, estabelecidos desde a gestão do então prefeito Ubiratan de Castro, bem como as políticas habitacionais que elegeram Olinda para a construção das COHABs, principalmente em Rio Doce, tiveram um impacto significativo na dinâmica socioespacial da cidade.
“A chegada desse novo contingente populacional impactou fortemente na dinâmica socioespacial, com demandas de novos serviços e mudanças nos quarteirões das orlas”, afirmou a geógrafa.
Francisco Cunha ressaltou que Olinda, até o início do século 20, era predominantemente uma cidade de veraneio e passou por diferentes momentos de decadência e recuperação. “No início do século 20, Olinda parou no tempo, o que permitiu seu tombamento como Patrimônio da Humanidade”, afirmou ele, ressaltando a importância da preservação da parte histórica, apesar dos desafios do planejamento urbano.
Bancos, restaurantes, clínicas, supermercados e outros serviços se instalaram nas Avenidas Getúlio Vargas e José Augusto Moreira, nas proximidades da Avenida Beira-Mar. O bairro de Casa Caiada, um dos 31 de Olinda, foi impactado pelo crescimento e passou de predominantemente unifamiliar e residencial para uma área de grande verticalização.
Desde a metade do século 20, Olinda passou por um processo de urbanização acelerada. A construção de novas infraestruturas e a ampliação de vias mudaram radicalmente a face da cidade. No entanto, essa modernização nem sempre foi acompanhada por um planejamento urbano eficaz, resultando em desafios para a mobilidade e para a preservação dos locais históricos.
O historiador Osvaldo Bruno afirma que bairros como Jardim Atlântico e Rio Doce surgiram só a partir dos anos 1970, quando políticas habitacionais trouxeram novas populações para a cidade. “Não houve planejamento urbano porque nos anos 70 a população foi chamada pelo governo para habitar Olinda. A partir disso, as pessoas começaram a construir sem nenhuma estrutura”.
Com a expansão urbana, a mobilidade entrou no debate. Se por um lado as novas avenidas facilitaram o acesso, por outro, o aumento do fluxo de pessoas e veículos trouxe problemas para quem se desloca para trabalhar em outros municípios. A cidade, atualmente, abriga quase 400 mil habitantes.
O arquiteto Alexandre Mesquita enfatizou a falta de planejamento urbano eficiente ao longo dos anos, especialmente nas áreas mais afastadas.
“A região próxima à divisa com Paulista praticamente se tornou outra cidade, outro bairro”, afirmou o arquiteto, destacando a necessidade de uma infraestrutura adequada para essa área, que frequentemente envia seus trabalhadores para outras cidades. “Olinda não pode ser apenas um dormitório. É preciso criar empregos e ter uma movimentação urbanística mais correta”, alertou.
Orla
O professor e arquiteto Alexandre Mesquita ressaltou o impacto econômico e residencial nas orlas, que passaram por grande crescimento urbanístico. Ele apontou, no entanto, a necessidade de um tratamento mais humano e focado no usuário. “Os equipamentos urbanos precisam de manutenção, e é necessário ampliar as faixas de circulação”.
Já o urbanista Francisco Cunha também mencionou que, nos últimos cem anos, Olinda “terminou crescendo desordenadamente”, o que resultou na precariedade do planejamento urbano, especialmente nas áreas litorâneas.
De acordo com a geógrafa, até o início do século 20, as áreas compreendidas pela orla de Olinda eram ocupadas por residências unifamiliares e destinadas principalmente ao veraneio. Segundo ela, a prefeitura sancionou, em 1906, a Lei nº 207, que visava estimular a edificação e o povoamento, mas apenas a partir da década de 1970 é que houve um crescimento significativo. “De 1950 para 1970, a população de Olinda saltou de 62.435 para 196.152 pessoas”, destacou.
Avenida
Edvania também falou sobre as mudanças na Avenida Dom Hélder Câmara, lembrando que o acesso a Olinda se dava por bondes cujos trilhos foram assentados em aterros nos manguezais existentes à época.
“Hoje, quem passa pelo Complexo Viário que se delineia com o Espaço Ciência, o Memorial Arcoverde, a Escola de Aprendizes Marinheiros, o Centro de Convenções e o Shopping Tacaruna, não imagina que até 1906 só existia a Usina Bulhões, posteriormente Fábrica Tacaruna, hoje em ruínas”, disse.
A geógrafa observou ainda que a Avenida Dom Hélder Câmara conta com vestígios de antigas intervenções, como as passarelas erguidas na década de 1990, que hoje também estão em ruínas.
Mercado Eufrásio Barbosa
O Mercado Eufrásio Barbosa, que já foi um centro vital de comércio local, também enfrentou mudanças significativas em sua estrutura e função ao longo das décadas.
Após uma completa requalificação estrutural, foi transformado em um grande Centro de Cultura Popular, reinaugurado em 2018. O espaço de 6 mil metros quadrados conta com salas de exposição permanentes e temporárias, além de locais para oficinas, feiras e um novo teatro, além de lojas e restaurantes. O Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá foi trazido da Cidade Alta para o Mercado, ocupando duas salas no local.
Graça
A Igreja de Nossa Senhora da Graça foi construída em 1551 por Duarte Coelho Pereira, donatário da capitania de Pernambuco para promover a catequese indígena com a ajuda dos jesuítas.
A igreja passou por várias ampliações, como as lideradas pelo padre Luiz Grã e pelo arquiteto jesuíta Francisco Dias, tornando-se um importante centro de educação e catequese. Após a invasão holandesa em 1630, o templo foi restaurado.
O local se tornou um seminário após a expulsão dos jesuítas em 1759, por ordem do Marquês de Pombal.
*Jornalista do Diario de Pernambuco
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