Tomei um susto com a notícia da venda da rádio Liberdade, a mais ouvida e qualificada de Caruaru, xodó do saudoso Luiz Lacerda, que Deus já chamou, com quem convivi e admirava profundamente. Dei a notícia sem acreditar, porque a Liberdade é um patrimônio de Caruaru. A compra se deu por um grupo baiano. Fala-se num valor da ordem de R$ 5 milhões.
Susto maior tive ontem com a notícia de que o novo grupo acionista da emissora, que é a cara de Caruaru, havia demitido sumariamente o radialista Ivan Feitosa, baita profissional que dirigiu a rádio por mais de três décadas e a fez líder de audiência na capital do forró desde o momento em que colocou os pés na empresa até ontem, quando se despediu da sua aguerrida e competente equipe.
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Não é por acaso que quando olho para Ivan, amigo que aprendi a admirar no radiojornalismo, enxergo uma rádio ambulante. De tanto viver, saborear, dominar e curtir o mais antigo veículo de comunicação de massa do mundo, que é o rádio, Ivan virou uma mesa de som, sua cara é sonoplastia, sua boca um microfone, seus ouvidos uma antena, suas mãos um transmissor.
Ivan nasceu para o ofício do rádio. Ele transforma qualquer microfone em estúdio, qualquer auto falante em rádio e assim radia a sua comunicação. Que besteira tremenda fez o novo proprietário da Liberdade! Abrir mão do talento, da capacidade criativa e inovadora de um profissional do porte de Ivan Feitosa é como deixar de escalar um Pelé em qualquer seleção.
Ivan não só faz gols com o microfone nas mãos. Ele é um baita empreendedor, um vendedor de ideias comerciais fantásticas. Num comunicado pelas redes sociais, o agora ex-craque da Liberdade lembrou sua trajetória.
Assim escreveu: “Em 93, assumi a liderança da equipe esportiva “Seleção do Povo”, composta por um time talentoso de comunicadores. Com eles, realizamos jornadas memoráveis, garantindo, por três vezes consecutivas, os direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo, em parceria com a TV Globo, licenciada pela FIFA.
Formamos uma rede de emissoras em Pernambuco, Alagoas e Paraíba, proporcionando oportunidades de crescimento a muitos profissionais em um evento de grande magnitude. Pouco tempo após, meu querido e inesquecível amigo Fernando Caminha me convidou para assumir a gerência comercial das emissoras.
Como um apaixonado pelo rádio, não poderia recusar o convite. O sucesso foi tão grande que, em poucos meses, decidi encerrar as atividades da minha agência de propaganda, a IF Publicidade. O reconhecimento de Luiz Lacerda e Fernando Caminha veio em 30 de dezembro de 1994, quando fui presenteado com o carro dos meus sonhos: um Fiat Tipo, zero quilômetro”.
No dia 5 de dezembro de 1995, exatamente no aniversário de seu Luiz, assumi o cargo de Diretor-Geral do Sistema Liberdade, para a alegria da minha família e uma grande surpresa para mim. Ao enviar minha carta de intenções, seu Luiz aceitou todos os meus deveres, mas contestou o salário que propus. Quando perguntei o motivo, ele respondeu de forma surpreendente: “Esse salário é baixo para o que você vai representar para a minha empresa. Quero te ver morando melhor, vestindo-se melhor, frequentando os melhores restaurantes, e adicionando um percentual sobre o lucro da empresa. Afinal, você será a cara da Liberdade.
Que gratidão tenho por seu Luiz, amigo, patrão e conselheiro! Poucas pessoas têm essa visão tão aguçada no mundo de hoje. A partir daí, o céu foi o limite. A Rádio Liberdade cresceu e se consolidou como uma das emissoras mais representativas do Nordeste, liderando a audiência por 18 anos consecutivos e se tornando uma referência na radiodifusão regional”.
Que legal e emocionante! Lembro que o tempo se encarregou de fazer Ivan presidente da Associação das Emissoras de Rádio e Televisão de Pernambuco. Na função, emprestou seu talento a tanta gente do meio, mas nunca quis sair de Caruaru.
Não tenho dúvida de que seu passe, embora não esteja à venda, vai ser disputadíssimo no mercado da radiofonia de Caruaru. Lá de cima, seu Luiz Lacerda, o segundo pai de Ivan, deve estar dizendo: “A liberdade perdeu a sua cara”.
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