É importante colocar Cid Moreira como padrão de comportamento do telespectador antes da virada do século (ele estreou em 1969 e saiu em 1996).
As pessoas paravam na frente da TV e respondiam ao seu “Boa Noite” de entrada e o de despedida. E são conhecidas as histórias que chefes de famílias que repreendiam os filhos por eles estarem sem camisa para ver o Jornal Nacional apresentado por ele ao lado de Sérgio Chapelin.
Então, a importância do Cid Moreira para o jornalismo é icônica e, certamente, foi a sua voz que deu credibilidade ao texto que lia e que não era escrito por ele.
Cid Moreira, é importante se registrar, não editava o que lia às 19h45. Ele chegava antes, via o script porque era perfeccionista, e não se permitia errar. Mas isso é detalhe da produção da TV Globo que tem melhores informações para divulgar nesta quinta-feira de despedida.
O que é importante destacar aqui é o Cid Moreira visto a partir do botão do play que o conecta ao telespectador do Jornal Nacional. Foi a voz gutural e forte que nos fez ouvir os movimentos das primeiras manifestações da campanha pelas Diretas Já, e das notícias de crise e morte como a de Tancredo Neves em 21 de abril de 1985 quando choramos juntos antes do final do JN sem som.
Então, o Brasil dos Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e da Geração X ( nascidos entre 1965 e 1980) cresceram e se informaram pelo Jornal Nacional na voz de Cid Moreira.
É importante ter ele em perspectiva histórica de um Brasil que estava se descobrindo para a Democracia e foi pela voz de Cid Moreira que o país ouviu Ulisses Guimarães dizer que a constituição aprovada em 1988 foi a Constituição Cidadã.
De certa forma, Cid Moreira é o responsável pela estética do noticiário de TV no final do século XX que nos trouxe ao modelo atual de William Bonner e Renata Vasconcellos, cuja presença na bancada feminina foi aberta por Lilian Witte Fibe.
Essa estética é claro que teve influência do padrão americano que a TV Globo adotou e que contava-se em notícias curtas com matérias mais longas, resultado de grande apuração pelos repórteres e correspondentes da TV Globo ao redor do mundo.
E depois que, com a proximidade da virada do século, esse modelo foi aperfeiçoado e nos trouxe ao padrão atual bem mais solto e com texto trabalhado pelo editor que o assina e que agora responde por ele legalmente junto com a emissora.
A importância de Cid Moreira e Sérgio Chapelin é tão forte para o modelo do JN que ele continua sendo ancorado no formato de dois apresentadores na bancada robótica dentro de uma redação que todo telespectador tem vontade de conhecer e fazer uma selfie. Mas o padrão é o mesmo que Cid não entregou por mais de 8 mil apresentações.
As pessoas dizem que o Cid ficou conhecido seja pelas participações no Fantástico ou pelas leitura dos Salmos em CDs vendidos junto com as assinaturas de jornais.
É verdade, mas o que importa para a história do jornalismo de TV é aquela sua imagem de terno e gravata cuja lapela larga nos revela um padrão de moda masculina hoje marcada pelos terno mais ajustados, mais curto, e de lapela estreita visíveis quando, por exemplo, William Bonner sai da bancada para ouvir a previsão do tempo.
Então, pode-se escrever terabytes sobre Cid Moreira, mas o que é importante ficar claro para a História é o “Padrão Cid Moreira” de falar com a câmera contando uma história com credibilidade.
O que o torna ainda mais importante nos dias de hoje quando até para essa “ninguenzada” que produz fake news usa (desonestamente) o jornalismo de marca para dar um pseudo credibilidade as mentiras que produz e cuja origem está naquele Boa Noite que até hoje milhões de telespectadores respondem a William Bonner e Renata Vasconcellos.
*Colunista do Jornal do Commercio
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