Um vice que incomodava Joaquim
Chamado por Deus, ontem, aos 83 anos, o empresário Roberto Fontes, de Caruaru, teve uma relação conflituosa com o ex-governador Joaquim Francisco (91-94), de quem foi vice. Joaquim confiava em Fontes desconfiando. Tanto que não passou o Governo para ele em 1994, quando teria direito a governar o Estado por 11 meses, caso Joaquim renunciasse para disputar o Senado ou um mandato de deputado federal.
Quando viajava e era obrigado a passar o Governo interinamente para Fontes, Joaquim reclamava de tudo, desde os almoços no Palácio à agenda dele. Boêmio, casado pela segunda vez com uma mulher bem mais jovem, Roberto Fontes promovia verdadeiros banquetes para receber amigos, tanto no almoço quanto no jantar, nas áreas de recepção do Palácio do Campo das Princesas, especialmente no Salão das Bandeiras.
Leia maisIsso irritava profundamente Joaquim, deixando-o com os nervos à flor da pele. Na verdade, o desgaste se deu já na campanha, quando Fontes fazia contatos no meio empresarial que não soavam bem aos ouvidos de Joaquim. Acentuou-se depois da posse, chegando a azedar de vez com o estilo dele de governar o Estado, tomando decisões que na maioria das vezes contrariavam – e muito – o titular do mandato.
Se imaginasse que viria a ter um vice que não rezava pela sua cartilha, Joaquim jamais o teria escolhido. A opção por Roberto Fontes, aliás, caiu como uma ducha fria entre os aliados mais conservadores de Joaquim, especialmente os deputados federais Ricardo Fiúza, Gilson Machado e José Mendonça, que esperavam e torciam por um macielista na vice, como o ex-secretário de Educação, Joel de Hollanda.
Na época cumprindo seu primeiro mandato de deputado estadual, Roberto Fontes foi escolhido vice por ser irmão de Lourinaldo Fontes, empresário bem-sucedido no Estado, com fortes ligações com o ex-presidente Collor, a quem Joaquim apoiou, e seu operador de campanha, o empresário PC Farias. Esta equação ficou clara com o tempo e o elo criado por um dos coordenadores da campanha de Joaquim com o próprio PC Farias.
Vivi tudo isso de perto, como também revelo no meu livro Histórias de Repórter, na condição de coordenador de Imprensa da campanha de Joaquim e ainda em razão de tudo que vi e sei dos bastidores do Governo dele, ao qual servi apenas um ano, pedindo demissão do cargo de secretário de Comunicação.
Uma boa figura – Apesar das indiferenças e queixas de Joaquim, Roberto Fontes era um figuraço. De alto astral, sempre de bem com a vida, gostava de reunir amigos para molhar o bico, contar histórias do arco da velha e rir com piadas envolvendo políticos, notadamente adversários na sua Caruaru. Gostava de fazenda, de vaquejada e de festa de peão, além de ser boêmio e apreciador de um bom escocês.
Piloto frustrado – Roberto Fontes tinha ainda obsessão por avião. Nas viagens em aeronaves de pequeno porte para o interior, tipo Sêneca, durante a campanha, gostava de ocupar a cadeira reservada ao copiloto, de quem assistia verdadeiras aulas, tamanha a sua insistência em aprender a pilotar um avião. Um jornalista amigo meu, que ontem recordava essas estripulias de Fontes, contou que ele só parava de perturbar o piloto depois de um “puxão de orelha” da esposa Ana.
Deslize lamentável – O prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSDB), precisa de melhor assessoramento pelas redes sociais, para não cometer a terrível gafe de postar uma nota de pesar pela morte do empresário Roberto Fontes ilustrada com a imagem de outra pessoa. Em campanha, qualquer deslize passa a ser explorado pelos adversários. A postagem logo viralizou pelas redes sociais dos principais concorrentes do tucano na capital do forró.
A zebra paulistana – O que parecia erro ou uma onda, o surgimento do candidato do PRTB a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, num empate técnico com os mais competitivos, trazido à tona pelo DataFolha, na semana passada, parece ser uma tendência irreversível. Segundo pesquisa do Veritá, que saiu ontem, ele já está em primeiro lugar, passou Guilherme Boulos (Psol), atingindo impressionantes 30%.
Fenômeno eleitoral – Pesquisa do Instituto Opinião, em parceria com este blog, postada acima, confirma o que já estava previsto no cenário das eleições municipais no Agreste Setentrional: Zé Martins (PSB), prefeito de João Alfredo, tende a sair das urnas como um dos mais votados da região. Se as eleições fossem hoje, ele teria 66,9% dos votos, 44 pontos de vantagem sobre Vânia de Oim (Podemos), que aparece com 20,3%. Na espontânea, a diferença é de 54 pontos, um verdadeiro massacre eleitoral.
CURTAS
BRIGA – O presidente da Câmara de Limoeiro, Daniel do Mercadinho (Podemos), e seu colega de parlamento, Beto de Washington (PSB), proporcionaram uma cena horrorosa na sessão de ontem, e por pouco não trocaram tapas em plenário. Tudo por causa da votação das contas do prefeito Orlando Jorge (Podemos), com aprovação dada como certa. O presidente queria postergar.
ILEGALIDADE – Mesmo sabendo que é ilegal a distribuição de camisas com propaganda política, o candidato do Podemos a prefeito de Arcoverde, Zeca Cavalcanti, encheu a cidade com lotes de camisas amarelas e pode receber uma nova multa da Justiça Eleitoral. A decisão partiu do Juiz Eleitoral da 57ª Zona, Dr. Cláudio Márcio Pereira.
RADARES – A Prefeitura do Recife deflagrou pela CTTU a reinstalação de equipamentos de fiscalização eletrônica de trânsito. Desligadas desde o início deste ano devido ao fim do contrato operacional, lombadas eletrônicas estão sendo recolocadas em alguns pontos da cidade. A reinstalação terá como prioridade locais onde já existiam equipamentos.
Perguntar não ofende: Do jeito que cresce nas pesquisas em São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) pode ganhar a eleição de prefeito no primeiro turno?
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