Bolsonarismo sobrevive até no Recife
Na passagem, ontem, pelo Recife e Olinda, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve uma acolhida além da expectativa, segundo avaliadores aliados dele no Estado e de assessores que vieram de fora para acompanhá-lo. Uma prova de que o bolsonarismo, mesmo em território lulista, continua mais vivo do que imagina.
Se isso vai se traduzir em votos para os candidatos a prefeito do PL, partido do ex-presidente, no Estado, não se sabe. Candidato a prefeito do Recife, o ex-ministro Gilson Machado aposta na força e na popularidade de Bolsonaro para alavancar seu projeto eleitoral na capital.
Leia maisExpectativa semelhante revela Isabel Urquiza, em Olinda; Fernando Rodolfo, em Caruaru; e Lara Cavalcanti, em Petrolina. Transferência de voto, entretanto, é algo muito difícil de se concretizar. Que o diga Marília Arraes, que perdeu para prefeita do Recife, em 2020, e para governadora, em 2022, tendo Lula como cabo eleitoral.
E olhe que Lula ainda pode ser considerado um “deus” no Nordeste, especialmente nos grotões! No Recife, nunca teve essa força, tanto que João Campos (PSB) foi eleito enfrentando-o e o PT, juntos. Se Lula não está com essa força toda, imagine Bolsonaro, de baixa densidade eleitoral no Nordeste.
Independente disso, o fato é que Bolsonaro foi ovacionado em vários cantos por onde passou, ontem, no Estado, a começar pela sua chegada no Aeroporto dos Guararapes, quando foi recebido por uma multidão entusiasmada e eufórica, gritando palavras de ordem para sua volta à Presidência da República.
Mais amado de Olinda? – Em Olinda, depois de percorrer vários trechos de carro, o ex-presidente Bolsonaro fez um discurso de agradecimento pela acolhida. “Quero dizer a vocês do carinho, do apreço e do respeito que tenho pelo povo nordestino. Vocês sabem o que aconteceu ao longo do meu mandato e vocês estão aqui porque eu acho que eu sou o ex-presidente mais amado de Olinda. Ser ex com um bom passado desse é muito bom. E esse divórcio quem fez não foi o povo. Mas vamos lá”, afirmou.
Quase não sobrou um prefeito – O presidente do Tribunal de Contas do Estado, Valdecir Pascoal, entregou, ontem, ao presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Cândido Saraiva, a lista negra dos prefeitos e ex-prefeitos que podem ficar inelegíveis na disputa eleitoral de outubro. O calhamaço é grande, mas precisa de melhores explicações. Se for mesmo 144 prefeitos de 108 municípios que estejam no exercício do cargo, supera a casa dos 70%, porque o Estado tem 184 prefeitos e 1.123 gestores de 404 órgãos fiscalizados, incluindo secretarias municipais, autarquias e empresas públicas.
Haja dinheiro! – O governo Lula deve pagar até R$ 30 bilhões em emendas parlamentares antes das eleições municipais deste ano, maior volume da história para o primeiro semestre do ano e para um período pré-eleitoral. O objetivo é viabilizar obras e acelerar o atendimento à população nos municípios. O Executivo resolveu, em acordo com o Congresso Nacional, repassar uma quantia equivalente a 60% das emendas previstas para 2024 antes das eleições de outubro, uma dimensão que não tem precedentes em anos anteriores. O valor inclui recursos distribuídos sem critérios técnicos, emendas Pix e heranças do orçamento secreto.
Drible na lei – A lei eleitoral proíbe o pagamento de emendas três meses antes da eleição, período que começa no próximo dia 6, com exceção de repasses para obras executadas anteriormente. Manobras do Congresso com aval do governo, porém, mudaram a forma de pagamento de emendas neste ano, gerando dribles à lei eleitoral e tornando a regra ineficaz. Em nenhum período anterior houve tanto recurso para ser gasto em plena campanha.
Dois pesos, duas medidas – O TCU entendeu que o presidente Lula (PT) não precisa devolver o relógio de ouro da marca de luxo Cartier, avaliado em R$ 60.000, que recebeu em 2005, no exercício da Presidência da República, ao acervo patrimonial da União. A tese vencedora foi do ministro Jorge Oliveira, que defendeu que não há lei para especificar os valores e critérios dos presentes recebidos pelo presidente para classificá-los como personalíssimos ou de direito da União. Na prática, esse entendimento da Corte de Contas pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias sauditas.
CURTAS
PRECEDENTE – O antigo chefe do Executivo brasileiro é alvo de um inquérito da PF (Polícia Federal) que investiga um desvio de R$ 6,8 milhões em bens. Com uma posição do TCU de que o presidente não precisa devolver itens de cunho pessoal, nesses casos, joias e relógios, a defesa de Bolsonaro deve ser fortalecida.
REPRESENTAÇÃO – O processo foi instaurado na Corte de Contas a partir de solicitação do deputado Ubiratan Antunes Sanderson (PL-RS), em 2023. Foi aberta uma representação para analisar se Lula deveria devolver o relógio recebido em seu 1º mandato.
NO INVENTÁRIO – O relógio de ouro, modelo Santos Dumont, foi um presente da própria marca francesa de luxo durante visita do então presidente a Paris (França). O item é fabricado com ouro branco 16 quilates e prata de 750 quilates. Consta no inventário de Lula.
Perguntar não ofende: Independente de qualquer decisão, Lula deveria devolver o relógio?
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