Com a morte do jornalista Ivan Maurício, ontem, aos 72 anos, o jornalismo empobrece muito. Ivan era o tipo do profissional que vivia a notícia o dia inteiro, a noite toda, a madrugada adentro. Não se desligava um segundo. Nasceu para o ofício. Ia ao orgasmo quando dava um furo.
E não gostava apenas de jornalismo. A política também estava no seu sangue. Ainda imberbe, nos anos de chumbo, ativista de esquerda, combateu o regime de exceção. Pertenceu a uma geração de ouro do jornalismo pernambucano. Trabalhou com Ricardo Noblat, Ricardo Leitão, Vera Ferraz, Homero Fonseca, Fernando Veloso, João Alberto, Alex e tantos outros.
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Foi do Diário da Noite, da Folha de Pernambuco, do JB e do Diário de Pernambuco. Passou por rádio, televisão e assessorias, com destaque para o cargo de secretário de Imprensa no mandato-tampão do ex-governador João Lyra Neto. Na política, coordenou várias campanhas majoritárias e disputou mandatos, entre eles uma vaga no Senado.
Era inquieto, leitor voraz e criativo. Antes de adoecer, se converteu ao jornalismo online, produzindo uma sinopse da mídia nacional e regional, a qual eu recebia e dela extraia pautas para o meu blog. Ivan era um visionário persistente. Dele, recebi os maiores estímulos quando dei o start do primeiro blog político do Nordeste, ferramenta da qual sou pioneiro há 18 anos.
Com ele, trabalhei também. Fui seu secretário de redação no Diário de Pernambuco na época em que o empresário Eduardo Monteiro arrendou o jornal. Mas, por pouco tempo. Logo, regressei para Brasília para cumprir outras missões do meu amigo Eduardo, entre elas a de chefe da sucursal da Folha e editor do Jornal de Brasília.
Ivan também foi professor e aos focas (jornalista iniciante) ensinou a premissa básica do que é notícia: “Se um cachorro morde um homem, isso não é notícia, porque acontece com frequência, mas se um homem morde um cachorro, isso é notícia”.
Ivan Maurício foi da velha escola de Cláudio Abramo, que pregava que jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter. Ivan passou a vida inteira fazendo o bom jornalismo, da lei maior do jornalismo: dizer a verdade e envergonhar o diabo.
Dizia que o que importava era a informação, não o que o leitor pensava sobre ela. Ivan era também um poeta dedicado, daqueles que acham o rascunho mais sincero do que o publicado. Ele me ensinou, enfim, que uma notícia deve ser como uma minissaia em uma mulher bonita: longo o suficiente para cobrir o assunto, mas curto o suficiente para ser interessante.
Que Deus receba Ivan com tapete vermelho!
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