Magno Martins – exclusivo para a Folha de Pernambuco
Não deve prosperar a fusão do União Brasil com o Avante e o PP, Partido Progressistas. Se formada, as três legendas estariam criando, na prática, a maior federação partidária no Congresso, com algo em torno de 115 deputados. O nó está no seu controle. Principal liderança do PP, o ex-ministro Ciro Nogueira (PP), senador pelo Piauí, não abre mão do comando da federação.
Ele e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), contrariam interesses do presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE). Com 59 deputados, a maior bancada entre os três partidos, Bivar seria escolhido naturalmente presidente da federação, mas Ciro e Lira, que representam a segunda maior bancada, a do PP, 47 parlamentares, não aceitam ficar sem o controle da fusão.
Leia maisO Progressistas, entretanto, foi o partido que mais perdeu cadeiras na Câmara dos Deputados nas eleições de 2022, saindo de 58 para 47 integrantes. Isso, no entender de Bivar, só fortalece o UB, caso a federação venha a ser fechada. Embora tenha o controle de 51% da executiva nacional do UB, Bivar não conseguiu evitar divisão na legenda, inclusive em relação à federação.
O cenário conflagrado preocupa a articulação política de Lula no Congresso. O receio imediato é em relação à margem de apoio para a aprovação de pautas como a criação de uma nova âncora fiscal, a reforma tributária e a proposta de emenda à Constituição (PEC) de deputados do PT que reformula o artigo 142 da Constituição. O dispositivo trata do papel das Forças Armadas, mas a interpretação vinha sendo distorcida por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para justificar uma intervenção militar no País.
A dissidência no União Brasil é formada por deputados que vieram do DEM para viabilizar a fusão com o PSL de Bivar, formando o União Brasil. O núcleo de maior resistência, inclusive à fusão, é liderado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, e pelo ex-ministro da Educação, deputado Mendonça Filho.
O DEM/PFL se manteve na oposição durante todos os governos petistas. Parlamentares e líderes do antigo partido reclamam que Bivar se uniu ao senador Davi Alcolumbre (AP) para negociar os cargos com Lula à revelia da bancada. Eles pressionam o secretário-geral do União Brasil, ACM Neto, que está em viagem ao exterior, a retornar e assumir uma postura combativa contra o que chamam de “adesismo” da legenda.
Segundo o ex-senador José Agripino, vice-presidente nacional do União Brasil, Bivar negociou com o Palácio do Planalto sem a aprovação de ACM Neto, que submergiu após ser derrotado na disputa pelo governo baiano. A participação do União Brasil no governo Lula, por sua vez, desencadeou uma crise interna que ameaça interditar na prática o apoio da bancada à agenda parlamentar do Executivo.
A indicação dos ministros gerou divergência em parte da cúpula da legenda. São filiados ao partido os ministros das Comunicações, Juscelino Filho (MA), do Turismo, Daniela Carneiro, mais conhecida como Daniela do Waguinho (RJ), e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. Este último, apesar de não ser filiado ao União, foi indicado por um dos principais líderes da sigla, o senador Davi Alcolumbre (UB-AP). Os três são ou já foram alvo de investigações por irregularidades.
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