Cidades em alerta pela suspensão da Operação Carro-Pipa no Nordeste

Mais uma vez o Programa Emergencial de Distribuição de Água, conhecido como Operação Carro-Pipa, sofre com suspensão de repasses do governo federal. O problema que já havia ocorrido em março de 2021 volta agora, no fim de 2022.

Nessa quinta (24), inclusive, dez senadores de oposição do Governo Bolsonaro, entre eles o pernambucano Humberto Costa (PT-PE), acionaram o Ministério Público Federal (MPF) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para que a Operação Carro-Pipa seja retomada. Eles também cobram que seja feita uma investigação sobre os motivos que levaram à suspensão. As informações são do Jornal do Commercio.

Reportagem do colunista Carlos Madeiro, do UOL, expôs que o programa, responsável por levar água potável a 1,6 milhão de nordestinos, foi interrompido pelo governo federal em novembro.

“Os fatos apontados na matéria compõem uma situação que demanda a mais pronta intervenção dos órgãos de controle sobre a administração pública, porque se afigura iminência de morte se essa população seguir desassistida da entrega de água potável, cabendo ponderar que nesse contexto as vulnerabilidades se somam: além do não acesso a bem imprescindível ao viver, há, nesse contingente, crianças, idosos, gestantes, pessoas com doenças graves”, afirmam os parlamentares.

Carro-pipa

A operação Carro-Pipa é financiada com recursos do Exército Brasileiro em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Ambos confirmaram ao UOL que a suspensão ocorreu por falta de verbas para continuidade. O MDR diz que alertou o Ministério da Economia sobre a falta de recursos.

“As necessidades de recursos adicionais foram formalmente encaminhadas ao Ministério da Economia, para que seja possível retomar, o quanto antes, a operação”. Ainda de acordo com o MDR, a operação Carro-Pipa atendeu a média mensal de 455 municípios.

O programa é executado há cerca de 20 anos em toda a região rural do Semiárido, abrangendo os estados do Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo.

Em Pernambuco, mais de 500 mil pessoas são afetadas nas 105 cidades que estão aptas para receber água da operação. Em Taquaritinga do Norte, no Agreste do Estado, a Secretária de Agricultura informou que o fornecimento de água já foi interrompido.

Em entrevista à Rádio Jornal, o secretário de Agricultura da cidade, José Pereira Coelho, conhecido como Zeca, pediu sensibilidade por parte do governo federal e disse que a situação é de calamidade.

“É uma situação grave, estamos sem saber o que fazer. Essa água chega e imediatamente são abastecidos esses pontos. Isso foi suspenso, a coisa ficou em situação de calamidade. Apelamos para que o governo federal tenha sensibilidade e atenda a população, com essa falta de água que existe no município”, disse o secretário.

Especialista em saneamento e ex-presidente da Compesa, Roberto Tavares explica que a população mais pobre é a principal afetada pela suspensão dos recursos.

“É preciso seguir com o abastecimento até que iniciativas mais concretas sejam viabilizadas na região. Temos uma obra de infraestrutura, que é a transposição do Rio São Francisco, uma obra pensada há cem anos, que vai resolver o problema, desde que continuem os investimentos. Sempre precisa de complemento. Temos uma população difusa, que não tem tubulação chegando em casa, que precisa do carro-pipa. Essa operação deveria ser complementar aos sistemas de distribuição de água. Quando se fala em cortar recurso, nos preocupa, pois afeta a população mais pobre, que não tem como pagar por carro-pipa”, explicou Tavares.

Por meio de nota, a Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) lamentou a decisão do governo federal em cortar recursos da operação Carro-Pipa. “Foi justamente em um dos períodos mais secos do ano que a União decidiu não garantir um direito universal humano: o acesso à água. Em Pernambuco, 529 mil pernambucanos de 105 municípios ficarão sem água potável”, afirma a entidade.

Ainda de acordo com a Amupe, as associações de municípios do Nordeste já estão em contato com a Confederação Nacional de Municípios (CNM) para viabilizar uma audiência com o Ministério do Desenvolvimento Regional, “a fim de reverter essa situação caótica que afeta o desenvolvimento humano e econômico das regiões atingidas”. 

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Quando Raquel vai cair na real?

A governadora eleita Raquel Lyra (PSDB) está na Europa. Pelas suas redes sociais, tem postado notícias sobre um curso de aprimoramento em gestão pública. Próximo a completar um mês da sua eleição, a tucana vive ainda a lua de mel do glamour da vitória, dando-se até ao luxo de estudar em Oxford, na Inglaterra.

Normal para um País atrofiado como o Brasil, com um hiato de dois meses entre a eleição e a posse. Mas seria muito tempo se os problemas que se apresentam pela frente em Pernambuco não fossem gigantescos para a futura governadora. Dezembro já bateu à porta, com apenas 20 dias úteis de fato, entre as festas de Natal e Réveillon, e nesse exíguo prazo ela terá uma tarefa hercúlea.

Primeiro, na montagem do Secretariado, depois na sedimentação da base de sustentação do seu Governo na Assembleia. Raquel não é resistente aos acordos políticos, mas se não os fizer, não governa. O seu partido só elegeu três deputados estaduais e nenhum federal. O PP já sinalizou, com a candidatura do deputado Antônio Moraes, que quer presidir a chamada Casa Joaquim Nabuco.

A governadora contou no segundo turno com o apoio de vários partidos, entre os quais o MDB e o União Brasil. Historicamente ligado ao senador Jarbas Vasconcelos, que se licenciou para tratamento de saúde, o deputado Raul Henry, atual presidente estadual do partido, que não emplacou a reeleição para a Câmara Federal, terá espaço no governo da tucana?

Dudu da Fonte, que controla secretarias e estruturas de segundo escalões poderosos hoje no Governo do PSB, manterá seus espaços? Miguel Coelho, que apoiou a candidatura dela na mesma noite em que não conseguiu passar para o segundo turno como candidato do União Brasil a governador, será lembrado para uma pasta forte ou periférica? Guilherme Coelho, candidato derrotado ao Senado na chapa de Raquel, vai aceitar dividir poderes com Miguel, adversário político em Petrolina?

As variáveis políticas vão muito mais além, sem contar com a situação financeira e social do Estado. Quando assumiu o Governo herdado do ex-governador Eduardo Campos, seu padrinho político, Paulo Câmara passou dois anos choramingando. Falou em corte de despesas e até demissões. ”Isso é um exercício permanente que todo gestor público vai precisar fazer”, disse ele, à época.

Passou seus oito anos de mandato falando em equilíbrio de contas. “Eu posso garantir que todo nosso planejamento é para que Pernambuco continue com o equilíbrio das contas. É algo muito importante garantir o salário do funcionalismo público para que os serviços continuem funcionando. Pernambuco não pode perder isso”, dizia. Fechou o Governo sem cumprir sequer um terço das promessas, inclusive de dar aumento aos servidores.

Caos na saúde – O maior pepino que se apresenta de imediato para a governadora eleita é a situação da saúde no Estado. Ao longo desta semana, mais um pedaço do hospital da Restauração veio abaixo, com fortes imagens pelas redes sociais. Da Inglaterra, Raquel comentou em seu Instagram: “Lamentável a situação do Hospital da Restauração. Não é a primeira vez que o teto desaba e causa transtornos a quem precisa. É assim que vamos recebê-lo. Meu compromisso é recuperá-lo. Não vai ser do dia para a noite, mas vamos fazer. Tem muito trabalho pela frente”.

O nó da violência – Drama ainda maior está na segurança pública. Em média, dez pessoas são assassinadas por dia em Pernambuco. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública colocou o Estado como o 5º Estado mais violento do País. O resultado teve como base os homicídios em 2021. A promessa de redução anual de 12% na taxa de homicídios no Estado poucas vezes se concretizou nos últimos 15 anos. Para citar como exemplo, Pernambuco registrou 3.100 mortes em 2013 – o menor número do Pacto pela Vida. Já em 2017, houve 5.428 assassinatos – o pior resultado da história.

O drama das drogas – De acordo com a Secretaria de Defesa Social, 70% dos assassinatos em Pernambuco têm relação com as atividades criminais – como o tráfico de drogas. “A violência está relacionada à ilegalidade do tráfico de drogas, que cresce recrutando uma grande quantidade de jovens. O tráfico é muito lucrativo. O crescimento de homicídios acaba sendo consequência inevitável”, avaliou ao JC o sociólogo Luiz Flávio Sapori, um dos colaboradores na criação do Pacto pela Vida.

Liderança em desemprego – Na área social, o grande desafio da tucana será reduzir as crescentes taxas de desemprego. Pernambuco lidera, ao lado da Bahia, a taxa de desemprego no Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), cujos números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na Bahia, a taxa de desocupação foi de 17,6% no primeiro e em Pernambuco atingiu 17,0%. Recife, particularmente, é a campeã entre as capitais do Nordeste em fechamento de postos de trabalho.

Transição na pressão – De Oxford, a governadora eleita Raquel Lyra deu ordens para Priscila Krause, que coordena a equipe de transição, a exigir do governador Paulo Câmara informações sobre a doação de parte do terreno do futuro Espaço da Ciência a um grupo privado para implantação de um Data Center. “Trata-se de um empreendimento que tem como finalidade algo estruturador para a economia pernambucana, que é a chegada dos cabos submarinos, fundamentais para o desenvolvimento do polo tecnológico”, disse Priscila.

CURTAS

SEM RECUO – Apesar das inúmeras críticas com relação ao projeto, o governador Paulo Câmara manteve a decisão, anunciando a cessão de 10 mil m² do lado pertencente a Olinda do Memorial Arcoverde, onde o museu está instalado, para realocação dos equipamentos presentes na área afetada.

PROTESTO – Amanhã, o Espaço Ciência irá realizar uma manifestação, a partir das 13h, para pedir novamente pela anulação da lei do Governo de Pernambuco. A equipe de Raquel quer saber qual será a contrapartida que o Estado receberá em razão da doação realizada para Adepe, para que esta ceda o imóvel às empresas privadas.

Perguntar não ofende: Por que o secretário da Fazenda, Décio Padilha, não se manifesta sobre os números financeiros do Estado repassados à equipe de transição de Raquel?