Por Mônica Bérgamo
Da Folha de S.Paulo
As investigações contra o Banco Master, liquidado em novembro pelo Banco Central, arrastaram de forma inédita o STF (Supremo Tribunal Federal) para o centro de uma crise em que um de seus integrantes é criticado, pela primeira vez, não por seu papel de moderador e julgador —mas como protagonista de acusações de supostas irregularidades.
O contrato de R$ 129 milhões do escritório de advocacia de Viviane de Moraes, mulher do ministro Alexandre de Moraes, com o Master, por um trabalho ainda não esclarecido, deixa um ponto de interrogação que, na leitura de outras autoridades, afeta a imagem do magistrado. E, portanto, a do STF, do qual Moraes é hoje a figura mais emblemática.
Leia maisUma reportagem do jornal O Globo afirmou também que ele tentou interferir junto ao BC (Banco Central) para favorecer a instituição financeira. O ministro guardou até agora silêncio sobre o valor do contrato. O escritório de Viviane também não responde aos questionamentos. Em nota, Moraes desmentiu que tivesse pressionado o BC no caso Master.
O abalo na imagem do ministro elevou a tensão em Brasília, entre integrantes do governo e do próprio STF, e também no mercado financeiro, em SP, que tem interesse direto no desfecho do caso Master.
Em primeiro lugar, há uma percepção de que o caso Master tem potencial para se transformar em um escândalo de grandes proporções, alcançando integrantes do Legislativo, personagens próximos do Executivo — e agora, pela primeira vez, arranhando a imagem do Judiciário.
Ministros e integrantes de escalões diversos do governo Lula se mostram preocupados com a erosão da imagem de Moraes e um abalo, por extensão, na credibilidade do STF. Eles reconhecem a importância do tribunal, e especialmente de Moraes, na preservação da democracia brasileira e se preocupam com as consequências, para a mesma democracia, de um processo de descredibilização do STF.
Um integrante do governo chegou a afirmar à coluna que Moraes não teria condições de “sobreviver” a uma aliança que estaria se formando contra ele e que juntaria banqueiros e empresários da avenida Faria Lima, órgãos de mídia e setores da direita.
Seria uma briga muito mais dura do que a que ele travou, afirma a mesma pessoa, com um isolado Jair Bolsonaro e com militares igualmente desarticulados de centros de poder.
Integrantes do mercado financeiro seguem dispostos a manter a pressão sobre o STF para que o dono do Master, Daniel Vorcaro, seja responsabilizado pelas irregularidades que estão sendo investigadas. Um deles afirmou à coluna que a ideia não é “derrubar o Alexandre”, mas sim impedir que as apurações sobre o Master terminem “em pizza”.
Integrantes da Corte se dividem: alguns disseram à coluna acreditar que a crise é passageira e que Moraes está sendo vítima de uma narrativa falsa —a de que tentou interferir em favor do Master junto ao Banco Central. Não haveria qualquer prova de que isso ocorreu, e as reportagens não se sustentariam.
Outros magistrados afirmaram à coluna que o ministro merece apoio e está sendo atacado por suas qualidades. Apesar disso, avaliam que ele deveria ter reagido com maior veemência às publicações que o acusam de agir em favor do Master, detalhando também as atividades do escritório de Viviane de Moraes em defesa do banco para que sobre elas não pairasse qualquer dúvida.
Leia menos






















