Por Aldo Paes Barreto*
A opção pelo voto impresso não é novidade. Era a forma defendida pelos grandes senhores de votos até o advento da tecnologia de informação, das urnas eletrônicas.
Ainda hoje estão vivas, na memória dos mais antigos, as histórias que circulam por esse Brasil aforam tendo como personagem o coronel Chico Heráclio, Senhor de Varjadas, dono de votos, de gado e de gente no município pernambucano de Limoeiro, onde casava e batizava com igual fervor. Francisco Heráclio do Rego viveu intensamente e morreu aos 89 anos, em 1974.
Leia maisHistórias e versões inúmeras, fatos poucos, o coronel era dos últimos representantes da Guarda Nacional. Político destemido, capaz de dobrar governantes fazendo prevalecer sua vontade, sem nunca ter exercido mandato parlamentar, o coronel elegia seus próprios representantes.
Uma história famosa teve testemunho de inúmeros eleitores limoeirenses, que naquela época seriam em maior número do que os próprios viventes do lugar. E explica-se: muitos deles tinham dois ou três títulos, todos cativos dos indicados pelo coronel. Fiscalizar votos e vontades nem pensar. As cédulas eram impressas, individuais, uma para cada candidato, colocadas num envelope e depositadas na urna.
Senhor dos votos, Chico Heráclio trabalhava na véspera, colocando nos envelopes as cédulas com seus indicados: deputado estadual, Antônio Heráclio; federal, Francisquinho Heráclio; governador, Miguel Arraes.
Dia de eleição de 1962, Limoeiro fervilhava e a movimentação maior era sempre na fazenda-sede das terras do coronel, distante poucos quilômetros do centro da cidade. A fila de eleitores serpenteava pelo pátio da Casa-Grande, enquanto o coronel distribuía recomendação e envelopes com os nomes dos seus indicados. Dali até as urnas, ninguém tinha o direito de abrir o envelope, fazer perguntas ou mudar de itinerário. Eram votos absolutamente seguros. Impressos.
Naquele dia, porém, já no fim da fila, surge um “amarelinho metido a besta”, no dizer do coronel, que queria saber em quem iria votar. Era um despautério. Nem chegou a abrir o envelope, contido pelo vozeirão do coronel:
– Que é isso, atrevido? Vosmecê não sabe que o voto é secreto?
*Jornalista
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