Há pouco, numa crônica, fiz referência a um dos meus irmãos, Marcelo, pegado comigo na infância e adolescência em Afogados da Ingazeira. Hoje, acordei ao som de uma retreta pelas ruas da cidade, obra de outro irmão, Augusto Martins. Seu sobrenome, que ele não incluiu na carreira pública, é Severo, do meu avô materno, enquanto o Augusto é de meu avô paterno.
Augusto foi vereador por cinco mandatos, vice-prefeito por dois mandatos e atualmente é secretário de Cultura e Esportes de Afogados da Ingazeira. Nunca imaginou entrar na política, certamente por herdar, na junção dos nomes dos dois avôs, a personalidade dura e implacável de Severo, pai de minha mãe Margarida, e a capacidade de se indignar do avô Augusto, pai do meu pai Gastão.
Leia maisPara ele, o ingresso na vida pública foi quase uma imposição de papai, que queria um sucessor na política – por ironia do destino papai, como Augusto, foi vereador e vice-prefeito. Na política, os sonhos de papai se perpetuaram em Augusto, enquanto na literatura se deram em torno de mim – papai escreveu três livros, dois deles retratando personagens da nossa terra natal.
A retreta, objeto deste texto, foi resgatada por Augusto, agora na condição de secretário de Cultura. Como na música de Chico Buarque, a banda, que trouxe os acordes da retreta nesta manhã, não se constitui apenas uma evocação e uma saudade. É uma instituição, um símbolo, a alegria e a lágrima também de saudade do povo.
Retreta a gente escuta de olhos fechados, no escuro e no silêncio do quarto. E se emociona abrindo a janela de casa, com o passar da banda pelas ruas desertas e silenciosas. Bem que poderia ser uma cantiga de ninar, música da infância, da terra, que me acompanhou pela vida afora. Com a sua marca, para mim a retreta sempre soou muito peculiar, com meus ouvidos bem abertos.
Nas alvoradas festivas, quando garoto em Afogados da Ingazeira, o silêncio da manhã era quebrado por um dobrado. Bandas musicais, como as que ainda se mantêm vivas em minha terra, com tanta gente talentosa, a exemplo do meu amigo Chagas, múltiplo artista, são verdadeiros tesouros.
Quando passei em frente à igreja, logo cedo, no périplo da minha corridinha, lá estava a banda municipal, lá estava Chagas e tantos talentos, só a espera da missa acabar para executar belos dobrados.
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