Há muito, não ia ao Vale do Catimbau, santuário ecológico sagrado no Sertão pernambucano, transformado em parque nacional. A porta de entrada é o município de Buíque, a cidade em que Graciliano Ramos, um dos principais escritores modernistas brasileiros, passou o início da sua vida.
Sobre esta parte fundamental da sua história, escreveu o livro “Infância”, no qual se destaca esse trecho abaixo:
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“Buíque tinha a aparência de um corpo aleijado: o largo da Feira formava o tronco; a rua da Pedra e a rua da Palha serviam de pernas, uma quase estirada, a outra curva, dando um passo, galgando um monte; a rua da Cruz, onde ficava o cemitério velho, constituía o braço único, levantado; e a cabeça era a igreja, de torre fina, povoada de corujas”.
Para adentrar no Catimbau é necessário ter a companhia de um guia. Nosso grupo – minha Nayla Valença, sua mãe Ivete e a netinha Maria Heloísa, além do meu irmão Augusto Martins e sua Socorro – tivemos a sorte de pegar um profissional excelente: Ailton Torres.

Ele nos levou a quatro trilhas maravilhosas, começando pela que tem expostas a olho nu inscrições rupestres feitas por homens nômades há seis mil anos. Depois, nos levou na Casa de Farinha, na Igrejinha e, por fim, no mirante do Chapadão.
Nascido e criado no Catimbau, Ailton nos deu uma lição de história sobre todas as trilhas percorridas, contando detalhes, inclusive, sobre as cenas gravadas no local para a novela Mar do Sertão, recentemente exibida pela Globo.

No limite entre o Agreste e o Sertão pernambucano, o Vale do Catimbau descortina uma paisagem insólita, repleta de grutas com pinturas rupestres e grandes porções de caatinga. Ao longo de sua existência, os seres humanos de diversas civilizações deixaram rastros de sua passagem no planeta, como pinturas rupestres, artefatos e diferentes expressões de sua imaginação.
Eles decidiram transcender o limite que o tempo impõe. Percorrer as trilhas do Catimbau é uma aventura e tanto: cenário de tramas instigantes da história brasileira, pano de fundo de importantes filmes do cinema nacional, palco de batalhas do cangaço e, há pouco, tema de novela do horário nobre.

É preciso abrir bem os olhos para o deslumbre da beleza que se descortina a cada trilha. O Parque do Catimbau ostenta inúmeros paredões de arenito e formações rochosas esculpidas pela ação erosiva do vento que podem ser avistadas de diferentes mirantes.
Também conhecido como Parque Nacional do Vale do Catimbau, foi criado em 2002, sendo considerado o segundo maior parque arqueológico do Brasil. É composto por imensos paredões de rocha arenítica que apresentam formas únicas e escondem um intenso misticismo.

Todo o Vale concentra diversos sítios arqueológicos, grutas, cemitérios pré-históricos e pinturas rupestres com mais de seis mil anos. Possui dezenas de trilhas, de leves a moderadas, e proporcionam contemplação de grandes horizontes do agreste pernambucano.
No caminho, com um bom guia, como Ailton, é possível receber verdadeiras aulas sobre o semiárido, a caatinga, as rochas de arenito, a arqueologia, os melhores points para escalada por ali e até lições cotidianas sobre como aproveitar o mandacaru para alimentar o gado, quais plantas são importantes para as abelhas e para os morcegos, o que poderíamos comer e de quais plantas deveríamos passar longe.
No percurso, aprendemos não apenas sobre os aspectos biológicos e geográficos daquele recanto, mas também sobre episódios históricos instigantes, como a passagem de Lampião e Maria Bonita por aquelas terras, as histórias sobre as batalhas do cangaço que aconteceram ali e os bastidores de produções cinematográficas como Árido Movie, dirigida por Lírio Ferreira e protagonizada pelo talentoso Selton Mello.
A paisagem do Vale é dura, bonita e um tanto sinistra. Ao mesmo tempo que gera um encantamento, é recheada de mistério e rudeza. Nosso percurso foi encerrado no mirante do Chapadão, onde os turistas chegam com máquinas e equipamentos de filmagens potentes para documentar o lindo pôr do sol.
É um cenário arrebatador, facilmente acessível por um caminho que nos leva ao topo de um planalto em forma de ferradura e que abraça uma enorme planície coberta pela caatinga.
Do alto, se ouve não apenas o som do vento, mas também dos sininhos das cabras que se alimentam. Uma experiência mágica para a visão e a audição.

Quanto à estrutura de serviços, o Vale ainda é muito precário, mas para refeições uma pedida é o restaurante Sabor do Vale, na zona rural, a cerca de 2 km do centro. O ambiente é muito aconchegante, tem até redes para uma soneca e a comida é boa. Detalhe: a cerveja sai estupendidamente gelada.
Serviço
Como chegar: Do centro de Buíque, siga pela PE-280, conhecida como Estrada do Catimbau, até a Vila do Catimbau. No centro da Vila, você encontra opções de hospedagem e a Associação de Guias locais.
Contato do nosso guia: (87) 9.9927-6252 – Ailton Torres
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