Por Antonio Lavareda
Hoje completam-se 30 anos da entrada em circulação do Real, o momento decisivo do Plano de mesmo nome, elaborado por um time de economistas brilhantes coordenados por FHC, que construiu com talento e rara habilidade as condições políticas para sua implementação. Comemoro a data:
1 – Resgatando a edição do OBSERVATÓRIO FEBRABAN de dezembro do ano passado, dedicada ao registro das percepções atuais e atitudes dos brasileiros em relação ao Real (https://antoniolavareda.com/2024/07/01/aos-30-anos-plano-real-e-aprovado-pelos-brasileiros-mas-a-inflacao-continua-preocupando/).
Leia mais2 – Recuperando trecho de um livro publicado em 2009, onde conto um episódio ocorrido exatamente no dia 1º de julho de 1994, bem antes do início da campanha presidencial daquele ano.
No dia 1º de julho de 1994, perto de uma hora da tarde, entrei no gabinete de Sérgio Motta, que era, à época, o secretário-geral do PSDB, no comitê da campanha de Fernando Henrique Cardoso, em Brasília. Levava na mão os resultados de pesquisas feitas com amostras específicas, naquela manhã, em quatro capitais – São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Recife. Sorrindo, disse a ele que a eleição, para mim, “já havia terminado”. Ele levou demasiado a sério o comentário e me fez jurar que não repetiria a ninguém “dentro ou fora da campanha”, preocupado com a possibilidade de relaxamento dos ânimos da tropa”.
As pesquisas telefônicas flash foram realizadas na manhã daquele dia para coincidirem com a entrada em circulação da nova moeda, o real. Muitas pessoas estavam trocando por ela seus cruzeiros (a antiga moeda), e a mídia estava totalmente focada no assunto havia uma semana. Era a notícia de jornais, rádios, e noticiários de TV. Ou seja, materializava-se naquele instante a principal expectativa do plano econômico criado pelo ex-ministro da Fazenda.
Como vimos antes, comentando a pesquisa qualitativa sobre a imagem inicial de Fernando Henrique, a partir do lançamento da moeda, aumentaria o contingente de otimistas, alimentando-se da conversão dos que se haviam mantido céticos, cautelosos. No lado oposto, haveria a redução progressiva e substancial do bloco dos críticos e pessimistas, segmento ao qual terminaria reduzido o apelo da campanha de Lula, que apostara e continuaria apostando até a eleição no insucesso do plano.
Nas quatro capitais, os números confirmaram a hipótese. Embora Lula estivesse à frente nas perguntas tradicionais de intenção de voto, quando associado ao futuro comportamento do eleitor ao desenrolar dos efeitos do plano, as respostas já sinalizavam claramente o que viria a ocorrer: se a inflação caísse, ganhava o criador do real.
Antonio Lavareda é sociólogo, cientista político e presidente do Conselho Científico do IPESPE
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