Por Mauro Ferreira Lima*
A guerra na Ucrânia caminha para um ponto de exaustão. Depois de quase três anos de conflito intenso, o país enfrenta desgaste humano, econômico e militar. A União Europeia, por sua vez, demonstra limites crescentes para manter o financiamento contínuo da resistência ucraniana — especialmente diante da retração do apoio norte-americano.
A Rússia também dá sinais de cansaço, embora em menor escala. Ainda que disponha de uma estrutura militar e econômica mais robusta, o impacto da guerra começa a ser percebido internamente. A inflação anual próxima de 8% pressiona o regime, enquanto ataques ucranianos a pontos estratégicos de logística energética vêm reduzindo receitas vitais de petróleo e gás. Tal quadro, pouco discutido pelo Kremlin, ameaça gradualmente a estabilidade política de Vladimir Putin.
Leia maisAs consequências desse impasse são complexas, mas não imprevisíveis. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump tenta se reposicionar como artífice de acordos de paz — embora seu discurso ainda seja visto com reservas. Pesquisas recentes apontam queda constante em sua aprovação, às vésperas das eleições legislativas de novembro. Caso sua base não consiga sustentar maioria no Congresso, Trump corre o risco de se tornar, como dizem os americanos, um lame duck — um governante enfraquecido politicamente.
Nesse cenário, ganha força a possibilidade de que Trump pressione por um acordo de cessar-fogo baseado em concessões territoriais da Ucrânia. Especula-se que ele defendaria a cessão de cerca de 20% do território hoje ocupado pela Rússia, em troca de medidas compensatórias:
• transferência de parte dos ativos russos congelados na União Europeia para a reconstrução ucraniana;
• admissão imediata da Ucrânia na OTAN;
• garantia de manutenção das forças armadas ucranianas com o tamanho e orçamento que Kiev considerar necessário.
Essa equação permitiria uma “saída honrosa” para Moscou — ao consolidar o controle das regiões ocupadas — e uma solução “menos pior” para Kiev, que ganharia proteção da OTAN e recursos para reconstrução.
Trata-se, contudo, de uma decisão politicamente duríssima para a Ucrânia. Ainda assim, diante da fadiga do conflito e da pressão internacional, não pode ser totalmente descartada. Uma alternativa seria submeter o acordo a um plebiscito nacional, buscando legitimidade democrática para uma escolha tão dramática.
Resta aguardar o desenrolar dos acontecimentos. O conflito já revela sinais de saturação para ambos os protagonistas, enquanto cria tensões políticas palpáveis nos Estados Unidos. O futuro da guerra — e da segurança europeia — poderá depender da capacidade ou incapacidade de lideranças enfraquecidas em construir uma saída para um impasse que se prolonga perigosamente.
*Economista, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
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