Por Antonio Magalhães*
Qual a semelhança entre Dom Hélder Câmara e o deputado Eduardo Bolsonaro? Na verdade, é uma ação política similar. Um, ícone da esquerda brasileira, outro, filho da maior liderança da direita no País, Jair Bolsonaro. Ambos, diante de tempos difíceis no Brasil, procuraram igualmente ajuda no estrangeiro para conter o ímpeto autoritário do governante de plantão. A busca do apoio de países democráticos contra os avanços ditatoriais se tornou quase uma tradição brasileira em momentos de impasses institucionais do passado e do presente.
Durante o regime militar (1964-1985), o ex-arcebispo de Olinda e Recife viajou constantemente à Europa para denunciar violação dos direitos humanos e perseguição à oposição esquerdista, buscando apoio internacional para a luta pela democracia e justiça social. “Suas viagens e discursos tiveram grande impacto na imprensa internacional, que passou a reconhecê-lo como uma voz importante na resistência contra a ditadura”, de acordo com os registros do Google.
Leia maisA ação de Dom Hélder contra o autoritarismo não ficou barata. Ele foi retaliado pelo governo militar. Censurado na imprensa, que não podia publicar qualquer nota a seu respeito, teve sua casa metralhada por paramilitares e encarou com coragem o assassinato de um auxiliar, o Padre Henrique, morto por essas figuras execráveis.
A Europa foi o grande palco para as denúncias de Dom Hélder. O religioso manteve contato com exilados, deu entrevistas à imprensa, inclusive o jornal britânico The Guardian o chamou de “o mais turbulento dos padres”. Já o The London Times registrou a defesa pelo arcebispo de mudanças imediatas na política para evitar uma “revolução violenta”.
Chegou a ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz, mas a pressão dos militares brasileiros fez a comissão sueca do prêmio desistir de nomeá-lo. Pelos mesmos dados históricos disponíveis, Dom Hélder via a “mobilização popular como única saída para a situação do Brasil, defendendo a necessidade de ensinar o povo a lutar por sua liberdade”.
A história se repete. As vítimas daquele período são as mesmas que agora condenam – por falta de conhecimento ou má fé – a iniciativa do deputado paulista Eduardo Bolsonaro de procurar nos Estados Unidos ajuda para pôr fim às injustiças e ilegalidades cometidas contra o ex-presidente, seu pai, e milhares de brasileiros que sofrem perseguição política e têm seus direitos violados apenas por serem da direita, alvo da destruição promovida pelo Supremo Tribunal Federal e pelo governo de Lula (PT).
No entanto, agora está sendo exposta a conspiração armada pelos ministros da corte suprema, o governo petista e a velha mídia para pressionar apoiadores de Bolsonaro e até prendê-los, mesmo ilegalmente. Incrivelmente, este conluio só tem sido combatido nas redes sociais – outro alvo não alcançado de censura por parte da esquerda – e por jornalistas na esfera digital que botam fé nos princípios democráticos. Noutra frente em defesa da democracia estão jornalistas exilados, que analisam de fora do país o que acontece aqui sem ódio e sem medo.
E novamente a história política se repete. Nos anos 1800, as notícias verdadeiras sobre o Brasil Colônia vinham de fora, como hoje ocorre com boa parte das informações de qualidade. As autoridades da Coroa Portuguesa no Brasil implantaram antes da imprensa a censura nas terras brasileiras, não permitindo a publicação de jornais por aqui.
Quem quebrou o bloqueio da época foi o brasileiro exilado em Londres, Hipólito José da Costa, que passou a publicar em 1808 o mensário “Correio Braziliense”, tido como o primeiro periódico brasileiro, apesar de editado no estrangeiro e enviado para cá. O jornal defendia a liberdade de imprensa, a abolição da escravatura, direitos individuais e até a transferência da Capital, Rio de Janeiro, para o interior do País. Os governantes da época reagiram criando um jornal subsidiado para os press-releases oficiais, “O investigador Portuguez”, que não teve qualquer repercussão, como muitos da velha imprensa são vistos hoje pela população.
Ontem, como hoje, permanecem na história do Brasil situações antidemocráticas e análogas. E como sugeria Dom Hélder no regime militar e defende agora Eduardo Bolsonaro na ditadura togada é preciso a população brasileira se mobilizar para ter seu destino nas mãos, retirando dos autoritários a condução do futuro da Nação. A ação dos dois teve consequência, tanto nos anos passados como agora, punindo violadores de direitos humanos, como a Lei Magnitsky dos Estados Unidos que enquadrou nesta quarta-feira (30/07) o ministro do STF Alexandre de Moraes. É isso.
*Jornalista
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