Do Brasil 247
A repercussão em torno de e-mails ligados a Jeffrey Epstein voltou a pressionar o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em um momento em que a Casa Branca tentava capitalizar politicamente o fim do mais longo shutdown da história recente do país. O material, divulgado por democratas na Câmara dos Deputados, recolocou sob os holofotes antigas dúvidas sobre a relação entre o presidente e o financista condenado.
As informações foram inicialmente publicadas pela Reuters, que detalhou como a nova leva de documentos reacendeu questionamentos sobre o quanto Trump sabia do esquema de abusos atribuídos a Epstein. O governo classificou a divulgação como uma tentativa de desviar o foco da derrota dos democratas na disputa pelo fim da paralisação do governo federal.
Leia maisApesar do esforço da Casa Branca para desqualificar o episódio como parte de uma “campanha difamatória”, o caso expôs uma fragilidade persistente que ameaça contaminar a comunicação do presidente e seu partido às vésperas das eleições legislativas de 2026. Trump já sobreviveu a controvérsias que derrubariam outros líderes políticos, mas o legado de Epstein tem se mostrado um obstáculo recorrente para sua estratégia eleitoral.
Rachaduras no Partido Republicano
Uma parcela dos republicanos mais alinhados a Trump acredita que o governo esconde documentos importantes sobre o financista — que morreu por suicídio na prisão em 2019 — e suas conexões com figuras influentes. Alguns parlamentares conservadores romperam com o presidente ao apoiar, ao lado dos democratas, a divulgação irrestrita dos arquivos, movimento que irritou Trump, que os chamou de “fracos e tolos”.
O estrategista republicano Terry Sullivan afirmou que nunca houve expectativa real de que o assunto desaparecesse. “A esperança era que isso perdesse força e sumisse, e isso nunca aconteceria”, disse Sullivan. Ele destacou a dificuldade de Trump em lidar com o tema: “É impossível provar um negativo. Se ele não sabia de nada, como provar isso?”
Para a estrategista democrata Pia Carusone, sócia da consultoria SKDK, a insistência do caso pode prejudicar o desempenho republicano nas urnas. “A base do MAGA tende a se agarrar a temas internos e amplificá-los”, afirmou. Segundo ela, o presidente está vulnerável devido ao descontentamento de parte de seus apoiadores com a decisão do governo de não divulgar todos os arquivos relacionados a Epstein, alegando questões de privacidade.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos realizada em outubro reforçou o desgaste: embora 9 em cada 10 republicanos aprovem o desempenho geral de Trump, apenas 4 em 10 aprovam a maneira como ele lida com os documentos ligados a Epstein.
Casa Branca tenta conter danos
A porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, reagiu à divulgação dos e-mails: “Democratas e a imprensa tradicional estão desesperados para usar essa farsa como distração para não falar sobre a derrota que sofreram com o presidente Trump no embate sobre o shutdown. Esses e-mails não provam absolutamente nada”, disse.
Mesmo com a tentativa de contenção, o episódio expôs fissuras raras na coalizão republicana. Influenciadores conservadores minimizaram trechos que sugeriam que Epstein acreditava que Trump “sabia sobre as garotas”, destacando mensagens que mostravam o presidente repudiando o comportamento do financista e expulsando-o do clube Mar-a-Lago, na Flórida. Trump nega qualquer conhecimento sobre os abusos atribuídos a Epstein.
Na Câmara, a pressão cresceu. No mesmo dia em que o governo voltou a funcionar, democratas — com apoio de quatro republicanos — conseguiram as assinaturas necessárias para votar um projeto que obriga o Departamento de Justiça a liberar todos os arquivos relacionados ao caso.
Nem mesmo negociações diretas com autoridades de alto escalão da Casa Branca convenceram a deputada Lauren Boebert a retirar seu nome da petição. A republicana Nancy Mace, outra aliada frequente de Trump, também manteve seu apoio. Uma fonte revelou que, ao não conseguir falar diretamente com o presidente, Mace enviou-lhe uma mensagem mencionando sua condição de sobrevivente de agressão sexual.
O episódio expôs a delicada equação que Trump precisa administrar para evitar uma rebelião interna em seu partido às vésperas da nova disputa eleitoral.
Trump rompe silêncio e intensifica confronto
Após dias se esquivando de perguntas, Trump voltou a falar sobre o tema durante voo no Air Force One. “Quando você fala sobre a farsa Epstein, o que acontece é que você deixa de falar sobre o quanto fizemos bem”, afirmou o presidente a jornalistas. “Eles querem desperdiçar o tempo das pessoas, e alguns dos republicanos mais tolos embarcam nisso.”
Horas antes, Trump anunciara que pediria ao Departamento de Justiça uma investigação sobre os vínculos de Epstein com o banco JPMorgan e com democratas influentes. A instituição financeira lamentou sua antiga relação com o financista — cliente entre 1998 e 2013 — e afirmou não ter colaborado para seus “atos hediondos”.
Tanto democratas quanto republicanos avaliam que os últimos dias demonstraram a força duradoura do escândalo e sua capacidade de dominar o noticiário. Para o estrategista republicano Alex Conant, o governo insiste em uma estratégia que produz o efeito contrário: “Não acho que alguém possa dizer que isso foi bem administrado, porque ainda estamos falando disso”, afirmou.
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