Por Jennifer Gularte
Do jornal O Globo
Único representante do Republicanos no primeiro escalão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, diz que não há, no seu partido, uma agenda para a sigla ser agraciada com uma nova pasta. Em meio aos sinais trocados do presidente, o auxiliar afirma que inexiste diálogo entre Lula e legendas do Centrão sobre uma reforma na Esplanada. Correligionário do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Costa Filho avalia ser um erro o colega apoiar a anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro.
O Republicanos tem hoje apenas um ministério no governo. Há espaço para o partido ter mais pastas?
Essa não é a agenda do partido. O presidente (da Câmara) Hugo Motta tem dialogado com o presidente Lula. O Republicanos, neste momento, quer ajudar o governo, quer ajudar o país na pauta econômica. A discussão sobre ter mais ministérios não está colocada dentro do partido. Vejo que o presidente também não colocou essa discussão sobre a reforma ministerial em pauta com os demais partidos que compõem o centro.
Leia maisO presidente Lula ainda não procurou os partidos de centro para falar sobre a reforma?
É isso. O presidente é quem decide. É ele quem tira e nomeia ministro. Observo que até agora não houve nenhum movimento dele de abrir o diálogo com os partidos. O presidente Lula agora quer de fato avançar na agenda Brasil, andar o país e fazer as entregas. Há muita coisa boa para entregar.
O senhor avalia então que a reforma ministerial acabou?
Não. Isso cabe ao presidente.
O presidente do seu partido, Marcos Pereira, disse em entrevista que o governo está sem rumo. O senhor concorda?
Foi uma fala dentro de um contexto. O presidente Marcos Pereira, que é um democrata, alguém que tem espírito público, tem ajudado o país, tem ajudado o governo.
Com Gleisi na articulação política, Lula fez um movimento à esquerda?
Eu discordo. Lula convidou Gleisi por ter confiança. Aquele é um cargo de confiança. Todos os ministros de infraestrutura do governo são ministros do centro, que têm um viés, dialogam com o setor produtivo, dialogam com essa nova agenda econômica mundial, querem trabalhar ao lado de quem produz. Guinada à esquerda seria se ele tivesse feito um avanço na troca de ministros de infraestrutura ou de programas sociais.
Em 2026, é importante o PT se aliar a partidos de centro no Nordeste?
Tenho defendido essa aliança no centro de maneira globalizada, ou seja, no país todo, sobretudo nos estados do Sul e do Sudeste. É preciso que a gente avance ainda mais nessas alianças para poder ampliar o número de deputados federais e, sobretudo, senadores, para que a gente possa trabalhar em 2026 em uma grande frente na eleição dos senadores da República.
O senhor será candidato ao Senado?
Quero agradecer todas as manifestações de apoio para que a gente possa disputar o Senado em 2026 em Pernambuco. Agora, nós vamos deixar para tratar disso na hora certa, no início de 2026.
O Republicanos estará com Lula em 2026?
Tenho respeito pela decisão que o partido venha a tomar. O presidente Marcos Pereira tem colocado para toda a bancada e para mim que 2026 só em 2026. Está muito cedo agora, a hora é de ajudar o Brasil, é de ajudar a aprovar as matérias de interesse do país. Eu, Silvio Costa Filho, estarei ao lado do presidente Lula.
E se o Tarcísio disputar o Planalto em 2026, será um constrangimento para o senhor?
Está cedo. O governador Tarcísio, todas as vezes em que eu estive com ele, tem colocado que é candidato à reeleição no estado de São Paulo. Tem feito um bom governo no estado. Ele vai ter pouco menos de quatro anos à frente da gestão, tem uma bela contribuição ainda a dar ao povo de São Paulo. O candidato dele, e ele disse isso publicamente, é o ex-presidente Bolsonaro, que hoje está inelegível. Mas a sinalização que a gente observa hoje é nessa direção.
Como o senhor vê a atuação de Tarcísio em defesa da anistia dos condenados pelos atos do 8 de Janeiro?
Respeito a posição do governador Tarcísio, tenho por ele muito apreço. Entretanto, discordo dessa pauta que ele defende. Eu acho que esse debate cabe ao Supremo Tribunal Federal, que precisa efetivamente identificar as tipificações de cada pena, daquele que está preso ou que foi denunciado no dia 8 de janeiro. Entendo que ele falou para setores mais bolsonaristas, que têm essa bandeira hoje como uma agenda institucional. Observei que o ato do ex-presidente Bolsonaro (em Copacabana) foi esvaziado. O que se observa claramente é que em nenhum momento foi apresentada uma proposta para o Brasil. O que foi colocado foram críticas e nada de pedagógico e de programático para o país.
Como integrante do governo, o senhor pretende pedir à bancada do seu partido que vote contra o projeto?
Isso é uma questão que compete aos deputados federais que estão exercendo o mandato, naturalmente será conduzido pelo presidente nacional, Marcos Pereira, pelo líder da bancada Gilberto Abramo, e nós vamos respeitar a decisão que a bancada tomar. Tenho a minha posição pessoal, mas nesse momento não estou exercendo o mandato parlamentar.
Há uma crítica de que o governo tem dificuldade de conversar com camadas importantes da população, parte da classe média, empreendedores, evangélicos e o agro. Ainda dá tempo de conquistar esses públicos?
O presidente Lula foi quem mais apoiou e ajudou o segmento evangélico do Brasil. É preciso que o governo possa avançar cada vez mais no diálogo com o segmento. É preciso que o presidente Lula coloque essa discussão também na ordem do dia, até porque o governo não apresentou ao Brasil nenhuma pauta de costumes. É preciso que o governo comece a quebrar preconceitos e apresentar de fato efetivamente o que tem feito ao Brasil. O governo precisa ao longo do ano de 2025 poder se comunicar mais com esse novo mercado de trabalho, com micro e pequeno empresário. Isso precisa ser tratado pelo próprio governo, mas eu tenho muita confiança de que as ações estão sendo tomadas.
Pesquisa Quaest mostra queda da aprovação de Lula no Nordeste de 67% para 60%. O que o governo precisa fazer?
Minha leitura é que o governo do presidente Lula chegará fortalecido ao final do ano de 2025. Se você pegar a Quaest de 2021 em novembro, Bolsonaro tem uma rejeição em torno de 56%. E isso foi sendo reduzido até o processo eleitoral. O presidente Lula apresentou na Quaest uma reprovação em torno de 50% a 51%. Ou seja, um ano e oito meses antes da eleição. Tem tempo de se recuperar. O governo está melhorando a sua comunicação. O governo vai acelerar a comunicação nos estados. Cada ministro vai começar cada vez mais a andar pelo Brasil, divulgando as boas ações.
Quais setores têm preconceito com o governo?
Setores do mercado. Há um viés ideológico que tem preconceito com o governo, que nós temos que respeitar, é da democracia, mas setores do mercado têm errado muito. Primeiro, em 2023, diziam que o Brasil ia crescer 0,8%. O Brasil cresceu quase 3%. Em 2024, diziam que ia crescer 1,5%. Crescemos quase 3,5%.
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