Do G1 Petrolina
A nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre frutas brasileiras exportadas causou apreensão entre produtores do Vale do São Francisco. A medida, que atinge em cheio as exportações de mangas e uvas, pode gerar prejuízos milionários à região, que vive essencialmente do agronegócio.
As embalagens que já deveriam estar cheias seguem vazias. Máquinas paradas e trabalhadores com pouca atividade. Trabalhando há sete anos na mesma fazenda, Jaciene da Silva teme ser demitida. “Estou um pouco preocupada porque eu dependo, né? Eu fico preocupada porque se a empresa não tem como se manter, então eu vou ter que sair, né?”, diz.
Leia maisAs fazendas estão com a produção no ponto certo para exportar. No entanto, com a indefinição, as contratações temporárias ainda não começaram. Só uma propriedade costuma contratar 700 pessoas por safra. Se nada mudar, esse número será bem menor.
O Vale do São Francisco produz 1,25 milhão de toneladas de manga por ano. Destas, 253 mil toneladas são exportadas, gerando US$ 348 milhões. Só para os EUA são 50 mil toneladas. Com a nova tarifa, a previsão é de queda de até 70% no volume exportado.
“A previsão era enviar 48 mil toneladas. Com a tarifa, isso pode cair para 13 mil. A maior parte vai para o mercado americano, que consome a variedade Tommy Atkins. A Europa não absorve esse tipo e o mercado interno não tem capacidade para tanto volume”, explica Tássio Lustosa, gerente da Valexport.
O tempo também é inimigo. As mangas levam até 30 dias para chegar aos EUA e precisam estar em ponto específico de maturação. “Se a gente esperar, a fruta passa do ponto e perde tempo de prateleira. Já está no limite”, afirma o agrônomo Emerson Costa.
Em uma fazenda em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, a estimativa é de que 700 mil frutas fiquem sem destino externo e precisem ser vendidas no mercado interno. Quem planta uva vive situação parecida. Em 2023, o Vale exportou 13.800 toneladas da fruta para os Estados Unidos. Agora, há risco de superoferta no mercado nacional.
“Redirecionar tudo pressiona os preços aqui dentro. Pode não cobrir nem o custo de produção”, alerta Jailson Lira, presidente da COOPEXVALE.
A tendência é que exportadores de uva também atrasem os envios, como já acontece com a manga. “Se a situação continuar, os produtores não vão arriscar exportar no mesmo período do ano passado. Devem analisar semana a semana e enviar volumes menores”, afirma João Ricardo Lima, pesquisador da Embrapa.
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) defende que frutas sejam retiradas da lista de produtos afetados pela tarifa. Para a associação, exportar para a Europa ou manter as frutas no mercado interno não será viável.
“Pegar essa fruta e mandar para a Europa vai derrubar o preço na Europa, vai ser ruim também. Se deixar no mercado interno, também vai ser ruim. Então, isso nós precisamos resolver à base do diálogo, da prudência, do bom senso, da flexibilidade”, afirma Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas.
Exceções da taxa de 50%
Alguns setores brasileiros conseguiram escapar da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, enquanto outros foram diretamente atingidos pela medida.
O decreto assinado nesta quarta-feira (30) pelo presidente Donald Trump elevou em 40 pontos percentuais a alíquota sobre produtos brasileiros, mas também trouxe uma lista de 700 exceções que beneficiam segmentos estratégicos como o aeronáutico, o energético e parte do agronegócio.
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