Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Na muito boa conversa que o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Capelli, teve com o Correio da Manhã, ontem, ele cunhou uma expressão muito boa para definir a situação política do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Tarcísio é passageiro do seu destino”, disse Capelli.
Ou seja, a essa altura Tarcísio não comanda o seu futuro político-eleitoral. Ele depende inteiramente das definições que o ex-presidente Jair Bolsonaro fará após a sua provável condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Tarcísio tenta herdar o espólio político de Bolsonaro diante da sua situação de inelegibilidade e condenação. Mas Bolsonaro resiste a fazer esse testamento.
Leia maisEnquanto nada nesse sentido acontecer, Tarcísio fica travado. E, da mesma forma, o que vier a fazer também não depende dele. O governador paulista não arrisca um passo do seu futuro político antes de saber se será ou não o candidato do bolsonarismo em 2026.
Por que Bolsonaro resiste em dar esse aval a Tarcísio? Porque sabe que, a partir desse momento, será ultrapassado pelo governador. Tarcísio precisa dos votos dos setores bolsonaristas. Mas, eleito, não precisará de Bolsonaro para governar. Se torna a nova referência da direita.
Já há algum tempo, o país divide-se em três. Uma parte está ligada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outra parte se alinha ao ex-presidente Jair Bolsonaro. E há um terceiro grupo nem-nem: nem Lula nem Bolsonaro. Apostando no apoio do empresariado, Tarcísio poderia arriscar seguir sem Bolsonaro. Mas ele não tem segurança de que consiga a totalidade dos nem-nem. E o mais provável é não conseguir mesmo. Se Bolsonaro negar a ele o aval e indicar um outro ligado à sua família – um de seus filhos, Eduardo ou Flávio, ou sua esposa, Michelle -, o campo conservador se divide. E Tarcísio iria com grande risco de derrota.
O Centrão espera que, ao final, Bolsonaro sinta-se rendido pelos fatos, e, sem saída, aceite a candidatura de Tarcísio de Freitas. Mas Bolsonaro é imprevisível. E as conversas que a Polícia Federal divulgou mostram como haverá forte resistência do seu clã para que faça isso.
Nas conversas, fica clara a oposição de Eduardo Bolsonaro à solução Tarcísio. Fica claro como Eduardo desconfia das intenções de Tarcísio como aliado. Na verdade, o clã Bolsonaro é o maior empecilho para que Tarcísio não tenha trocado o Republicanos pelo PL.
Já há algum tempo, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tenta levar Tarcísio para o seu partido. E não consegue. Recentemente, Eduardo, que ambiciona a vaga, fez chegar a Valdemar a reação de que, entrando Tarcísio no partido por uma porta, ele sairia por outra.
Valdemar afirma que o PL fará o que Bolsonaro decidir. Porque ele é que seria o dono dos votos da direita brasileira. Se a opção do ex-presidente não for Tarcísio, e se ele optar pela confortável reeleição, abre-se uma imprevisível porteira para o voto da direita em 2026.
Leia menos