A votação da reforma tributária mudou o tratamento de políticos bolsonaristas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Se antes ele era o mais cotado a ser ungido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como candidato ao Palácio do Planalto em 2026, sendo parabenizado e elogiado pelos parlamentares do PL, agora, o discurso se tornou outro: eles o enxergam como traidor e questionam a sua lealdade ao ex-chefe do Executivo.
O motivo da mudança de tratamento foi o apoio que Tarcísio deu para a reforma tributária aprovada nesta quinta-feira (6). Na quarta, o governador se encontrou com o ministro Fernando Haddad, onde declarou que concordava em “95%” com o texto. “A gente tem falado que a espinha dorsal da reforma – a tributação sobre base ampla, o princípio do destino, que é fundamental, a transição federativa – sempre teve a concordância de São Paulo”, disse Freitas para jornalistas. As informações são do Estadão.
Leia maisAté mesmo Bolsonaro, que em julho do ano passado indicou Tarcísio para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, não o poupou de críticas. O ex-presidente afirmou que o governador não possui experiência política como os deputados que ali estavam presentes e revelou que também estava “chateado” com a decisão de Tarcísio em apoiar a reforma. “Ontem, muita gente ficou chateada com o Tarcísio, até eu. Mas vamos conversar, pô”, disse o ex-chefe do Executivo na reunião do PL.
De sucessor a vilão
Nas redes sociais, políticos que antes apoiavam Tarcísio e defenderam a sua candidatura ao Governo de São Paulo, agora o criticam publicamente pela articulação feita com o Planalto. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que foi um dos principais apoiadores da campanha de Freitas ao Palácio dos Bandeirantes, ironizou os “95%” que o governador disse aprovar do texto da proposta, dizendo que era “95% contra a reforma tributária do PT”.
Desde a reunião com Haddad, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) está utilizando as suas redes sociais para criticar Tarcísio, questionando a sua lealdade com o ex-presidente. Um fato em comum entre os dois é que ambos eram ministros de Estado de Bolsonaro no início do seu mandato em 2019: Freitas comandava a pasta da Infraestrutura, já Salles, a do Meio Ambiente.
Sem citar o governador, Salles disse em uma postagem na manhã desta sexta que os seus seguidores devem se recordar de quem apoiou o projeto e ironizou os “95%” ditos por Tarcísio com uma palavra de baixo calão. “Com essa reforma meia boca, aprovada a toque de caixa, o Brasil em breve ficará 95% f*****. Gravem bem os nomes de quem ajudou a realizar e viabilizar essa c*****”, afirmou o parlamentar.
Antes da votação da reforma, Salles era só elogios. Após o ex-presidente ser condenado a inelegibilidade, Salles disse para a Jovem Pan que Tarcísio era o sucessor mais provável para liderar a direita política. “Ele é aquele que está em uma melhor posição. Foi colocado nesta posição que ocupa hoje pelo próprio Bolsonaro, com o esforço do Bolsonaro. Foi um candidato que foi levado a cadeira de governador de estado pela direita, pelos conservadores, pelos liberais e pelos bolsonaristas”, disse.
Em um vídeo publicado nas suas redes, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) criticou o mandatário paulista sem citar o seu nome, ao falar de oportunistas que “se sentam primeiro com algozes” com governistas e que “não eram nada” até estarem na cúpula do ex-presidente Bolsonaro. “Oportunistas arrogantes, pensando apenas no espólio do dito morto, querendo repartir os despojos dizendo que a guerra acabou. Querendo ser o sucessor”, classificou.
“Claro que agora, com posição de destaque, de poder e com mandato, sentam primeiro com os algozes, fazem acordos, e só depois vem comunicar o líder, o seu criador. É claro que não tinham dever de sentar com ele antes, mas tinha que ter pelo menos o respeito, a deferência, a cortesia ou, no mínimo, a gratidão”, afirmou o deputado.
Em uma entrevista feita no dia 8 de junho também para a Jovem Pan, onde estava sendo discutida a realização da edição de 2023 da Marcha para Jesus, Feliciano classificou Tarcísio, que esteve presente naquele evento, como um reflexo de Bolsonaro e do conservadorismo “que ainda queima no coração de 58 milhões de brasileiros” que votaram no ex-presidente.
Leia menos