Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
A saída negociada do deputado gaúcho Osmar Terra do MDB é o melhor exemplo da forma como o partido tenta se diferenciar das estratégias das legendas do Centrão, se afastando mais e mais do bolsonarismo. Terra negociou com o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), sua saída mantendo a sua vaga na Câmara.
Como a eleição de deputado é proporcional, na legenda, se alguém troca de partido ele tem o direito de reivindicar a vaga de volta. Baleia não fará isso. Terra seguiu para o PL mantendo-se deputado. No fundo, é um alívio. O partido não quer ter nomes fortemente alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro nos seus quadros. E os últimos episódios desde o tarifaço aceleraram esse processo de afastamento.
Leia maisO MDB posicionou-se em defesa da soberania quando Trump, com adesão entusiasmada de Eduardo Bolsonaro, resolveu agir contra os interesses do país. E condenou a invasão dos plenários da Câmara e do Senado pelos parlamentares da oposição de direita.
Ainda que tenha se tornado mais conservador, é complicado para um partido que é o símbolo da resistência democrática contra a ditadura militar, ficar ao lado de pessoas que promovem ações antidemocráticas e que devem, inclusive ser condenadas por isso.
Um interlocutor dentro do MDB comentou uma razão pragmática que faz com que o partido corra de qualquer possibilidade de adesão a projetos antidemocráticos. “Dentro do atual sistema brasileiro, para quem faz lobby interessa muito manter a democracia”, disse. Sobre esse “fazer lobby” deve-se extrapolar bem a ideia de mera defesa de interesses de segmentos. “Fazer lobby”, no caso, significa a manutenção dos esquemas de liberação de verbas orçamentárias, dos esquemas de poder em torno da nomeação de cargos federais. Com os três poderes hoje desequilibrados, o Congresso ganhou grande força. E não vai querer perder.
No fundo, essa lógica já vem produzindo efeitos mesmo entre políticos mais à direita que o MDB. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), chamou a turma que invadiu os plenários de “Congresso do hospício”. Ciro se beneficia dos mesmos expedientes.
Isso significa que, ampliando o afastamento do bolsonarismo, o MDB cairá nos braços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Não é bem assim. O MDB hoje é diverso. Há estados onde vir a apoiar Lula é algo praticamente impossível, porque fecharia alianças locais.
O próprio Baleia Rossi, no comando do partido, tem dificuldades locais em estreitar a aproximação com o governo Lula e o PT. Sua base eleitoral, a cidade de Ribeirão Preto, é hoje completamente hostil a Lula, seu partido e seu governo. Baleia tem que manter distância.
Assim, a tendência maior é o MDB liberar posições em 2026 conforme os interesses de cada estado. Mas esse interlocutor no partido crava: hoje é mais fácil o MDB vir a apoiar oficialmente Lula do que um candidato como, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
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