O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo (3) que, se o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia não for concluído por falta de consenso entre os blocos, a negociação terá deixado claro que a culpa “não é do Brasil”, e sim do protecionismo de países europeus.
“Se não tiver acordo, paciência, não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar clara é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul”, afirmou Lula em uma entrevista ao fim da Conferência do Clima (COP 28) em Dubai, nos Emirados Árabes. As informações são do G1.
Leia maisMercosul e União Europeia tentam fechar um acordo de livre comércio desde 1999, mas a fase de revisão dos termos segue esbarrando em diversos entraves – entre eles, disputas ambientais e resistências de alguns governos.
O acordo envolve 31 países, e prevê isenção ou redução na cobrança de impostos de importação de bens e serviços produzidos nos dois blocos.
No sábado, também na COP, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse ser contra o acordo de livre comércio – chamado por ele de antiquado e “mal remendado”.
Questionado sobre essas declarações, Lula afirmou que a posição da França já era conhecida – e que, se a Europa decidir não fechar o acordo, deve assumir a responsabilidade pela decisão.
“Primeiro, a posição do nosso companheiro presidente da França é conhecida historicamente. A França sempre foi o país que criou obstáculos no acordo do Mercosul com a União Europeia. Porque a França tem milhares de pequenos produtores e eles querem produzir os seus produtos. É isso”, disse Lula.
“Agora, o que eles não sabem é que nós também temos 4,6 milhões de pequenas propriedades de até 100 hectares que produzem quase 90% do alimento que nós comemos e que são alimentos de qualidade, e que nós também queremos vender”, prosseguiu.
“Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais”, afirmou.
“E nós não somos mais colonizados, nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes que temos coisas para vender, e as coisas que nós temos para vender têm preço. Queremos um certo equilíbrio”, disse ainda o presidente brasileiro.
Sequência de reuniões
Lula vem se reunindo com chefes de outros países para tentar concluir o acordo desde o início do ano. Em pelo menos duas ocasiões, por exemplo, falou sobre o tema com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.
Na COP 28, além de Macron, o presidente brasileiro se reuniu com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com o acordo na pauta. No fim da próxima semana, já de volta ao Brasil, Lula também deve debater o acordo na Cúpula do Mercosul.
“Tive uma grande conversa com a Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Vamos ver como vai acontecer na sexta. Se não der acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo. Agora, o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo”, declarou na entrevista ao fim da COP.
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