Por Antonio Magalhães*
Já é uma tradição no Congresso brasileiro a presença de herdeiros políticos. Mandatos que passam de pais para filhos, netos e até bisnetos. O filhotismo também está presente no Judiciário, onde os herdeiros fazem a festa. Mas, extraordinariamente, pela primeira vez na história do Brasil, há a possibilidade do filho de um ex-mandatário ocupar a Presidência da República. Para tanto, Jair Bolsonaro, num momento difícil, surpreendendo amigos, falsos amigos e inimigos, escolheu seu filho Flávio, senador pelo Rio, para concorrer à Presidência da República. Um político jovem, mas com traquejo no parlamento e conhecimento de gestão pública desde o governo do pai.
Depois da sua condenação e prisão por um suposto golpe de estado, Bolsonaro finalmente delegou para alguém de confiança a continuidade do projeto de nação libertária e próspera que foi tentado no mandato de 2019 a 2022, em meio a pandemia da Covid, ataques da imprensa, perseguição do judiciário e um parlamento majoritariamente hostil. A possibilidade de um Bolsonaro comandar o país novamente é um estímulo para a militância, submetida até então a opções que não geram confiança ou têm compromissos ocultos que não fazem bem aos brasileiros.
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A escolha de Flávio Bolsonaro, portanto, para concorrer pelo campo político da direita, estancou, pelo menos parcialmente, uma disputa fratricida pela indicação do ex-presidente, a maior liderança popular neste segmento. Muitos oportunistas querem seus votos sem um Bolsonaro na chapa. Só o tempo dirá se o senador vai conseguir unir as lideranças da direita em torno do seu nome. A militância já o aprovou e o eleitorado vai se pronunciar na hora oportuna.
E curiosamente, esta é uma herança política diferenciada. Onde o herdeiro é o escolhido para ser atacado por políticos, pela imprensa, pelo empresariado militante do PT e ameaçado por processos judiciais já arquivados ou criados pela cabeça de juízes malvados e comprometidos com o que há de pior no País. Uma herança do pai que quase perdeu a vida e que foi aceita pelo senador como uma tarefa para enfrentar tudo isso pela nação.
Um exemplo similar ao que diz a Bíblia na passagem da vida de Abraão, que foi instruído por Deus a sacrificar seu filho Isaque numa prova de fé relatada em Gênesis 22. Mas, no último instante, um anjo interveio, impedindo o sacrifício e providenciando um carneiro para ser sacrificado no lugar de Isaque. A história é um testemunho da fé inabalável de Abraão e sua disposição em obedecer a Deus, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Um pai, Jair, entrega seu filho, Flávio, às feras pelo bem do Brasil.
Sem sacrifícios e muitas benesses, os herdeiros políticos em geral, como relata a Revista Oeste, estão em todos os partidos, e em todos os Estados e municípios, escancarando a antiga tradição brasileira das dinastias políticas e feudos eleitorais, que se perpetuam praticamente desde as capitanias hereditárias.
“Trata-se de uma característica estrutural que impede a modernização do país, por estimular o nepotismo e o patrimonialismo. Estamos falando sobre as famílias que mandam há anos no Brasil e que fizeram da política um negócio lucrativo. São duas práticas que, além de fomentar a desigualdade, impossibilitam uma gestão pública eficiente, visto que grande parte dos cargos administrativos terminam sendo preenchidos por meio desse mecanismo, por laços de compadrio”, revela a publicação digital.
São laços antigos das capitanias políticas, como os Arraes/Campos, os Lyra e os Coelho de Pernambuco, os Calheiros de Alagoas, os Cunha Lima da Paraíba, os Gomes do Ceará, os Marinho e os Alves do Rio Grande do Norte, os Sarney do Maranhão, os Barbalho do Pará, os Magalhães da Bahia, os Neves em Minas Gerais, uma linhagem que agiu mais em benefício próprio, esquecendo o Brasil. Coisas tortas da vida. É isso.
*Jornalista
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