Por Joel de Holanda Cordeiro
Oh, Colégio Americano Batista!
Oh, querido e saudoso CAB!
O que fizeram de ti, venerando senhor de 119 anos, tantas ilustres autoridades que tinham por dever te preservar?
Por que não honraram tua maravilhosa história na formação de gerações inteiras de inquietos jovens, cheios de sonhos e ávidos por conquistas?
Leia maisPor que deixaram virar cinzas o belo sonho, acalentado por tantos anos por teus professores, alunos e ex-alunos, de te transformar na primeira Universidade Batista do Norte e Nordeste?
Antes, eras farol, lâmpada, bússola – guia seguro para uma juventude radiante, transbordante de ideais e esperança.
Hoje, vives na solidão do teu abandono, tendo como única companhia o tempo – esse escultor implacável de ruínas.
Antes, acolhias em teu seio estudantes, moças e rapazes vindos de todas as classes sociais, procedentes principalmente do Nordeste e do Norte.
Hoje, com pesar, serves de abrigo para drogados, marginais, miseráveis e, mais recentemente, militantes políticos.
Ah, como dói ver tão radical mudança na população que agora habita teu aprazível sítio, sempre protegido pela sombra de velhas mangueiras, jaqueiras, jambeiros, sapotizeiros e coqueiros…
Cadê aqueles rapazes queimados de sol, correndo atrás da bola nos teus campos sempre tão verdes, ou forjando músculos nos teus equipamentos de ginástica?
Cadê as belas meninas de saia grená, blusa e meias brancas, sempre carregadas de livros?
Em que lugar se encontram as lindas rosas em botão que enfeitavam teus longos corredores, a trocar confidências sobre paqueras ou o desabrochar do primeiro amor?
Onde está o temido professor Barbosa, com sua voz estridente, tangendo os alunos retardatários do recreio para as salas de aula?
Onde está a voz firme, cortante como lâmina, do severo professor de Português, Octaciano Accioly?
E a voz cansada do professor de Latim, André Miranda, cobrando sempre os pronomes relativos “qui, quae, quod”?
Onde está a voz miúda – como seu minguado corpo – do espirituoso e competente professor de Matemática, Dr. José Amorim?
E a voz quase inaudível do elegante professor de Química, Dr. Arnaldo Figueiredo Poggy, sempre com seu inseparável guarda-chuva?
Onde estará a voz do temido professor de Física e Matemática, Sidrack de Hollanda, meu querido irmão, sempre alvo das espirituosas pegadinhas dos seus irreverentes alunos?
Por onde andará a voz meiga e aveludada da bela professora de História, Lucila Corrêa – nosso primeiro e inocente alumbramento de adolescentes encharcados de hormônios?
Onde estão os sons que transbordavam do auditório durante as Lições – momentos dedicados ao canto de hinos religiosos e cívicos, às preleções, orações e apresentações artísticas?
Onde ecoa hoje a voz dura e imponente do diretor do CAB, pastor José Florêncio Rodrigues, que se fazia respeitar com firmeza e autoridade?
E a voz mansa, quase musical, do querido capelão, pastor Albérico de Souza, sempre pronto a esclarecer nossas dúvidas exa nos ensinar caminhos para vencer desafios?
Onde está o som da bela melodia do hino do CAB, que cantávamos com a voz, a alma e o coração, fazendo tremer as vidraças do auditório?
– Nenhuma resposta chega aos meus saudosos e fatigados ouvidos…
Mas eis que, de repente, vejo vir de longe um suave vento balançando as folhas das mangueiras, trazendo consigo o eco do coro do hino que cantávamos:
“Serás, CAB, eternamente o nosso bem,
Oh! CAB, em nossas almas viverás!
Oh! CAB, até a morte e além,
Oh! CAB, teu nome ficará.”
E logo depois, esse vento ameno traz os versos que mais profundamente tocavam meu coração juvenil:
“Disciplina, esforço, estudo,
Pela pátria, tudo, tudo!
Morrer pela pátria é glória,
E o forte, morto na história,
Ressuscita cedo ou tarde,
Enquanto o homem covarde,
Vivo ou na morte alcançado,
Terá o nome execrado.”
O som desse hino atravessa meus ouvidos, faz brotar água dos meus olhos e chorar, de saudade, meu claudicante coração…
E então, o mesmo vento que trouxe a melodia arrepia as folhas de uma frondosa jaqueira faz dançar as palhas de um alto coqueiro, e sobe, sobe… até se perder no azul infinito do céu.
Ah, CAB!
Teu hino diz a verdade: viverás eternamente no coração dos teus ex-alunos!
Dedicado a todos os ex-alunos do CAB, em especial, “in memoriam”, de Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, Sidrack de Hollanda, Zé Dantas e Cléo Nicéas.
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