Debates e seminários têm discutido a importância da ferrovia no trecho Salgueiro-Suape que se encontra paralisado. Mas onde está o dinheiro anunciado para o ramal do porto pernambucano? A fábrica de bilhões de reais de Lula não distribui nada real para a nossa infraestrutura. De nada adianta ministros e a Sudene informarem que a licitação para a obra vai ser aberta. A informação dura apenas alguns dias. Depois é esquecida. Até que seja anunciada nova cotação ou lançada alguma pedra fundamental
Está dito, mas não realizado. É a sina dos pernambucanos que, vez por outra, renovam sua crença no desenvolvimento econômico do Estado apenas a partir de anúncios de projetos estruturadores e grandiosos que, na prática, só vão se concretizar muitos anos depois, a um custo financeiro altíssimo. E eventualmente alguns sequer acontecem. Esses mitos servem, na verdade, para unir eleitores em torno de fantasias de crescimento.
O Estado cresceu, sim. A sua economia, sem dúvida, é muito maior do que no passado. Mas também Pernambuco aumentou sua população. Os problemas sociais e das cidades tomaram uma dimensão inimaginável. Os recursos são escassos e as verbas curtas. E um bocado de coisa ruim persistiu, como uma educação pública de qualidade duvidosa, uma oferta de saúde problemática e uma segurança das ruas fragilizada. Ficamos com pouco feijão e muitos sonhos e pesadelos.
Participei de muitas coberturas jornalísticas nas quais as autoridades federais, estaduais e municipais assinavam convênios, abertura de licitações, lançavam pedras fundamentais e megaprojetos que iam transformar o perfil econômico estadual em pouco tempo, o suposto tempo novo que só chegou, em alguns casos, parcialmente. E se todos os acordos e desembolsos de verbas tivessem acontecido certamente o Estado estaria bem melhor economicamente.
Eu sempre vi com bons olhos o que alguns governadores fizeram. Contudo, a realidade não mudou tanto quanto esperava a população. Não funcionou nem mesmo a boa vontade e a ênfase na industrialização do Estado lançada pelo governador Cid Sampaio com a criação da Coperbo, pioneira no uso do álcool para a produção da borracha sintética. A companhia foi tida nos anos 1950 como o ponto de partida de um novo tempo para Pernambuco. Décadas depois não há mais nada.
Depois de Cid veio Miguel Arraes, enfatizando as ações pró-movimentos sociais. Na sua proposta de trabalho nenhuma explicação de como iria impulsionar a economia do Estado. O golpe militar de 1964 impediu a continuidade de seu governo e de ele dar uma explicação aos pernambucanos sobre o futuro.
O regime militar, que nomeava governantes, mobilizou em Pernambuco o governador Nilo Coelho para asfaltar a rodovia Recife-Petrolina, cidade reduto político dos Coelhos. Ele conseguiu mais votos para sua família, contudo melhorou o acesso ao interior brabo, a 800 km da Capital.
Ainda durante o regime militar surgiu outra suposta salvação da lavoura. O governador Eraldo Gueiros lançou a pedra fundamental em 1974 do Complexo Industrial-Portuário de Suape, no litoral sul do Estado. Foi a esperança para não ser engolido pelo crescimento dos vizinhos Ceará e Bahia. O porto teve a sorte de ser um projeto que recebeu a colaboração de todos os governadores depois de Gueiros. Meio século depois, o aumento das suas atividades está travado pelo desvio da ferrovia Transnordestina em direção ao concorrente Pecém, construído muito depois.
Mas os mitos de Pernambuco não acabaram. Depois do porto montou-se um movimento suprapartidário em defesa de uma refinaria de petróleo em Suape. Foram feitas vigílias e mobilizações junto ao governo Lula da época e só assim foi dada a partida para a obra.
A princípio a Petrobrás criou uma parceria com a petroleira venezuelana PDVSA para a construção com o custo inicial de 4 bilhões de dólares. Hoje, ela já comeu mais de 24 bilhões de dólares e não foi concluída totalmente. No meio do caminho, a Venezuela de Hugo Chávez fugiu da parada e a Petrobras ficou só, permitindo um ataque dos diretores às finanças da empresa com desvio de milhões de reais para financiar o PT, revelado pela Operação Lava Jato. E Pernambuco pouco mudou.
Outro delírio federal foi a implantação do Estaleiro Atlântico Sul em Suape para produção de navios petroleiros a um custo maior do que os comprados lá fora. “Um produto nacional”, defendia Lula na época. Resultado: a planta fabril produziu barcos de péssima qualidade e as finanças da empresa naufragaram por má gestão e desvios. Criou muitos empregos e também, no final, desempregou todos, gerando um problema social para a região.
Mas o entusiasmo dos pernambucanos por grandes projetos não parou. O governo Jarbas Vasconcelos privatizou a distribuidora de energia elétrica, Celpe, contra o discurso da esquerda, para fazer a maior obra da sua gestão: a duplicação da BR-232. Uma estrada federal abandonada por Brasília. A rodovia deu um impulso econômico ao agreste. Funcionou, mas hoje está desprezada, com manutenção precária. Outra grande falha do poder público: falta conservação das obras feitas.
De volta ao papo reto, os pernambucanos não aguentam mais essas promessas de obras que se arrastam ou nunca acontecem. Observam o endividamento do Estado, da Capital, com empréstimos externos que trarão mais dificuldades. Vale pensar grande. Mas ao acreditar em mitos salvadores da nossa economia, só perdemos. O sonho acabou. É isso.
*Jornalista
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