Por Romualda Mirdes de Figueiroa Vieira
Mais uma vez, o noticiário escancara a barbárie que se tornou a rotina escolar. Hoje, no Distrito Federal, um professor de 53 anos foi brutalmente agredido com nove socos por um pai de aluna. O motivo? O docente apenas cumpriu seu papel: advertiu a estudante pelo uso de celular em sala de aula — prática proibida por lei. Inconformada, a aluna levou o caso ao pai, que, tomado por um sentimento distorcido de proteção, transformou a escola em palco de violência.
Infelizmente, esse não é um episódio isolado. Ao longo deste ano, diversos casos semelhantes têm circulado nas redes sociais, revelando uma crise profunda de valores e de autoridade. O que está acontecendo com a nossa sociedade? Onde foi parar o respeito pelo professor — o profissional que forma todas as outras profissões?
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O que vemos é um esvaziamento do sentido de educação como bem coletivo. Muitos pais deixaram de ser parceiros da escola para se tornarem advogados incondicionais dos erros de seus filhos. A palavra do professor perdeu valor. A autoridade pedagógica foi substituída pelo imediatismo, pela arrogância e por uma perigosa crença de que o cliente (ou o filho) está sempre certo.
Mas não se trata apenas de um problema de valores familiares. Há uma omissão gritante do Estado. A violência contra o professor é tratada como um caso qualquer de agressão, quando deveria ser reconhecida como um atentado contra a educação pública. O agressor, neste caso, está solto. E quantos outros sairão impunes amanhã?
Enquanto isso, os professores — já sobrecarregados, mal remunerados e desrespeitados — seguem à mercê de um sistema que não garante proteção nem justiça. O medo, que antes era dos alunos em relação à autoridade do saber, agora se instalou nas salas de aula — mas do lado oposto: é o professor quem teme.
A pergunta que ecoa é dura e urgente: até quando?
Até quando o professor precisará se calar para não apanhar?
Até quando o Estado fingirá que está tudo bem enquanto o pilar da educação desaba?
Até quando aceitaremos que a sala de aula, espaço de conhecimento e diálogo, se transforme em um campo de violência e impunidade?
Valorizar o professor não é apenas falar bonito em datas comemorativas. É garantir condições reais de trabalho, segurança e respeito. Sem isso, a escola pública continuará sendo um espelho da sociedade doente que estamos construindo — uma sociedade que agride quem ensina e absolve quem violenta.
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