O terceiro debate com candidatos à Presidência das eleições 2022 aconteceu ontem, na Rede Globo. O evento foi o último confronto dos presidenciáveis antes das votações para o primeiro turno, no próximo domingo, 2. Marcado por violação das regras, dobradinhas para defesa de ideias em comum e menção constante à corrupção, o debate teve como alvos principais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Padre Kelmon (PTB) protagonizou alguns dos momentos mais tensos do confronto, ao interromper candidatos durante suas respostas e sendo reprimido pelo jornalista William Bonner, mediador do debate. Soraya Thronicke (União Brasil) foi o principal alvo dos ataques de Kelmon. Simone Tebet (MDB) manteve o bom desempenho na defesa de propostas para um eventual governo da emedebista. As informações são do Estadão.
Leia maisCiro Gomes (PDT) seguiu a estratégia de se posicionar contra a polarização, representada por Lula e Bolsonaro. Felipe d’Ávila (Novo) reiterou em diversos momentos suas propostas liberais e a favor da redução da presença do estado.
Lula ganharia debate, não fosse escorregar em pegadinha de ‘padre candidato’
Para a editora da Coluna do Estadão, Mariana Carneiro, o ex-presidente Lula se preparou para o “ataque” no debate da Globo. Na avaliação dela, o petista elaborou perguntas sobre diferentes assuntos de maneira espontânea, rebateu acusações de corrupção, mas caiu em uma pegadinha do ‘padre candidato’, que provocou o ex-presidente. “Como debate na TV é mais briga do que proposta, destacou-se Padre Kelmon (PTB), controverso sacerdote que nesta eleição veste, além de uma roupa estranha, o figurino de linha auxiliar de Jair Bolsonaro (PL). Ele conseguiu tirar Lula do sério no terceiro bloco, quando o programa passava da meia-noite”, afirma.
Debate era só polarização mergulhada em gasolina
A tensão do último debate antes do primeiro turno se transformou em agressões verbais pesadas a partir de uma fagulha, de acordo com Daniel Fernandes, editor e coordenador das Eleições 2022 no Estadão. “Propostas? Muito pouco. O debate era só polarização mergulhada em gasolina”, afirma.
Fernandes observa que Lula e Bolsonaro se tornaram alvos de questionamentos duros de Luiz Felipe d’Avila e Simone Tebet, respectivamente. “O candidato do Novo questionou Lula sobre corrupção, tema que perseguiu o petista em todo o encontro. Tebet, por sua vez, confrontou Bolsonaro com dados – negativos – sobre sua gestão ambiental”, apontou.
Com as discussões entre Kelmon e os outros candidatos, Daniel Fernandes considera que o debate deixou a tensão para se tornar “uma comédia da pior qualidade”, seguida pelo silêncio — ou a tentativa da produção de silenciar os bate-bocas. “A iniciativa (tática?) fez Kelmon ser advertido por Bonner de maneira veemente. Talvez algo inédito na história dos debates presidenciais realizados desde 1989. Bonner, em silêncio, tentava administrar o caos com visível incredulidade. Sua aparente indignação deveria ser a da população, que em vez de possivelmente vibrar nas redes sociais com as brigas, poderia exigir dos candidatos nas ruas mais propostas, mais projetos”, defende.
Clima de vale-tudo pode ampliar desinteresse do eleitor
Colunista do Jogo Político, do Broadcast, Marcelo de Moraes acredita que o cenário de “vale-tudo” pode afetar o resultado das urnas no primeiro turno, aumentando o desinteresse dos eleitores. “Sob o risco de perder a eleição no primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro apostou suas fichas na tentativa de desgastar Luiz Inácio Lula da Silva para impedir a derrota antecipada”, explica.
A estratégia do chefe do executivo foi bombardear o petista com ataques, associando Lula com acusações de corrupção e travando o debate de propostas. “Cada acusação gerou um direito de resposta, que gerou outro direito de resposta, alimentando um bate-boca no lugar da apresentação de propostas, esquecidas ao longo do debate”, observou.
Debate mantém janela aberta para vitória em primeiro turno
Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria e doutor em Ciência Política, acredita que o último confronto entre presidenciáveis mantém aberta a possibilidade de vitória do ex-presidente Lula no primeiro turno. “O petista tem basicamente duas tarefas para conseguir a vitória de oposição em primeiro turno: convencer indecisos e cansados da polarização e especialmente, convencer ao comparecimento eleitoral”, analisa.
Já as opções do presidente Jair Bolsonaro são convencer o eleitorado do desempenho no seu governo ou aumentar a rejeição do petista, para evitar o voto útil. “O debate foi um fiel retrato da campanha presidencial. As alianças tácitas estiveram presentes, com alguma inflexão ideológica”, aponta.
Para Cortez, o debate pouco contribuiu para Bolsonaro reverter a imagem negativa e a rejeição ao seu governo. “O destino da eleição deve passar fundamentalmente pela taxa de comparecimento eleitoral”, conclui.
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