*Por Fábio Alves
Diante da euforia dos investidores no dia seguinte ao primeiro turno das eleições, com o avanço dos partidos conservadores no Congresso e o desempenho melhor do que o esperado do presidente Jair Bolsonaro (PL), uma das conclusões é de que um rali mais consistente nos preços dos ativos brasileiros já está contratado.
Desde o pregão da sexta-feira passada, que antecedeu a votação, o Ibovespa subiu mais de 6 mil pontos. O raciocínio inicial é que, com o Centrão e outros partidos de direita fazendo maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, uma agenda econômica liberal prevalecerá a partir de 2023.
Leia maisPara os investidores, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmar a sua liderança nas urnas no primeiro turno, de cinco pontos porcentuais, e se eleger no segundo turno, a nova composição do Congresso será uma barreira para uma política econômica petista de forte aumento do gasto público e de revisão de reformas já aprovadas, como a trabalhista.
Além disso, se Lula vencer o pleito por uma margem apertada, ele não teria a percepção de “cheque em branco” dos eleitores e, assim, abandonaria as propostas radicais e conduziria sua política econômica mais ao centro.
Se Bolsonaro conseguir reverter a desvantagem atual em relação a Lula e se reeleger, ele terá uma maioria confortável para avançar com uma pauta conservadora de costume e uma agenda econômica mais amigável ao mercado.
Mas quão prematuro é esse otimismo dos investidores para o rumo da economia a partir de 2023 com base no resultado das eleições no primeiro turno? Há, na realidade, alguns riscos que ameaçam jogar água no chope dos investidores.
O primeiro é de uma crise institucional em caso de vitória por uma margem apertada de Lula. Logo após o resultado do primeiro turno, Bolsonaro direcionou suas críticas às pesquisas de intenção de voto, que falharam em captar a onda de apoio à sua candidatura. Mas, se vier a perder no segundo turno, o risco de ele questionar o resultado das urnas não é desprezível.
Outro risco é, em caso de vitória de Lula, o custo da sua governabilidade ainda assim seria bastante elevado diante da nova composição do Congresso. Dificilmente, o PL, o PP e outros partidos do Centrão deixarão de negociar a aprovação de medidas importantes com um novo governo Lula. Mas o preço cobrado será mais salgado.
Por fim, o Centrão nem de longe é um bastião da responsabilidade fiscal. E seu controle mais amplo do Congresso, mesmo com a reeleição de Bolsonaro, não é garantia de céu de brigadeiro para o mercado.
*Colunista do Broadcast Estadão
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