O PSB (Partido Socialista do Brasil) foi a sigla da esquerda que mais elegeu prefeitos em 2024. Com 312 eleitos, a legenda ficou à frente do mais tradicional partido da esquerda brasileira, o PT (252 prefeituras), e de outros menores, como PDT, Rede e PC do B.
O resultado representa um aumento de 24% em relação às prefeituras conquistadas em 2020, quando a sigla emplacou 252 dirigentes em Executivos municipais.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, diz ver uma recuperação da sigla, que perdeu espaço depois da morte do então presidenciável Eduardo Campos, em 2014.
Leia mais“A morte de Eduardo Campos, depois a vitória de [Jair] Bolsonaro e a deterioração política do cenário democrático impactou todos os partidos, principalmente os de esquerda. O PSB tendia a crescer e aí você se depara com um cenário de ameaça à democracia”, afirmou.
Partido do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Empreendedorismo, Márcio França, a legenda tem 14 deputados e três governadores em exercício. No ranking de prefeituras de 2024, ficou na sétima posição. Os primeiros lugares do pódio são ocupados por partidos de direita ou centro-direita, sendo o PSD o grande vencedor, com 887 prefeitos.
O auge do PSB ocorreu em 2012, quando emplacou 444 prefeitos, tornando-se a legenda com maior número de capitais. Nesta época, o partido começou um movimento para lançar candidatura própria à Presidência da República. Em 2013, deixou a base do governo Dilma Rousseff (PT), entregando dois ministérios.
Campos, que na época estava à frente do PSB como presidente, além de governar o estado de Pernambuco, buscou unir o partido em seu plano de candidatura a presidente.
“Sua morte alijou o PSB de sua principal figura, do principal projeto político eleitoral que permitiria ao partido uma projeção nacional que ele não havia conhecido desde a redemocratização. Agora, parece que, com a ascensão de João Campos, o partido recuperou, de certa forma, um norte político mais definido”, afirma o historiador Herbert Anjos, autor do livro “Socialismo e Liberdade – Uma História do PSB”.
Ele diz que, desde os anos 2000, o PSB adotou uma estratégia de crescimento eleitoral que não tinha a questão da afinidade ideológica como central, para ampliar o número de prefeitos e a bancada parlamentar.
A legenda chegou a abrigar figuras conhecidas à direita, como o então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Paulo Skaf e o deputado federal Pastor Isidório, no mesmo momento em que faziam parte da sigla o ex-ministro Roberto Amaral e a deputada federal Luiza Erundina, identificados com a esquerda.
Depois da morte de Campos, a abertura para nomes que não eram alinhados à esquerda no espectro político se ampliou.
Ainda, em votações-chave no Congresso Nacional, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Teto de Gastos, o PL (Projeto de Lei) das terceirizações e o impeachment de Dilma, o PSB votou junto aos partidos situados na centro-direita.
A ascensão de Bolsonaro ao Palácio do Planalto foi uma virada de chave e estimulou o retorno ao alinhamento com partidos como o PT. Nas eleições de 2022, aderiu ao que Lula chamou de “frente ampla”, indicando o vice na chapa, Alckmin, ex-tucano.
“A própria força político-eleitoral de Lula exerceu uma forte influência gravitacional dentro da centro-esquerda da qual o PSB dificilmente poderia escapar. Lula era o único candidato com liderança consolidada e densidade eleitoral para derrotar Bolsonaro”, diz Herbert.
Siqueira afirma que o partido é “independente” e continua a discordar de pautas associadas à esquerda, como a questão da Venezuela.
Ainda, no atual manifesto do partido, há uma crítica aos governos de esquerda que comandaram o Brasil. “Mesmo a esquerda – da qual o PSB é parte- não implementou as reformas estruturais necessárias à transformação da sociedade”, diz o documento.
Um trunfo do partido é o desempenho de quadros novos, como o prefeito do Recife e filho de Eduardo, João Campos, e a deputada federal Tabata Amaral (SP).
João Campos, 31, foi reeleito com uma das maiores votações no país (78,1%), em primeiro turno. Tabata, 31, disputou as eleições em São Paulo, e ficou em quarto lugar – mas conseguiu aumentar sua projeção.
“Acho que na esquerda há uma carência grande de novas lideranças, enquanto prolifera na extrema direita figuras expressivas”, diz Siqueira.
Com o fim do mandato em 2025, Siqueira escolheu João Campos como sucessor. O prefeito é tido como de bom desempenho nas redes sociais, ambiente que costuma ser dominado por figuras da direita como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o ex-candidato a prefeito Pablo Marçal (PRTB).
Para oficializar a transição, João Campos precisa ser aprovado em votação pela Executiva Nacional do PSB, que já tem data para acontecer: 30 e 31 de maio de 2025.
O prefeito diz que o papel do partido daqui para frente é “continuar buscando novos caminhos e alternativas para o enfrentamento de velhos problemas”. Citando como exemplo a namorada Tabata, João Campos diz que a nova geração do PSB representa novas práticas e formas de construir a política.
Para a eleição de 2026, o partido precisará superar um obstáculo: aliados de Lula vão pleitear a vaga de vice na chapa, tirando o espaço hoje de Alckmin. Um dos nomes cotados é o do atual governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB.
Da Folha de São Paulo.
Leia menos