Em discurso proferido hoje, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Álvaro Porto (PSDB), afirmou que o cenário criado pelo governo para área de segurança pública é tão artificial que nem a própria governadora Raquel Lyra (PSD) acredita nele.
O parlamentar lembrou que, na semana passada, após três anos de mandato, a governadora disse estar assumindo a segurança pública, o que indica falta de compromisso da gestão. “Uma declaração desta natureza após 34 meses à frente do Executivo é uma confissão pública da falta de comprometimento da governadora com a segurança”, pontuou.
Leia maisPara o parlamentar, diante do desgoverno que Pernambuco vive na segurança a declaração de Raquel faz total sentido. “A soma dos assassinatos ocorridos nestes três anos e dez meses e meio de gestão, chega a mais 9.570 vítimas no estado. No acumulado de 2025, o total já ultrapassa a alarmante marca de 2.700 vidas perdidas para a criminalidade”, relatou.
O deputado observou também que a inoperância da gestão tem feito Pernambuco aparecer no topo de um ranking dos casos de feminicídio. Em agosto, dados divulgados pelo Instituto Fogo Cruzado indicam que o estado concentra o maior número de casos de feminicídio e tentativa de feminicídio com arma de fogo registrados no país em 2025.
Entre janeiro e agosto, segundo o Fogo Cruzado, foram computados 60 feminicídios no estado, números que representam um aumento de 20% em relação aos oito primeiros meses de 2024. No dia 10 de outubro, Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, entidades sociais denunciaram que Pernambuco registra uma média de 3.450 casos de violência doméstica e familiar por mês, o que equivale a 115 casos por dia.
“Como vemos, este número, desgraçadamente, vem crescendo, o que reflete a fragilidade dos mecanismos preventivos e protetivos estaduais”, observou. O mais triste, na avaliação de Porto, é que esta realidade se instala justamente quando Pernambuco é governado por duas mulheres.
Ele observa que a estrutura posta em funcionamento pelo governo só confirma e colabora para a perpetuação da ineficiência. Mesmo Pernambuco somando 184 municípios, o estado dispõe de apenas 15 Delegacias da Mulher, das quais somente 7 funcionam 24 horas.
“Diante deste quadro, senhoras e senhores, chegamos a uma questão inquietante: como se explica uma gestão que, apesar dos R$ 62 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública investidos em 2024, continua a deixar as mulheres e a população em geral à mercê de assassinatos, agressões, roubos e de toda ordem de perigos oriundos da violência?”, questionou.
O deputado destacou que a distância entre a realidade da propaganda oficial e o quadro de extrema violência que oprime e mata a população é mostrada em outros rankings cruéis liderados pelo estado.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança de 2025, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Pernambuco é o estado com a maior taxa de vítimas de homicídios dolosos do país. Baseando-se em dados de 2024, o anuário informa que foram registradas 3.349 vítimas no estado, o equivalente a 35,1 mortes por 100 mil habitantes.
A taxa do país, conforme o relatório, é de 17,1 mortes por 100 mil habitantes. Ou seja, o índice pernambucano é duas vezes maior do que a taxa nacional. E, infelizmente, pelo que estamos observando o estado continua neste mesmo caminho em 2025.
O anuário também aponta que, em 2024, Pernambuco passou a ocupar a 2ª posição entre as maiores taxas de roubo a estabelecimentos comerciais, sendo superado apenas pelo Amapá.
De acordo com o levantamento, o estado registrou aumento de 19,6% nesses crimes, ficando na contramão da tendência nacional, que reduziu em 24,4% o número de roubos a comércios.
“O compromisso visto até o momento com a segurança tem sido apenas com a espetacularização das cerimônias de nomeações de policiais e de entrega de veículos e armas”, ressaltou.
“Sobram voos de drones, expressões estudadas, frases feitas e vídeos bem-produzidos. Faltam resultados, falta segurança pública. A publicidade e as redes sociais não conseguem esconder a ineficiência que produz medo, luto, sofrimento e dor para quem vive aqui”, completou.
Para o deputado, diante da violência que se vê no estado, não é respeitável a conduta do governo de alardear que os pernambucanos estão tranquilas e colocando cadeiras nas calçadas. “Também não é razoável acelerar nomeações, depois de ter esticado a corda da Polícia Civil a ponto de o delegado-geral da instituição, Renato Márcio Rocha Leite, ter pedido para sair há cerca de 15 dias”.
Ele lembrou que os policiais civis já anunciaram para dezembro a “Operação Cumpra-se a Lei”, uma mobilização que pretende denunciar a precariedade das condições de trabalho e a desumanização e desvalorização da categoria.
Disse ainda que os policiais têm apresentado, em vídeos publicados em redes sociais, delegacias instaladas em prédios deteriorados, funcionando em condições insalubres. E que também fazem vaquinhas para garantir água potável nas delegacias.
“Como se não bastasse este quadro de desrespeito à categoria, os policiais fazem um alerta ainda mais grave: denunciam a inexistência de instrumentos para o registro de crimes, uma realidade que, logicamente, interfere diretamente nos dados de Segurança Pública em Pernambuco. Ou seja, os dados apresentados como oficiais, segundo os próprios policiais, não são confiáveis, uma vez que crimes ocorridos não estão sendo plenamente registrados”, afirmou.
A verdade, segundo Porto, o cotidiano dos cidadãos continua a ser enormemente afetado pela violência e pela ação descontrolada da bandidagem. “O Juntos pela Segurança tem mostrado ser mais um programa de ordem conceitual e menos um instrumento promotor de mudanças e resultados significativos. Enquanto isso, os pernambucanos continuam reféns da violência e do medo de que afetam hábitos, relações, a saúde mental e mais grave: tiram o direito à vida”, arrematou.
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