Por Aldo Paes Barreto*
Alagoano por nascimento, recifense por direito de conquista Aldemar Buarque de Holanda faria um século de profícua existência, este ano. Ele foi muito mais do que se convencionou chamar de multimídia. Radialista, jornalista, escritor, ator, poeta, produtor cultural, Aldemar Paiva se superou na utilização plena dos meios de comunicação, levando o mundinho de então aos mais longínquos, inóspitos e solitários locais nos meados do século passado, onde sequer a eletricidade havia chegado.
Com a magia do rádio ele divertia, informava e educava usando criatividade ímpar que fazia do mais simples aparelho do radinho de pilha palco de conserto, auditórios de conferência, sala de aula prática partilhando sua imensa alegria de viver. E acreditada fonte de notícias.
Leia maisDesde que quando aqui chegou vindo de Maceió, em 1951, para a Rádio Clube, Aldemar Paiva fez o melhor por onde passou e sempre com destaque, cativando colegas e ouvintes, fazendo das emissoras de rádio difusoras de ideias e de fatos, de bem-querer, de afetos e de ternura. Generoso e bem-humorado ele distribuía e dividia conhecimentos e alegria contagiante com os mais longínquos ouvintes e colegas de trabalho.
Dos antigos companheiros, desde os que alcançaram destaque nacional – Chico Anísio, Lúcio Mauro, Arlete Sales, José Santa Cruz, Genival Lacerda, Sivuca, Claudionor Germano, Otávio Santiago – ao mais simples contínuo, não houve um só desses grandes artistas que não tivesse recolhido algum gesto de afeto, um afago de incentivo ou uma palavra de recomendação.
Comandando o maior programa regional em audiência no século passado, no Nordeste – “Pernambuco você é meu” –, Aldemar recebeu convite de um dos mais assíduos ouvintes – o então governador Nilo Coelho – para participar do governo. Polidamente recusou. Mesmo assim, Nilo fez dele, através do prefeito Augusto Lucena, fundador e primeiro presidente da Emetur, a entidade municipal do turismo, hoje transformada em Secretaria. O primeiro ato de Aldemar foi o de pedir à Câmara Municipal que criasse uma lei determinando que todas as emissoras tocassem frevo diariamente. Pelo menos uma vez. Ele queria que o frevo fosse o emblema diário e musical de Pernambuco. Ficou o projeto
Na nova Emetur, destacou-se a ponto do governo do Ceará, logo depois, convidá-lo para fazer o mesmo trabalho na recém-criada Secretaria de Turismo daquele estado. Foi, mas voltou assim que terminou a missão. Pernambuco falou mais alto: Aldemar você é meu. Mas, não esquecia sua Pajuçara. Pelo menos duas vezes por ano, ia rever bairro antigo e os amigos de Maceió. Numa das últimas visitas, reuniu alguns deles no bar de sempre e, entre uma e outra cervejinha, lembrou dos cajus de Santo Amaro. Não existiam mais, disseram os amigos. A expansão imobiliária, as exportações das castanhas, deixavam o fruto de lado e o melhor tira gosto dos boêmios perderam o suco mais ameno, mais saboroso: o caju.
A conversa com os velhos amigos seguia seu curso retalhando saudades, quando ouviram um vendedor ambulante anunciando: “Caju… Caju de Santo Amaro”. Aldemar, lembrava depois, não acreditou. Todos correram para a porta do bar, identificaram de onde via aquele bordão familiar e gritaram pelo vendedor, um garoto carregando o cesto carregado do fruto famoso. Balaio no chão, dinheiro na mão, a melhor cachaça Gogó da Ema Reserva sendo servida em copo americano. Não sobrou um caju.
E foi tanta a nostalgia, tanta avidez dos velhos boêmios – relembrava Aldemar – que chuparam até o menino.
*Jornalista
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